Adriano Cunha
Médico cearense, 37 anos, Adriano foi a dois shows da Summer Tour 04
Adriano Cunha realizou o sonho de muitos que acessam o Beatles Brasil. Ele deixou a capital do Ceará, Fortaleza, no dia 27 de maio passado e foi à Europa especialmente para assistir nada menos que dois concertos da Summer Tour 2.004 de Sir Paul McCartney! Esteve no Rock'n'Rio Lisboa, e em Zurique, na Suíça. Já de volta a Fortaleza ele recebeu nossos colaboradores, Cláudio Teran e Vladimir Araújo em seu apartamento para contar um pouco de sua aventura, seguindo os passos de James Paul McCartney.
Quem é você no universo beatlemaniaco e quando começou a gostar dos fab four?
Bem, eu tenho 37 anos e lembro bem o momento em que comecei a despontar para Beatles, Paul McCartney, John Lennon. Foi justamente na morte de John Lennon. Eu tinha 12, 13 anos e o fato me chamou a atenção porque no momento em que a noticia saiu no jornal - lembro bem do Jornal Nacional - minha mãe comentou: mataram John Lennon, dos Beatles, um conjunto muito famoso. Desde então comecei a me interessar, ver, saber, discutir, escutar as músicas... Começou então a coisa do beatlemaníaco. Na época só existiam os vinis. Eu não tinha condição financeira de comprar discos com frequência. A solução era juntar dinheiro da mesada - 2, 3, 4 meses para adquirir um vinil. Levei uns seis ou sete anos nesse ritmo para completar a coleção dos Beatles, e então veio a era do CD. Tive de começar tudo outra vez...
Ficou mais fácil colecionar à partir da era do CD?
Sou médico. A parte financeira melhorou. Então foi possível ir atrás de material raro - aqueles itens fora do convencional são os que me atraem mais. Tenho muito material extra-oficial, participo de leilões na internet, faço trocas, e tudo isso resulta num bom número de coisas dos Beatles que gosto de colecionar...
Por que você não viu Paul no Brasil em 1990 e 1993?
Na época que o Paul veio ao Brasil eu não tive oportunidade de assisti-lo por problemas particulares - estava me formando, estudando e não tinha como deixar Fortaleza. Dessa vez porém eu tive todas as condições necessárias para, finalmente ver um beatle, ver Paul e realizar um sonho. Os fãs dos Beatles, aliás, sonham com isso e atualmente só temos como ver Paul e Ringo em ação. Então eu fui...
Foto: Adriano Cunha
Como você planejou a viagem e seguiu para a Summer Tour 2004?
Vontade sempre tive. E sempre planejei. O problema inicialmente era dinheiro. Você sair do nordeste para uma excursão à Europa requer certa quantidade de recursos. Tempo é outro problema. Além da família, já que tenho filhos pequenos e que exigem cuidados especiais. Desde o ano passado quando Paul estava finalizando a Back in the US e a Back in the World Tour eu fiquei na esperança e no empenho de que na próxima eu estaria presente fosse onde fosse. E teria de vencer meu medo de avião. Fui com minha esposa. Comprei os ingressos pela internet assim que saiu o anúncio da Summer Tour e tive o privilégio de ver Paul McCartney em Lisboa (Portugal) e Zurique (Suíça)...
Quando você deixou o Brasil e como foi a chegada para o primeiro concerto?
O show de Lisboa estava marcado para o dia 28. Saí no dia 27 de Fortaleza e cheguei lá na manhã do dia 28. Queria localizar o hotel onde Paul estava mas não consegui. Só fiquei sabendo depois do show. No Rock'n'Rio eu cheguei no momento da abertura dos portões, entre às 16 e 17 horas para conseguir um bom lugar.
como estava o ambiente do lado de dentro do Rock'n'Rio Lisboa?
Estava bem tranquilo, a segurança muito atenta. Pensei entrar com filmadora mas desisti porque estavam revistando tudo. Entrei com minha máquina fotográfica digital, equipamento que me permitiu fazer belas fotos e também filmar trechos do concerto. Dentro do espaço do Rock'n'Rio tive uma decepção em principio porque havia pouca gente. Duas horas depois da minha chegada o público continuava pequeno. Acostumado com a cultura brasileira cheguei a pensar que o show teria pouco público. Fiquei bastante surpreso porque afinal, aquele seria o primeiro show do Paul em Portugal. A imprensa criou muita expectativa e eu fiquei naquela de imaginar o que aconteceria.
O que mais lhe chamou a atenção durante o show de estréia da Summer Tour em Portugal?
Os portugueses estavam bastante ansiosos. A gente conseguia notar a vibração deles com bonés, camisetas, etc. Outro ponto de destaque foi o tanto que Paul se comunicou em português. Acho que ele falou muito mais em português em Portugal que nas duas passagens pelo Brasil. Praticamente entre uma faixa e outra ele falava no idioma lusitano. E de forma bastante compreensível.
Quando é que o público português começou a chegar?
Quando chegou próximo do horário do show - marcado para às nove e meia, dez horas da noite - foi uma afluência enorme de pessoas. Como cheguei muito cedo fiquei bem na frente. Quem deixou para a última hora ficou distante do palco, já que o local ficou tomado de pessoas por todos os lados. Em torno de 50 mil pessoas estavam lá segundo a organização...
O valor do ingresso no Rock'n'Rio Lisboa, era único ou havia distinção de local tipo, gramado, arquibancada...
Não havia divisão de preço e local, já que a locação era um parque gramado. Quem entrou primeiro ficou na frente. Não havia cadeiras, arquibancadas, nenhuma divisão. Havia uma certa expectativa devido o preço do ingresso - relativamente caro para os padrões portugueses. 53 euros. Mesmo assim Paul foi calorosamente recebido e o concerto foi uma emoção para todos os que estiveram lá.
Ingresso do Show de Zurique
Você é um apreciador de bandas como Led Zeppelin e The Who, além dos Beatles. Antes dessa performance de Paul McCartney assistiu The Who ao vivo em Londres. Dá para fazer um comparativo entre um público e outro?
O Paul, acho que a diferença é seu carisma. Ele consegue hipnotizar as pessoas. E seu público é muito maior que o do The Who. O show do Who que eu assisti em Londres foi num pequeno teatro para cêrca de 3 mil pessoas. Já Paul McCartney prá fazer um concerto tem de ser numa área grande porque sempre haverá de dar muita gente. The Who é uma banda para público de gosto mais específico.
Paul compôs Helter Skelter para combater uma declaração de Pete Townsend dando conta que I Can See For Miles era a canção mais barulhenta do Rock. Como foi estar diante do palco para ouvir a performance dessa faixa nunca antes tocada ao vivo?
Quando Paul tocou Helter Skelter já estávamos no finalzinho do show. Ele voltou para o bis e perguntou: 'do you wanna rock?' E o público respondeu: 'yes wanna rock.' Então começou um riff pesado de guitarra, a intro de Helter Skelter logo identificada pelo público. Para mim foi uma grande surpresa, a voz forte do Paul, parecendo um garoto de 20, 25 anos. Não dava para dizer que era um homem de 62 anos cantando Helter Skelter!
E o final do show como foi?
Depois de cantar por duas horas e meia, segurando um show que para qualquer jovem é puxado, imagine para uma pessoa com 40 anos de estrada. Mas Paul McCartney brilhava, cheio de ânimo e muito gás. Foi mágico o final do concerto. Deixa na gente uma vontade que aquilo comece outra vez...
Em termos de diversidade de público nos shows em Zurique e Lisboa, o que você notou?
Uma mágica da música dos Beatles é que você consegue ver fãs de todas as idades. Tinha desde famílias com crianças até jovens, adultos, e inclusive idosos! Parecia uma música nova, algo recém surgido. Nem parecia que boa parte do repertório tinha mais de 40 anos.
Para quem vai assistir Paul McCartney pela primeira vez, como é aquele momento exato do pré-show - o instante no qual as luzes se apagam?
O fã tem aquele sonho de tentar pelo menos ver o ídolo. Depois que consegue deseja mais. Um autógrafo, quem sabe. Um aperto de mão. Só que para mim, ver foi muito intenso. Emocionante. Tudo começa com o pré-show e os dançarinos. Quando Paul vai entrar uma cortina cobre o cenário e você não vê nada. O que surge primeiro é a sombra dele - o coração começa a bater mais forte. A cortina sobe e então ele entra sorridente, cantando e tocando. Só fala com o público após a segunda música.
Em Zurique foi do mesmo jeito?
Em Zurique infelizmente começou a chover, o que prejudicou um pouco nossa visão. Mas o show teve a mesma intensidade.
É dificil contentar os fãs. Tem os que vibram com as novidades do set list. e os que reclamam dele tocar sempre hey jude, let it be, yesterday e outros clássicos. Como a platéia reagiu ao repertório que foi tocado?
Quem está no show quer escutar todas as músicas que ele compôs e gravou. A gente se emociona muito, e na realidade quer mesmo escutar os clássicos como Hey Jude, Let it Be e Yesterday. Nesse aspecto, Paul dá o que a platéia quer receber, conseguindo arrebata-la.
Foto: Adriano Cunha
Mas o set list da summer tour também trouxe faixas menos conhecidas - até obscuras.
Dessa vez ele fez uma variação muito feliz, misturando as músicas mais manjadas com material que nunca havia tocado ao vivo. Até faixas obscuras como I'll Follow the Sun e In Spite of All the Danger - uma faixa pré-Beatles - foram apresentadas. Eu particularmente gostei muito de You Won't See Me. A reação do público foi emocional nos dois shows que eu assistí. Todos cantavam, dançavam, muitos choravam. Foi muito legal.
Houve diferenças de set list entre os concertos de Lisboa e Zurique?
O set list foi quase o mesmo. Nas duas locações teve a homenagem ao John e ao George. Here Today e All Things Must Pass - essa numa versão muito boa. Em Portugal a homenagem foi estendida a Ringo com um trecho de Yellow Submarine, que não foi tocado em Zurique..
Um dos pontos que mais chamou sua atenção foi o novo arranjo para All Things Must Pass. Por que?
Eu tenho uma gravação dessa música no show do Coliseu, em Roma, e a performance do Concert For George. A interpretação atual - com o arranjo feito para a Summer Tour - é a melhor de todas. Há um belo slide de guitarra, a canção é tocada num andamento mais lento - quase acústico. Para mim um dos grandes momentos da tour!
Como você classifica o pique, a energia de Paul McCartney no palco?
Como energia você não tem do que reclamar. O Paul passa o show inteiro em movimento - anda, canta, toca, brinca, não aparenta cansaço. É como ele sempre diz: gosta daquilo que está fazendo, e é o que a gente nota e sente. Você percebe a intensidade na forma como ele interpreta as músicas. Passa a impressão de que ele se emociona sempre, mesmo após a milésma performance de Yesterday...
Você encontrou muitos brasileiros no show de Lisboa?
Tinha vários brasileiros no show de Portugal. Alguns residentes naquele país. Encontrei com um paulista que vive em São Paulo mas estava em excursão pela Europa. Assisti o concerto ao lado da minha esposa, o que foi um momento especial para mim. Ela, que não é beatlemaníaca, mesmo assim adorou o show...
O que você vai guardar como souvenir dessa presença na Summer Tour já que assistiu dois shows práticamente em sequência?
O maior souvenir é sua presença e a lembrança que eu sempre guardarei desse momento. Vi um beatle! Vi meu ídolo Paul. Minhas belas fotos, muito nítidas também vou guardar com carinho. O material de Lisboa principalmente. Em Zurique eu consegui camuflar minha filmadora e registrei práticamente o show inteiro com excelente som e imagem. Não é filmagem profissional mas para mim representa um documento importante de recordação e de registro.
Como funcionou a comunicação do Paul com o público nos dois shows?
O Paul se preocupou bastante com a questão do idioma porque em cada cidade é uma lingua diferente. Ele certamente contratou tradutores para dar-lhe dicas de idoma. Em Lisboa uma pessoa traduzia tudo o que ele falava. O material era digitado em português e jogado nos telões. Fora as partes nas quais ele mesmo falava, lendo textos que estavam no chão do palco. Em Zurique por conta do idioma, ele também se esforçou em arranhar o alemão. E se fêz entender bem pelo público suíço.
Em Zurique, a chuva atrapalhou de alguma forma o clima, o pique do concerto?
Não sei se é porque ele já está acostumado com esse clima chuvoso e frio, mas em momento algum o ambiente do show parece ter-lhe tirado o ânimo. Acho que ele pulava até mais. Quando o show começou todos baixaram os guarda-chuvas, menos eu que estava com a filmadora e não podia molha-la. As pessoas ficaram ensopadas, alguns estavam de capas de chuva. Todos se divertiam sem se incomodar pelo frio ou a chuva. Durante todo o show tivemos uma chuva fina e persistente.
Como você fêz para filmar o show debaixo de chuva?
Minha gravação ficou um pouco dificultada pela chuva pois eu operava a câmera com uma mão e segurava o guarda-chuva com a outra. No final do concerto o meu ombro estava acabado. Mas valeu a pena.
Foto: Adriano Cunha
Fazer audience tape não é bom negócio já que no caso de uma filmagem por exemplo, ou você filma ou assiste o show. O que você conseguiu gravar em Zurique e como avalia o resultado?
Quem vai assistir a um concerto desses com o objetivo de fazer um audience tape tem de ter em mente uma coisa: ou assiste ou grava. Gravando você perde muito do show para concentrar-se na operação do equipamento. Felizmente eu já assistira o concerto completo em Lisboa, e muito próximo do palco. Então Zurique foi mesmo para filmar, e foi legal porque eu já sabia a sequência das músicas, a produção do evento. Fiquei de propósito mais distante do palco em busca de um ângulo melhor para a filmagem. O show de Zurique foi num estádio para 25 mil pessoas, com arquibancadas e acentos, onde você podia ver tudo sentado. Quando comprei o ingresso não havia mais lugares nas arquibancadas então fui para o gramado, onde só seria possível assistir em pé. Na minha avaliação o esforço valeu porque eu consegui uma boa imagem do concerto. Filmei quase tudo, deixando de fora algumas canções mais manjadas em favor das inéditas ao vivo. Nem o braço tremendo, os gritos do público, nada comprometeu o resultado que considero 'bom' do material que filmei.
A qualidade sonora ficou boa?
Prá mim ficou bem razoável para um audience recording. Minha filmadora grava em stereo, Obtive uma boa imagem e som.
a produção da Summer Tour segue o padrão Paul McCartney, ou seja: tudo muito ensaiado, planejado?
Sim. A gente percebe isso com clareza. Tudo é muito planejado. E deu os melhores resultados já que para felicidade do Paul ele foi muito bem recebido nos dois shows que eu assisti. Deve ter ficado bastante feliz com isso. De um evento para outro as mudanças são de adaptação. O idioma - que ele sempre procura falar para agradar o público - e os detalhes que todos gostam de ver. Em Lisboa, Paul passeou no palco com a bandeira de Portugal. Em Zurique foi com a bandeira da Suíça.
Como ficou a comunicação dele em Zurique dada a dificuldade do idioma, e do clima?
Ele procurou falar da chuva, perguntou se estava incomodando as pessoas. Todos responderam que não. Ora, nada ali atrapalharia a emoção dos fãs!
A Summer Tour é também um espetáculo visual - como você avalia a qualidade da produção?
A estrutura dessa tour tem uma qualidade impressionante. Tanto em termos de áudio quanto imagem. Existem telões móveis por todos os lados. Vários telões juntos formam uma única imagem - tudo muito nítido, tanto nas laterais quanto no fundo do palco. O som é um caso à parte. Em qualquer ponto do espaço da apresentação a nitidez é a mesma e você fica sem entender como aquilo é possível...
Quais são os projetos para 2005? Assistir Ringo Starr e sua All-Starr Band?
Seria um próximo projeto já que Ringo é o outro beatle que está na ativa. É uma questão a se pensar e planejar mais uma vez, já que o medo de avião que eu sempre tive agora diminuiu. E estou aguardando que Paul McCartney volte ao Brasil, pois se vier irei vê-lo novamente.
Muitos internautas gostariam de ter feito o que você fez. Qual conselho deixaria para outros fãs que sonham ver Paul McCartney em ação?
O fã dos Beatles que tiver a oportunidade de ver Paul McCartney deve faze-lo porque é um espetáculo inesquecível. Além de toda a produção e do carisma de Paul tem as músicas, que são obras primas. Se ele vier ao Brasil de novo vai ficar mais assessível prá gente, e aconselho que ninguém perca. Mesmo que você já tenha assistido os concertos de 90 e 93, porque sempre é um novo show, um novo gás, já que Paul McCartney adora o que faz e nos proporciona um grande espetáculo.
Para encerrar: você acompanha o trabalho do site Beatles Brasil?
Em relação ao Beatles Brasil acho que foi um diferencial para o público brasileiro. Esse site que até uns 2, 3 anos foi uma novidade de peso na cena beatle brasileira e internet. Até então não existia um acesso legal em português - tão fácil e tão atualizado quanto o portal. Realmente o Beatles Brasil está de parabéns pela quantidade de informações que você pode encontrar tanto para os fãs neófitos quanto para os que conhecem tudo. Acho que os fãs brasileiros e de lingua portuguesa tem de acessar diariamente o site Beatles Brasil.
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