Uma volta a 61

No auge - ou talvez devêssemos dizer na pocilga - dos farofentos e egoístas anos 80, Dave Rimmer escreveu uma monografia baseada no sucesso de Culture Club e assemelhados, chamada "Como se o Punk não tivesse acontecido" ("Like Punk never happened"). Seu argumento era que a ascenção desses grupos vazios e superficiais era uma rejeição implícita à ética punk. Era uma teoria meio estranha (...), mas era uma idéia interessante.

Então aqui vai mais uma. Olhe à sua volta para a cultura pop britânica do ano 2001, e pasme diante do fato de que demos um salto quântico... não, na verdade um salto quântico reverso, para 40 anos atrás, até a era pré-Beatles na música - em outras palavras, um tempo antes do rock.

A cena pop britânica em 1960/61 era dominada pelo que hoje chamaríamos de "entretenimento leve": grupos vocais, carinhas simpáticas, cantoras bonitinhas e cantores boa-pinta que também sabiam atuar. Cada um desses artistas era recrutado, moldado e manipulado por magos em casacos de astracã, mastigando enormes charutos. Chefe nesse grupo era o imortal - bom, não literalmente, já que ele morreu em meados dos anos 80 - Larry Parnes, que pegou uma série de Ron Wyncherleys e Reg Smiths e os transformou em Billy Furys, Marty Wildes, Tommy Steeles, Vince Eagers e Johnny Gentles.

Parnes era um espertalhão, mas não esperto o suficiente para ver que os rapazes que apoiavam Johnny Gentle em sua turnê de 1962 pela Escócia iriam abalar o mundo em suas estruturas. Depois dos Beatles, veio o rock e toda a sua pompa: drogas, sexo, política, revolta juvenil, experimentação instrumental, letras obscuras (...). Sem a revolução do rock, nossa música - seja ela Poison, U2, The Clash ou Eminem - nunca aconteceria. Você ainda pode amar os Pet Shop Boys ou a Britney e ao mesmo tempo ficar feliz por ter Jimi Hendrix, Steely Dan e Smiths também na sua coleção.

Mas em algum ponto no caminho, perdemos os últimos 40 anos; a música britânica hoje soa como se o rock nunca tivesse acontecido. Veja como a música dos anos 90 espelha a do início dos 60, uma era de consenso, afluência e conservadorismo paternalista. Veja como nossa indústria do entretenimento e da música reflete esse estranho movimento: fixação em celebridades, obsessão com picuinhas domésticas e maritais que parecem saídas diretamente do Picture Post e de revistas de cinema para adolescentes nos anos 50. Pense em Robert Plant e o que vem a mente? Um homem de cabelos cacheados, sem camisa, com uma calça jeans, numa névoa de patchouli, suor e (sweet-scented drug) maconha, enquanto canta sobre exércitos do diabo e mindless rutting. Pense em Liam Gallagher e qual é a imagem que surge? Uma foto borrada de um homem de chapéu, empurrando um carrinho de bebê enquanto faz um sinal de V com os dedos. Eu tenho dificuldade em aceitar poses de "deus do rock", mas pelo menos você nunca viu uma foto de Robert Plant empurrando um carrinho em Hampstead ou discutindo com sua mulher em Waitrose.

Stuart Maconie









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