| |
The Beatles
O Que os Beatles Realmente Disseram Sobre Let It Be
Por Carlos D.Ribeiro
Lançado há 35 anos atrás, quando o mundo todo começava a viver o clima pós-Beatles, o disco Let It Be, lançado no ano dos primeiros discos solo, quase se tornou um desses álbum renegados. Não porque eles não tivessem realmente gostado do resultado, mas pelas polêmicas, e por que precipitou a oficialização da separação. Paul já estava cansado das negativas de John e interferências de Yoko nos projetos (foi ele que impediu o lançamento de You Know my Name como compacto da Plastic Ono Band, que se tornou lado B do single), a ponto de chutar o pau da barraca com a entrevista e seu álbum solo, lançado quase simultaneamente.
Mas, tenham os quatro rapazes, ou Paul em particular, gostado um tanto e desgostado aqui e ali (sabemos como eles eram: se não fosse bom, não saía e pronto. Tinham uma imagem pra zelar e fizeram três versões até se darem por vencidos) o que passou a história foi que "nenhum dos Beatles gostou do resultado" como estampou uma revista semanal por ocasião do Naked, dois anos atrás. Sem dúvida um extremo exagero. Deixemos os mitos de opinião de lado e vejamos o que os envolvidos disseram na época, de modo a lançar nova luz sobre a questão:
GEORGE HARRISON
"Dizem que Paul não queria Phil Spector envolvido, ou não o queria fazendo overdubbing de orquestra em The Long and Winding Road. Mas eu, pessoalmente, achei que era uma grande idéia".
JOHN LENNON
"Phil sempre desejara trabalhar com os Beatles e recebeu uma mísera fração das sessões mal gravadas, e ele fez algo com isso. Ele realizou um grande trabalho".
GEORGE MARTIN
"Let it Be apenas foi lançado, quando o foi, porque John pediu a Phil Spector que trabalhasse nele".
PAUL MCCARTNEY
"Billy Preston foi brilhante. Ele apareceu em Londres e todos dissemos: Ah, genial! Vamos trazê-lo para tocar em algumas. Aí ele começou a participar das sessões, porque era realmente um velho chapa. Ele tocou muito e todos nos divertimos à beça, e no final acabou funcionando muito bem".
Feito o balanço, parece que a opinião e o desagrado de Paul em relação a uma única música (que fez Ray Charles chorar quando ouviu pela primeira vez) foi aumentado em tamanhas proporções que se tornou uma dessas opiniões falsas que ganham foros de verdade, a ponto de na época do Naked chamarem o disco como "Do jeito de Paul" - mesmo contando com Phil Spector, que foi idéia de John - e que "nenhum dos Beatles gostou do resultado" na mais famosa e antiga revista semanal brasileira. Ora, eles podem ter ficado chateados na época, pelos fatos que cercaram o álbum e a separação, mas as opiniões mais ponderadas já tinham saído no livro Anthology para quem quisesse consultar.
O disco LET IT BE não poderia mesmo, para qualquer efeito, ser comparado a um álbum normal, pois foi concebido como trilha sonora de um filme-documentário. Exclusiva e de uma qualidade que poucas trilhas sonoras possuem. Uma continuação do Álbum Branco, inclusive nas relações entre eles: Yoko, a dominância de Paul (bem, bandas, como peças, orquestras e filmes, neste ou naquele momento alguém tem que assumir a direção). Deram-se ao luxo de fazer um documentário não com músicas de sucesso mas com novas músicas.
Mas GET BACK, essa peça tão stoniana (quem estartou os rolantes com I wanna be your man - não não era só quero pegar sua mão, como reza outro clichê vitorioso - tinha o direito de encerrar a discografia com essa...). Get Back apresenta solo de piano elétrico de Billy Preston, havendo também uma versão pirata com solo de órgão hammond. Não agrada a guitar-freaks e gente que não concebe música se não for debulhada em todo canto da harmonia por uma guitarra-cicerone-líder ou feedback, ou "cama", ou o que seja, mas ficou chique, sofisticada, aliás como todo o album. Levantar a história e a realidade dos fatos é mesmo complicado, mesmo num grupo teoricamente tão ouvido e de história transparente e disponível como os Beatles. A maior parte das opiniões acima foi retirada do livro Antholoy recentemente lançado no Brasil, como disse, e não vejo porque trocá-las pelo que passou a fazer parte da história oficial. E porque falar de Let it Be DE NOVO? Porque como qualquer outro dos Beatles é Forever.
|
|
| |
|