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The Beatles
As Melhores Versões
As possíveis melhores versões das músicas dos Beatles, por outros artistas e gêneros musicais
Marcelo Sanches
Pode-se afirmar, sem possibilidade de erro, que os Beatles estão entre os compositores que mais tiveram suas canções gravadas por outros artistas, sejam eles da área da música popular, ou até mesmo do jazz e da música erudita, sem distinções, e pelos quatro cantos deste planeta. Não seria surpresa se um dia, ao passear por uma aldeia esquecida do sul do Afeganistão, encontrássemos um músico nativo fazendo sua versão pessoal de Let It Be ou A Hard Day's Night com ingredientes da música criada naquela tão sofrida região...
Há um número incalculável de discos inteiros lançados com covers do grupo desde 1964, quando os Fabs explodiram mundialmente. Refiro-me, naturalmente, àqueles que conhecemos, sem contar com os gravados por artistas independentes e também com versões esporádicas incluídas em discos normais de carreira de vários astros da música em geral. Não conheço um só gênero que tenha desprezado a música de Lennon & Mccartney & Harrison: jazz, jazz-rock, tango, samba, bossa nova, blues, chorinho, música renascentista, clássica/romântica, new-age, brega, etc, enfim, uma infinidade de versões e arranjos que, na maior parte das vezes, acabou por produzir trabalhos pobres e sem muita originalidade, já que os Beatles gravaram versões definitivas de suas músicas, fazendo com que muitos músicos simplesmente tentassem reproduzir pálida e mediocremente seus arranjos inigualáveis. Eu, pessoalmente, sempre vou preferir as versões dos compositores, por motivos meramente afetivos, mas existem muitas interpretações preciosas das canções dos Fabs que merecem menção honrosa por suas características ousadas e inovadoras, que em alguns casos imprimiram nestas maravilhosas melodias possibilidades muito mais extensas e enriquecedoras do que John, Paul, George e Ringo, na sua técnica musical mais limitada de músicos de rock, não tiveram condições de faze-lo em algumas gravações.
Portanto, vou traçar a seguir uma relação de discos que tenho em minha coleção e que considero essenciais na discoteca de qualquer beatlemaníaco que se preze. Quero também que o leitor do site também tome a liberdade de me sugerir gravações que considere interessantes, já que, óbvio, não conheço nem um terço do material que deve existir por aí. Vamos então classificar estes discos por gêneros e não cronologicamente.
Beatles pelos brasileiros: Samba, MPB e Chorinho
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Há muitas atrocidades cometidas em nome dos Beatles no Brasil, principalmente algumas versões da época da jovem guarda, quando as letras ganharam conotações e significados completamente diferentes dos originais e os arranjos eram ridículos, beirando uma pobreza insuportável. Mas há também muitos ótimos lançamentos, principalmente a partir dos anos 70. Antes de citar os títulos lançados oficialmente, tenho que lembrar os leitores do site que em 1977 os grupos O Terço e Mutantes (este último então era liderado pelo único membro original, Sérgio Dias) fizeram uma turnê juntos pelas grandes cidades do país reproduzindo exclusivamente as músicas dos Beatles. Nunca ouvi uma sequer destas versões, mas imagino que, pelo bom gosto dos músicos e por seu histórico, esse material deva ser fantástico. O depoimento de pessoas que assistiram à esses shows confirma essa impressão. Pena que nada exista (eu acho) disponível no mercado. Mas vamos à lista...
Nonato Toca Beatles (Kuarup Discos, 2000)
Excelente CD gravado pelo violonista cearense Nonato Luiz, que com seu virtuosismo e eficiência faz releituras maravilhosas de clássicos como With A Little Help From My Friends, Blackbird, While My Guitar Gently Weeps e Piggies, num total de 14 faixas (ele encerra o disco com The End, numa rara interpretação da faixa que finaliza o Abbey Road). Aqui, a brasilidade do violão de Nonato encontra a melodiosidade beatle em roupagens que nos remetem à erudição de Villa Lobos e aos encantos do baião, do choro e do samba-canção. Imperdível.
Beatles'n'Choro vols. 1 & 2 (Dekdiscos, 2002 e 2003)
Para quem gosta de chorinho, um prato cheio. Interessantes e animadas versões de especialistas como Carlos Malta, Rildo Hora, Quarteto Maogani e Hamilton de Holanda, entre outros, para Help, For No One, The Long And Winding Road e When I'm Sixty Four e demais clássicos. Um trabalho que teve origem numa sugestão feita, anos atrás, por Renato Russo.
Mpbeatles (Universal, 2002)
Coletânea organizada pela Universal Music, buscando reunir gravações de seu acervo feitas pelos artistas da casa desde os anos 60. Os destaques ficam para a raríssima versão de Lady Maddona com Os Mutantes, de 1968, e também para Eleanor Rigby e Woman Is The Nigger Of The World (esta última da carreira solo de Lennon) na voz de Cássia Eller. Há também Caetano Veloso (For No One), Gilberto Gil (Sgt. Pepper's, numa longa e às vezes displicente versão), And I Love Her (Rita Lee em 1970) e uma maravilhosa Oh! Darling com Rosa Maria. Para finalizar, uma rara versão para Love Comes To Everyone, de Harrison, na voz de Zizi Possi.
John Lennon, uma homenagem (WEA, 2001)
Este CD passou batido pelo público, mas trata-se de um dos discos mais bonitos e comoventes que já ouvi em minha vida. Numa belíssima homenagem à John, vários artistas do pop nacional dissecam seus temas com rara competência e criatividade. Os destaques ficam por conta de Herbert Vianna (I Know), Nando Reis (Mind Games), Zeca Baleiro (Mother), Zé Ramalho (God), Toni Platão (Bless You), Celso Fonseca (Nobody Loves You), Gil & Milton Nascimento (Imagine), Lulu Santos (Beautiful Boy) e para finalizar, Sean Lennon, o próprio, com Arnaldo Baptista (!) (Give Peace A Chance). Maravilha pura.
Rita Lee -Aqui, Ali, em Qualquer Lugar (Abril Music, 2001)
Rita, às vezes, fala displicentemente dos Beatles, mas sempre reafirma seu amor pela banda. Este CD fez enorme sucesso, tanto aqui como na Argentina, por exemplo, e colocou a Sra. Lee nas paradas de sucesso outra vez. Trata-se de um belo trabalho, que reúne a irreverência e ao mesmo tempo a doçura da eterna mutante, que dividiu suas antagônicas características em temas como If I Feel, In My Life e A Hard Day's Night, entre outras.
Espalhadas por diversos discos ao longo dos anos, estão versões bem interessantes de artistas da MPB, o que torna difícil citar todas elas. Mas aqui vão algumas:
Give Me Love - Marisa Monte: versão maravilhosa da canção de George, inclusa no CD Barulhinho Bom, de 1994.
Dig a Pony - Marisa Monte: esta versão inusitada (e excelente) de uma das mais obscuras canções dos Beatles (do Let It Be) só está disponível no home vídeo feito por Marisa na ocasião do lançamento de seu primeiro disco, em 1988.
Norwegian Wood - Milton Nascimento & Beto Guedes: a dupla de mineiros lançou sua versão desta linda canção no lado B de um compacto simples em 1975, e depois, no LP Sol De Primavera, de Beto Guedes. Uma leitura um pouco longa e monótona, mas vale a audição.
Something - Gilberto Gil: excelente versão em reggae de Gil para o clássico de Harrison, lançada no CD que o compositor fez com Milton Nascimento em 2000.
I Need You - Boca Livre: uma versão lindíssima, perfeita mesmo, com o tradicional trabalho refinado de vocais do grupo brasileiro, além de um leve toque de samba. E se me perdoarem a ofensa, superior à dos Beatles. Lançada no CD Americana, de 1995.
Golden Slumbers - Elis Regina: sim, essa grande e inesquecível cantora fez uma emocionada versão para esta música maravilhosa. Está no CD Ela, de 1971.
Help! - Caetano Veloso: acompanhado apenas de seu violão, Caetano faz uma intimista e visceral interpretação desta música. Do CD Jóia, de 1975. Na mesma ocasião, Veloso gravou Eleanor Rigby, For No One e Lady Maddona.
While My Guitar Gently Weeps - Badi Assad: esta bela, virtuosa violonista e excelente cantora paulistana de fama internacional, realizou uma das mais belas versões da canção de George Harrison já ouvidas. Está no CD Chamaleon, lançado pela Universal em 1998.
Para quem não conhece, há um disco maravilhoso chamado The Baroque Beatles Book, lançado pela Elektra Records em 1966, com versões arranjadas na roupagem deste gênero desenvolvido no final do seculo 17 e início do 18 por Monteverdi, Haendel, Bach e outros compositores. Imaginem Hold Me Tight, You're Gonna Lose That Girl e Ticket To Ride sendo interpretadas por corais renascentistas e em forma de Arias! Maravilhoso!
Há muitas coisas dos Beatles gravadas neste estilo de música. Vou citar aqui as que conheço e considero imprescindíveis.
Beatles Symphony - Vadin Brodsky: este LP original de 1987 lançado pela Koch Records já saiu em CD. Trata-se de um disco maravilhoso, com arranjos belíssimos e que em nenhum momento caem para a banalidade de se misturar num só caldeirão um instrumental de rock com instrumentos e arranjos típicos de uma orquestra sinfônica, prática que se transformou em arroz de festa nos anos 60 com orquestras populares francesas e americanas (falaremos deste gênero a seguir). O maestro russo Vadin Brodsky manteve o bom gosto, a fórmula e a disciplina típicos do estilo de música clássica e produziu algumas das mais notáveis gravações de canções dos Fabs nesta área.
Manuel Barrueco Plays Lennon & McCartney (Emi Classics, 1994): o violonista espanhol faz um apanhado dos clássicos dos Beatles com uma delicadeza e bom gosto refinados, com seu violão erudito acompanhado pela Orquestra Sinfônica de Londres.
Göran Söllscher Plays The Beatles - Here, there And Everywhere (Deutsche Grammophon, 1995) e From Yesterday To Penny Lane (ídem, 2000): no mesmo estilo de Barrueco, porém dando mais ênfase aos arranjos só com violão, Söllscher também empresta seu virtuosismo e bom gosto às canções dos Beatles.
Cello Submarine (Teldec, 1983): neste lançamento, os músicos que tocam cello na Filarmônica de Berlin uniram-se para homenagear os Beatles num despretensioso disco de música clássica.
Easy Listening/Clássico Popular
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Chegamos então ao gênero a que me referi nas linhas anteriores. Essa fórmula de música era bastante comum nos anos 50 e 60 através de maestros como Mantovani, Franck Pourcel e Paul Mauriat, entre outros. Ávida pela conquista de um público maior que pudesse alimentar suas finanças, a indústria fonográfica bolou uma fórmula onde as emergentes classes médias americanas e européias pudessem consumir mais discos , criando assim um gênero que se utilizasse de elementos de música sinfônica (o ouvinte mais comum e de classe média tinha preguiça e desinteresse por peças eruditas longas, mas uma necessidade de consumi-las por questões de status social) e ao mesmo tempo tivesse a brevidade e o acompanhamento mais próximos das chansons francesas e do jazz e foxtrot americanos (e depois dos Beatles, do rock). Estava criado o Easy Listening. Traduzindo para o português, a audição fácil. Instrumental sinfônico acompanhado por contrabaixo elétrico, bateria e guitarra! Os Fabs, claro, viraram prato predileto destas orquestras. Na América, em 1964, choveram discos de orquestras como Hollywood Strings e Boston Pops com músicas do grupo, por exemplo. Até George Martin, produtor dos Beatles, embarcou na onda para faturar um pouco mais. A trilha sonora americana de A Hard Day's Night traz algumas versões deste gênero juntamente com as gravações originais dos Beatles. Mas para mim, por questões afetivas (o meu querido e saudoso pai adorava esta orquestra), o melhor disco deste estilo é Franck Pourcel Meets The Beatles, de 1970. Nele, o maestro francês -também falecido há poucos anos- reuniu todas as faixas do grupo que gravou desde 1964.
From me To You - Love Songs Of Lennon & McCartney - Wayne Gratz (Enso Records, 1997): um relaxante e bem refinado CD com o piano solo de Wayne Gratz, que reproduz as inusitadas PS I Love You e You've Got To Hide Your Love Away, entre outras.
Esta é uma área frutífera e bastante rica em obras primas com versões dos Beatles. A criatividade do grupo superou as barreiras preconceituosas de músicos de jazz, que sempre consideraram os compositores e músicos populares e de rock and roll medíocres e limitados (comparando-os com os jazzistas, de fato são mais limitados como executantes, mas alguns, como Lennon, McCartney & Harrison, possuem um dom para composição que extrapola esse preconceito e dispensa virtuosismo instrumental). Ao longo dos anos, seja por estratégia mercadológica ou por puro prazer, diversos deles gravaram temas dos fabs, reconhecendo seu valor artístico como algo imprescindível na boa música popular. Do swing ao jazz-rock, há material farto em preciosidades. Não foi por acaso que na semana passada, os Beatles foram considerados os compositores prediletos dos músicos em geral, numa pesquisa realizada pela Rolling Stone Magazine. Vamos à lista:
Basie's Beatle Bag - Count Basie Orchestra (Verve Records, 1966): um dos primeiros discos só com as músicas dos Beatles dentro do jazz. Aqui, o grande maestro e músico americano reveste temas como Help, Michelle e All My Loving com seu tradicional swing.
The Other side Of Abbey Road - George Benson (A&M Records, 1970): o célebre guitarrista George Benson faz suas versões próprias de canções do Abbey Road com elegância e sofisticação que caracterizaram sua primeira fase, antes de passar a gravar um jazz mais comercial e assimilável.
Songs Of The Beatles - Sarah Vaughan (Atlantic, 1981): a diva do jazz faz aqui luxuosas versões para os clássicos do grupo. O brasileiro Marcos Valle comparece para imprimir um toque bossa nova em Something, um dos melhores momentos do CD.
Love me Blue - Songs From Lennon & McCartney (Blue Note, 1991): Este CD reúne algumas das gravações do famoso e respeitado selo americano Blue Note, entre 1964 e 1988. Artistas como Stanley Turrentine, Jazz Crusaders e o super-virtuoso guitarrista Stanley Jordan aparecem tocando as faixas da banda.
John Pizzarelli Meets The Beatles (BMG, 1998): o brilhante guitarrista e cantor John Pizzarelli produziu um elegante disco de jazz para quem adora um Frank Sinatra mais swingado. As músicas realmente ganham uma leitura bastante pessoal do músico, algumas delas soando muito diferente das versões originais.
Bob Belden presents Strawberry Fields (Blue Note, 1996): o produtor Bob Belden teve a idéia de juntar apenas cantoras neste CD magnífico. O pano de fundo do disco é o jazz, mas desta vez há maior flexibilidade nos arranjos e um ar um pouco mais próximo do pop, o que produz um resultado mais familiar às estruturas harmônicas originais. Novamente vou pedir o perdão dos puristas, mas aqui temos a melhor versão de I'm Only Sleeping já gravada, na voz da cantora Holly Cole. Perfeita! Ela também arrasa em I've Just Seen A Face, na minha opinião, melhor que a versão original! Além de Cole, tem Cassandra Wilson e Diane Reeves.
Come Together, A Guitar Tribute To The Beatles, vols. 1 & 2 (NYC Records, 1993 e 1995): dois CDs que de maneira alguma podem faltar na sua discoteca. Grandes guitarristas de jazz e de jazz-rock como Charlie Hunter, Robben Ford, Michael Hedges, Terje Rypdal, Mark Whitfield, Ralph Towner, Adrian Belew, o brasileiro Toninho Horta, Allan Holdsworth, John Abercrombie e Larry Coryell, além do percussionista também brasileiro Naná Vasconcelos e do gaitista Toots Thielemans nos presenteiam com versões instrumentais magníficas, inovadoras e ricas de canções dos Beatles. São, tranqüilamente, ao lado dos próximos dois a serem analisados, os melhores CDs de música instrumental com temas do grupo disponíveis no mercado. Imperdíveis.
A Bite of The Apple e Another Bite Of The Apple - Beatlejazz (Zebra Acoustic, 2000 e 2001): o Beatlejazz é um trio nova-iorquino especializado em tocar as faixas dos Beatles num delicioso e suave free-jazz, próximo ao free jazz. Como eu escrevi nas linhas anteriores, um dos melhores trabalhos de música instrumental com faixas dos Fabs. Ou seja, uma interpretação jazzística que não esquece das melodias ao fundir nelas a improvisação característica do gênero. Outro detalhe interessante destes CDs é o fato do trio reproduzir canções obscuras da carreira solo dos ex-beatles, como Love, de John, e Junk, de Paul. Compre rapidinho!
Let It Be Jazz - Connie Evingson (Summit Records, 2003): a desconhecida e boa cantora americana Connie Evingson lançou um belíssimo CD interpretando Wait, the Night Before, Fixing A Hole e I Will, entre outras, acompanhada por excelentes músicos de jazz. Mais um trabalho notável neste gênero.
Mother Nature's Son - Ramsey Lewis (Cadet Records, 1969): excelente LP só com faixas do álbum branco, nas seguras e redondas versões do pianista de jazz de Chicago Ramsey Lewis.
(I Got No Kick Against) Modern Jazz - Vários (GRP records, 1995): finalizando a sessão de jazz, uma coletânea com a turma da famosa gravadora americana GRT, especializada no gênero, que juntou num mesmo lançamento feras como Chick Corea, o grupo Spyro Gyra, Tom Scott, Arturo Sandoval, McCoy Tyner e George Benson, entre outros, para homenagear os Beatles.
The Blue White Album - Vários (Telarc, 2002): como sugere o título, um CD com algumas canções do álbum branco tocadas sob a aura do blues. Destaques: Dear prudence, com Charlie Musselwhite e Colin Linden, numa versão instrumental de arrepiar; I'm So Tired, com Chris Duarte e Yer Blues, com Lucky Peterson. Discasso!
Beatles Blues - The Blues Meets The Beatles - Vários (Indigo, 2001): artistas da cena blues americana desconhecidos por aqui tocam vários clássicos e album songs dos Beatles, como Let it Be e Run For your Life, entre outras. Muito legal!
Here, There and Everywhere, The Songs Of The Beatles - Vários (Windham Hill Records, 1999): gravadora especializada no gênero new age, a WH organizou esta coletânea super interessante (e bem suave) com versões de You Won't See Me (Snuffy Walden), Martha My Dear (George Winston) e I Will (com a dupla Tuck & Patti), entre outros artistas e temas. Magnífico!
A diversidade de gêneros usados para reproduzir os temas dos Beatles demonstra, mais uma vez, a universalidade e a riqueza dos Fabs. Fontes inesgotáveis de pesquisa, agora canções como Eight Days A Week, Imagine, Yesterday, Love Me Do, Octopus's Garden e muitas outras ganham interpretações de ótimos grupos vocais, a seguir:
The persuations Sings The Beatles (Chesky Records, 2002): este brilhante grupo vocal negro americano dá um banho de interpretação que é de arrepiar! Uma aula de técnica e versatilidade vocais inspirados na soul music! Fantástico!
The Beatles Connection - The King's Singers (EMI, 1988): agora é a vez do grupo vocal inglês de formação erudita interpretar seus conterrâneos. Soberbo!
Quando explodiram na América, os Beatles causaram também muita inveja e preocupação, principalmente entre os artistas negros de soul music, que viam neles uma ameaça à hegemonia da música americana face à chamada "invasão inglesa" liderada por John, paul, George e Ringo. De fato, isso aconteceu; mas com o tempo, a solução encontrada foi a aproximação, que acabou acontecendo dos dois lados. Os Beatles começaram a sofrer influências pesadas do gênero, e não por outra razão chamaram seu sexto LP de "Rubber Soul" (alma de borracha, que na verdade dava a entender uma flexibilização, uma extensão à outros gêneros musicais), além de terem copiado os arranjos da soul music em Got To Get You Into My Life, do "Revolver". Os artistas negros, por sua vez, passaram a gravar covers dos sucessos do grupo em seus discos; é o popular "já que não podemos contra o 'inimigo', vamos nos aliar a ele." O disco que melhor sintetiza essa corrente é a coletânea "Motown Meets The Beatles", que a famosa gravadora americana compilou em CD no ano de 1995. Nele, é possível ouvir astros como The Supremes, Four Tops, Stevie Wonder, Temptations, Diana Ross e Smokey Robinson & The Miracles interpretando grandes sucessos do grupo. Ironicamente, um dos maiores expoentes do chamado 'som da Motown', Michael Jackson, acabou comprando, em 1985, os direitos autorais de praticamente todo o catálogo dos Fabs.
Pop Rock, Country-Rock, Rock and Roll
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Os gêneros que criaram os Beatles retribuem pelas vozes de milhares de artistas que se influenciaram pelo seu som. Aqui há tantos trabalhos que seria necessário montar um site especializado só para cita-los. mas vou relacionar os que considero essenciais:
4ever, musicas de Lennon & McCartney - Vários (Emi, 1998): nosso querido e competente colega Marcelo Fróes organizou esta maravilhosa coletânea de gravações originais de canções dos Fabs que foram cedidas por eles à outros artistas durante os anos 60. O detalhe é que nenhuma delas foi gravada pelo grupo. Todas permanecem inéditas na interpretação dos Beatles. Jóias como World Without Love (com Peter & Gordon), Bad To Me (Billy J. Kramer & The Dakotas), Love Of The Loved (Cilla Black), Hello Little Girl (Gerry & the Pacemakers) e a obscura Penina, composta por McCartney em 1969 para o artista português Carlos Mendes, entre outras, compõem este maravilhoso e histórico CD.
It's For You - The Beatnix (Alldisc, 1982): feito para pegar carona na beatlemania que se sucedeu à morte de Lennon em 80, este disco é excelente, por incrível que pareça. Este obscuro grupo de ocasião, Beatnix, gravou praticamente as mesmas canções da coletânea "4ever" citada acima, com bastante energia e eletricidade, o que imprimiu ao lançamento uma surpreendente vitalidade.
In My Life - George Martin (Universal, 1998): se alguém tem o direito de gravar as músicas dos Beatles do jeito que quiser e quando quiser, este alguém é o maestro George Martin. Neste CD ele homenageou seus antigos pupilos com algumas gafes, mas com outros tantos acertos, como "A Day In The Life" com Jeff Beck na guitarra, "Because" com Vanessa Mae, e a título de curiosidade, "Ticket To Ride" com as Meninas Cantoras de Petrópolis, esta última gravada quando o produtor dos Beatles veio a trabalho para o Rio de Janeiro, onde foi recebido por Marcelo Fróes. Um disco mais afetivo e histórico do que exatamente brilhante.
Revolver - Ann Dyer (Premonition Records, 2000): quase todas as faixas de Revolver ganham aqui versões estranhas e dissonantes que transitam entre o jazz e a mais experimental música americana. Ann Dyer é uma boa cantora, mas os bons momentos como "For No One" e "Good Day Sunshine" dividem espaço com os excessos de experimentalismos de "Eleanor Rigby" e "Tomorrow Never Knows". No cômputo geral, um disco instigante e provocativo.
Pepper Knews My Father - Vários (Mayking Records, 1988): disco beneficente organizado pela revista inglesa New Musical Express com a versão integral do Sgt. Peppers nas interpretações de bandas e artistas então emergentes no cenário pop inglês do final dos anos 80. Wet, Wet, Wet, The Fall, Sonic Youth, o jazzman Courtney Pine e a maluquete Michelle Shocked, entre outros, se dividem entre versões modernas interessantes e outras meramente experimentais e abusivas. Destaque para a versão de Fixing A Hole com Hue & Cry. Hoje esse disco é uma raridade.
Come Together, America Salutes The Beatles - Vários (Emi Canada, 1995): este é um CD imperdível, outro que considero um dos melhores discos-homenagem que já ouvi. Foi inclusive relançado recentemente, depois de anos fora de catálogo. Artistas canadenses e americanos desconhecidos por aqui realizaram lindíssimas e emocionantes versões para clássicos como If I Feel, We Can Work it Out, I'll Follow The Sun, Yesterday, Paperback Writer e muitas outras canções, sempre com roupagem country-rock e pop, mas da melhor qualidade.
Shared Vision, The Songs Of The Beatles - Vários (Polygram, 1994): disco com propósitos beneficentes, Shared Vision traz alguns artistas mais famosos, como Elton John, The Mission, Richie Havens, Rod Stewart, Joe Cocker, Stevie Wonder, The Jam e Extreme em versões nem sempre muito criativas. Mas alguns deles conseguem salvar o disco com bons arranjos e energia, como a versão de Drive My Car com o desconhecido Silver Jet.
Phish Plays White Album - Phish (Bootleg): você encontra no Soulseek a versão integral do álbum branco tocada pela banda americana de rock Phish. Um excelente disco, apesar de em alguns momentos o grupo exagerar na irreverência e no cinismo, insistindo em tocar algumas faixas de maneira displicente. Mas no geral, um grande show cover!
Working Class Hero, A Tribute To John Lennon - Vários (Hollywood Records, 1995): outro CD que merece um lugar na sua coleção. Trata-se de uma bela e vigorosa homenagem à John, desta vez com astros do rock dos anos 90. Versões pesadas de Steel And Glass (Candlebox), I Found Out (Red Hot Chilli Peppers), I Don't Want To Be A Soldier (Mad Season) e How Do You Sleep? (The Magnificent Bastards) são de arrepiar os mais insignificantes pêlos do corpo, enquanto Jealous Guy (com o Collective Soul) e Isolation (com o Sponge) são até mais vibrantes e emocionadas que as versões originais! Para encerrar, ouçam a delicada versão de Grow Old With Me com Mary Chapin Carpenter e vocês jamais vão suportar ouvir a horrenda versão da música no Milk And Honey outra vez. Isso porque Mary conseguiu mostrar que essa é uma das baladas mais bonitas que Lennon já escreveu, fato que passa batido pela medonha gravação lançada por Yoko após a morte de John.
Listen To What The Man Said (Oglio Records, 2001) e Coming Up! (Oglio, 2001): Vários: duas coletâneas que homenageiam as canções solo de Macca, em versões algumas vezes supérfluas e em outras bastante interessantes, com artistas absolutamente desconhecidos da música americana. Não é das melhores homenagens, mas é o que há de melhor em covers da carreira solo de Paul. Só o fato de poder ouvir Temporary Secretary (do nefasto McCartney II) num arranjo razoável já vale a empreitada.
Songs From The Material World, A Tribute To George Harrison - Vários (Koch Records, 2003): a merecida homenagem à George, projeto que ele pensou em realizar no final dos anos 90, mas abandonou em função da doença. Aqui temos gente como Todd Rundgren, John Entwistle, e Bill Wyman, entre os mais famosos, embora o melhor fique por conta dos mais desconhecidos, como a versão de Savoy Truffle com o They Might Be Giants e Isn't it a Pity, com Jay Bennett e Edward Burch. Excelente coletânea.
Concert For George - Vários (Warner, 2003): é óbvio que este maravilhoso CD não poderia faltar. Um disco emocionante, de levar às lágrimas qualquer fã dos Beatles e de George, não só pela condução sincera e afetiva de Mr. Eric Clapton (que arrasa em tudo, principalmente em Beware Of Darkness) e pela força imprescindível de Billy Preston (a sua versão de Isn't It A Pity é tão sublime quanto a original), mas igualmente pelas presenças de Ringo e de Paul. A versão de All Things Must Pass com Macca deve ter feito George, lá em cima, perdoar todas as pisadas de seu colega aqui em baixo! Maravilhosa e emocionante como só McCartney seria capaz de fazer...
Bem, provavelmente muitos discos devem ter ficado de fora da lista, como os discos de reggae, tango e até de música infantil (!) por exemplo, pois como já disse, seria necessário tempo e espaço específicos para listar o enorme material feito com covers dos Beatles em quase todos os gêneros musicais existentes. Assim sendo, vou terminar citando a arrasadora versão pesada de Come Together com o Aerosmith, gravada em 1977 no álbum All This And World War II, que é, na minha opinião, uma das melhores versões (senão a melhor) desta música já gravadas. Vocês, leitores, podem me enviar e-mails citando outros títulos, o que me fará correr atrás dos mesmos. Posteriormente, acrescentarei todos eles nessa lista. Aguardo-vos, portanto!!!
mscavazza@ig.com.br
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