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A British Girl vai ao
Geoge Harrison Tribute

Royal Albert Hall, Londres,
Sexta Feira, 29 de Novembro de 2002

O dia está frio e gelado em Londres. Eu levanto cedo, tomo meu banho passo horas arrumando meu cabelo, escolho um vestido apropriado para a noite, boto meu casaco e saio para o trabalho. O dia está sendo bem excitante. Mal vejo a hora de sair deste escritório. Ligo para a Bea (que está a portar os ingressos), a mesma me diz que a Sarah (amiga nossa que também é Beatlemaníaca) perdeu o trem de Brighton para Londres, mas que estaria pegando o próximo ônibus.

Cinco e meia da tarde saio do escritório, pego o Metrô Desco na estação Kensinghton Hight Street e me encontro com o Brett. Compro uma rosa, e como uma barra de chocolate (meu jantar). Nada me cabe no estômago, tamanha a excitação. Começa agora a longa caminhada até o Royal Albert Hall. É incrível o que vejo: um homem bem velhinho de bengalas perguntando se temos ingressos para vender pra ele. Acho que está escrito na minha testa que estou indo pro concerto. Caminhamos por mais dois metros, outro homem - este mais novo - tenta nos subornar. Mais à frente um garoto japonês segura uma placa: "I am from Japan, Can I have a Ticket to the Concert?".

Agora já estamos chegando ao Royal Albert Hall e vejo umas 40 câmeras filmando a cena: pessoas subornando pessoas em troca de ingressos. Nunca vi tal cena em minha vida. Muitas pessoas estão desesperadas pelos ingressos.

Ao mesmo tempo em que o frio bate em meu rosto, meu coração bate de ansiedade. Vou para a porta 11, procuro pela Bea, não a acho. Agora já estou bem desesperada. E se ela não vem? E se ela vender nosso ingresso? Meu Deus, não estou resistindo! Vou ligar pra ela! Ufa! ela atende o telefone, diz estar a duas quadras de distância do Albert Hall. Finalmente a Bea chega, entrega os ingressos e apresenta seu amigo Paul, vindo de Liverpool. Ele se apresenta e vai direto para a fila. A Sarah liga pra Bea novemente, dizendo que está quase chegando em Londres. Ficamos à sua espera por mais 10 minutos. A Sarah não chega, a fila vai aumentando.

Passa gente de tudo quanto é tipo na rua, gente com flores para o Jeff Lynne, gente fantasiada de Sgt Pepper, gente com a cabeça raspada com o nome dos Beatles, gente com camisetas do Beatles, Hare Krishnas entregando panfletos em homenagem ao George, gente da Imprensa, gente famosa (Tom Hanks, entre outros). Eu estou simplesmente amando a atmosfera, ligo pra minha mãe, conversamos por 5 minutos. Olho no relógio: são 7:10 e de acordo com o ingresso devemos estar sentados por volta das 7:20. Vou para a fila e me despeço da Bea, que ainda está no aguardo da Sarah.

Dentro do Royal Albert Hall - Entro no Royal Albert Hall e vejo incensos queimando. Desço a escada acompanhada pelo Brett que nesta altura me conta entusiasmadamente sobre a época em que trabalhou no Albert Hall. Vou para a arena, abro a porta e... OH, MY GOD! Como é lindo! Bem Royal mesmo, as cadeiras vermelhas, os camarotes, tudo muito, muito chique. Um senhor vem na minha direção e me mostra o meu assento. Não acredito no que meus olhos vêem: é um dos melhores lugares, fica na 14a fileira no corredor. A vista é maravilhosa. Admiro o palco por alguns segundos, vejo uma foto enorme do George e a guitarra do eric Clapton iluminada por um foco de luz.

Fora do royal Albert Hall - Bea espera pela Sarah. Olha no relógio, são 7:15. Ela resolve ligar para a Sarah, que diz estar saindo da estação de Victoria, e chegaria lá dentro de 10 minutos. Bea resolve deixar o bilhete da Sarah na portaria 6, onde as pessoas atrasadas estão recolhendo seus bilhetes. Bea entra no Royal albert Hall. Sarah, por sua vez, entra em desepero: tira as botas e corre pela estação de metrô de Vitoria descalça, entra no vagão, todos olham, ela começa a chorar. Sai da estação, pisa nas poças de água, corre pela rua, algumas pessoas se aproximam dela, perguntam se ela esta bem, ela diz que precisa chegar no Royal albert Hall o mais rápido possível. As pessoas lhe ajudam, dando as direções, mas Sarah chora muito, e continua descalça, pisando em tudo quanto é poça de água. Finalmente ela chega ao Albert Hall, descalça, molhada e com lágrimas no rosto. A recepcionista a olha muito desconfiada, pergunta seu sobrenome, Sarah confirma, e morre de alivio. Coloca as Botas nos pés, e se encontra conosco na arena.

Dentro do Royal Albert Hall - Já estamos os 4 sentados, infelizmente sem máquina fotográfica. Por volta das 8:00h. alguns hindus começam a perambular pelo palco. A platéia muito agitada se cala. Anoushka Shankar, filha de Ravi Shankar sobe ao palco e se senta bem ao centro. Daí vem Olivia Harrison, acende 5 velas tradicionais da Índia e se senta na lateral direita do palco acompanhada do Ravi. Eric Clapton aparece e começa seu discurso sobre o George. Ele faz um comentário do tipo "a esposa do George, Dhani...". A plateia ri muito. Ele pede desculpas e introduz Anoushka.

Anoushka começa a tocar cítara muitíssimo bem, acompanhada por um coral hindu e uma orquestra - acredito eu - inglesa. Já devem ter passado uns 30 minutos quando Jeff Lynne entra e toca junto com eles "The Inner Light". Agora Ravi sobe ao palco e diz: "I strongly feel that George is here tonight. How can he not be here when all of us who loved him so much have assembled all together to sing for him and play music for him". A orquestra é guiada por Anoushka e toca uma música composta por Ravi, especialmente para o George: "Song For George". Vem um intervalo de 30 minutos, alguém na platéia percebe a presença de George Martin em um dos camarotes. Câmeras começam a fotografá-lo loucamente.

A imensa foto do George é trocada. Nesta foto ele está mais jovem vestindo um terninho Beatle. Logo após o intervalo as luzes se apagam e entram 4 senhores vestidos de garçon. Eles são os integrantes do Monty Phyton. Cantam "Sit on my face and tell me you love me", se viram para a platéia e mostram os bumbuns completamente nus. A platéia chora de rir, inclusive eu. Agora Michael Palin está chegando. Faz um numero ("I'm a Lamberjack and I'm Ok") foi bem engraçado.

Eric, juntamente com Jeff e Dhani tocam "I want to tell you". Depois é a vez de Eric com "If I needed someone". Agora eu estou começando a me entusiasmar bastante (adoro essa musica). Pego meu celular, ligo pra minha mãe, que se emociona. Lembro do meu amiguinho listeiro Rafael, que me pediu diversas vezes pra ligar pra ele de lá. Não hesito e ligo pra ele. Precisava dividir com o mundo minha alegria e euforia por estar curtindo esse show. Agora entra "Old Brown Shoe" com Eric e Gary Brooker. Terminando esta, eles tocam uma das minhas preferidas, a doce "Give me love". Ai, que musica linda! Foi cantada pelo Jeff Lynne.

Não acredito no que ouço agora: "Beware of the Darkness" com o Eric. Que som, que melodia, que coisa mais mágica! Eu conseguia sentir a presença do George! Ver o Dhani ali no palco, era como estar vendo o pai. Joe Brown entra com "Here Comes the Sun" e faz a plateia delirar! Toca "That's the way it goes", e logo depois entra uma garota bem alegre, Sam Brown, acompanhada de Jools Holland no piano e começa "Horse to the Water". Devo admitir que não gostei muito dessa versão, com essa garota berrando lá no palco. Mas enfim... o melhor ainda está por vir (penso).

Tom Petty vem ao palco e o povo lhe dá uma grande salva de palmas. Alguns até se levantam. Tom inicia seu show com "Taxman" acompanhado dos "The Heartbreakers". Agora eu ouço o delicioso som de "I Need You" com Tom. Agora chega vez dos Travelling Wilburys com a canção "Somebody to Lean on". Nossa, eu não acredito que estou ouvindo essa musica! É simplesmente minha favorita! Mais uma vez ligo pra minha mãe. Ela também ama essa música! O palco se torna mágico com Tom Petty, Jeff Lynne & Dhani Harrison tocando "Handle with Care". Agora Tom está indo embora... e adivinhem quem chega? Billy Preston, que se senta ao piano e toca "Isn't It A Pity" com Eric Clapton.

Eric Clapton apresenta alguém muito especial agora: "Ladies and gentleman, Ringo Starr"! Meu Deus.. não acredito que o estou vendo, naquele seu paletó de camurça vermelha com estampa chinesa (acho que é chinesa). Estou vendo outro Beatle! A platéia se levanta, pula, grita... Amazingly!!!

"É o Ringo!" - penso eu, ainda extasiada com sua presenca. É o Ringo do Help!, o Ringo do Yellow Submarine! É o Ringo dos Beatles!!! O Ringo diz algo tipo: "What a night! George loved me, and I loved George!". Essas palavras trazem lágrimas para o rosto de algumas pessoas. Ele apresenta uma canção, considerada especial para ele: "Photograph". Dhani e Eric o acompanham. Depois de cantá-la Ringo traz uma certa nostalgia com "Honey Don't". Agora o Ringo esta sendo bem aplaudido e diz: "It gives me great pleasure to introduce another friend of George's, Paul McCartney!"

OH MY SWEET GOD!!! Eu nao acredito que estou vendo ELE pela quarta vez! Desta vez minha emoção foi tanta que eu comecei a passar mal. Me faltam as pernas e também o ar. Ringo apresentando Paul. Tenho que me sentar, todos estão de pé, mas eu não consigo tal proeza. Minhas pernas tremem, assim como na primeira vez em que o vi!

Paul começa a tocar: "For your Blue". É a primeira vez que eu vejo o Paul tocando pessoalmente! Ringo esta na bateria e tudo isso parece um grande sonho! Dois Beatles tocando uma música do George. Paul agradece a platéia e ainda brinca: "gostaria de agradecer ao Dhani, George's wife!". Paul não pára por ai, pega seu bandolin e toca "Something": "Don't wanna leave you now... you know I believe and how.." hum..." (ele coloca o bandolin no chão, pega sua guitarra e a orquestra inteira entra...) "ta ran ran tan tan taannnnnnn... you're asking me...". Não aguento e começo a chorar copiosamente borrando toda minha super maquiagem dos olhos, à lá anos sessenta. Que emoção, que momento inesquecivel! Me contenho e volto a cantar.

Agora é a vez de uma das mais belas canções do George ser tocada pelos dois Beatles, Jeff Lynne, Eric Clapton e Dhani Harrison: "ll Things Must Pass". E para completar "While My Guitar Gently Weeps", com Paul no piano. A platéia grita, se levanta, aplaude incansavelmente. "My Sweet Lord" começa, eu me recuso a sentar. Danço e bato palmas no corredor. E assim do nada, pego minha rosa e começo a caminhar devargarinho em direcao ao palco. Bea, e Sarah me acompanham, e mais dois jovens também. Que emoção! Estou nas barbas do Paul, que continua no piano. Ele olha para um tela fixada no chão com a letra da musica (teleprompter). Eu não sei para quem olhar, Paul, Ringo, Dhani, Eric, Jeff... volto a olhar para o Paul, que nem sequer olha pra platéia. Está muito concentrado na tela.

Hum... decido então olhar para o Dhani que está bem na minha frente. Que graça de moço, a cara do pai! Só com uma diferença: um pouco mais baixinho. Agora eles começam a cantar a animada "Wah Wah", e eu que não desgrudo os olhos do Dhani. Paul se levanta e diz: "With Dhani on stage it looks like we all got old and George stayed young". Dhani por sua vez caminha e agradece a todos dizendo: "I just want from the bottom of my heart to thank all the musicians, you are my dad's best friends, he loves you. God bless you all. By the way, I am George's wife". Isso traz risadas frenéticas à platéia.

Joe Brown é chamado ao palco e diz que vai tocar uma música que o George gostava muito, e ainda completa dizendo: "It's designed to send you home with a smile on your face and a little bit of love in your heart". Confetes começam a cair. Enquanto isso, eu olho para o Dhani, que por sua vez, olhou pra mim. Eu - que não sou boba nem nada - dou um sorriso e uma piscadinha pra ele. Ele sorri meigamente, assim como o George fazia, bem timidamente. Olha para o chão e fica um pouco vermelhinho. OH MY GOD! Eu não acredito que fiz isso! Preciso ver essa cena quando sair o DVD. Espero que apareca ao rostinho do Dhani envergonhado com minha piscadinha!

Joe Brown comeca a tocar "I'll See You in My Dreams". A canção acaba e eu percebo que aquele momento tenso chegou. Olho para o Paul, que já esta indo embora. Ooh meu Deus, preciso dar minha flor para alguém. Dhani, muito timido, vai saindo de mansinho junto com alguém pelos fundos do palco. Olho para frente e quem eu vejo? O Ringo! "Hold on!" (pensei) "Eu sou a British Girl, não posso sair daqui de mãos abanando!". Grito: "RINNNGOOOOO!". Ele me olha, eu mostro a rosa, ele faz que vai pegá-la, eu tiro a rosa da mão dele e digo: "Oh please give me your hand!" Ele vem em minha direção, pega na minha mão, (ele me dá a mão esquerda e pega na minha mão direita). Daí eu dou a flor pra ele, ele diz: "thank you". Caminha em direção a uma câmera e bate a flor bem na lente! Eu olho para meu lado esquerdo e me deparo com um cameraman bem na minha cara. Nossa, que noite!

Volto pra onde eu estava sentada e os confetes ainda caem. Não acredito. Saindo do teatro eu encontro com um comediante britânico chamado... "Morton, alguma coisa Morton". Vou ao banheiro, olho no espelho e vejo minha maquiagem toda detonada. Pareço um panda com os olhos pretos e a cara bem branca. Dei uma bela bronca nas meninas, que não me disseram nada. Saio do banheiro e ouço alguém me dizendo: "Olha lá o George Martin!". Pronto: lá vou eu atrás do homem. Fomos descendo umas escadas e indo para o sub-solo no meio daquela galera famosa e bem atrás do George. Eles estão indo em direção a um corredor onde diz "Privado" - onde está acontecendo uma festa privada. Eu e as meninas (Sarah e Bea), infelizmente, fomos barradas e ficamos para trás. Passa um pouco, e eu vejo um Rutle. Depois de dois minutos quem aparece? Olívia! Segurando adivinham o que? A rosa que eu dei pro Ringo! Achei isso super legal.

A Sarah não agüenta, tira as botas de novo (acho que ela já está acostumada) e comeca a caminhar pelo mesmo corredor privado em que o George Martin entrou. Ela vai até o fundo e vê uma porta de vidro. Tem uma visão do Paul conversando com alguém. ela quase entra na festa, mas infelizmente alguém a mandou sair de lá. Volto para casa feliz da vida! Mais um sonho realizado! Quem diria, Audrey, quem diria?

Audrey Copping