Entrevista
Edu Henning
Radialista e músico da banda cover CLUBE BIG BEATLES, que já se transformou em uma espécie de "Seleção Brasileira", representando o nosso país há 14 anos na Beatleweek. Entrevista realizada por Ze Lennon Produtor Cultural.


Quantas vezes a banda Clube Big Beatles participou do International Beatle Week?
Exatamente 14 vezes consecutivas. Somos anunciados como “a banda estrangeira (não inglesa) que mais vezes se apresentou no Festival”. É um feito que muito nos orgulha.


Qual foi a grande diferença entre essa viagem a Liverpool e muitas outras que a banda Clube Big Beatles já fez até a cidade dos Beatles?
Esse é um ano especial. Liverpool é a Capital Européia da Cultura e o International Beatle Week completou 25 anos. Precisávamos chegar em grande estilo. Estão desenvolvemos um projeto aqui no Espírito Santo. Fizemos uma série de apresentações ao lado da Banda da Polícia Militar. Fizemos quatro grandes shows para os capixabas. E então levamos esse espetáculo para Liverpool. Além do mais o Projeto consiste em uma parceria com a Rede Vitória (Rede Record) que mandou uma equipe de televisão e colocou no ar em telejornais 10 matérias em programas da emissora de Vitória. Matérias editadas e geradas diretamente de Liverpool. Os capixabas acompanharam todos os nossos passos na cidade dos Beatles.


Quem organizou esse Projeto?
A minha empresa, Henning Produz, foi a responsável pela criação, elaboração e execução do Projeto Liverpool 2008. Começamos em outubro de 2007 captando recursos. Os ensaios começaram em fevereiro de 2008 e fecharemos o projeto no dia 11 de dezembro quando gravaremos um CD e um DVD ao vivo no Theatro Carlos Gomes, o mais tradicional espaço de Vitória.




Quantas pessoas envolvidas?

Em cena somos 30 pessoas. Mas chegamos a Liverpool com 51 pessoas. Amigos e parentes se juntaram ao grupo. Montamos uma logística detalhada. Afinal nada poderia dar errado. Passamos por cinco aeroportos antes de chegar a Liverpool (Vitória, Belo Horizonte, São Paulo, Paris e Liverpool). Carregamos bagagens de mão, malas que foram despachadas e instrumentos das duas bandas (Clube Big Beatles e Banda da Polícia Militar do Espírito Santo). Isso sem falar do material promocional com a marca do Projeto Liverpool 2008 que foi distribuído gratuitamente em Liverpool (3 mil folders, mil camisetas e chocolates). Chegamos à cidade dos Beatles com quase uma tonelada e meia de carga. Tivemos que organizar alimentação, ver hospedagem e aluguel de ônibus. Isso sem falar carga de informação que foram repassadas para todos os integrantes do Projeto, pois, alguns nunca tinham nem mesmo viajado de avião. No final deu tudo certo.


Você tem conhecimento de algum concurso, em Liverpool ou Londres, onde sejam eleitas anualmente “as melhores bandas do mundo”?
Não. Há quinze anos freqüento Liverpool e nunca, em tempo algum, existiu concurso ou título de melhor banda disso ou daquilo. Em Londres, onde já nos apresentamos por seis vezes, não tenho conhecimento. No International Beatle Week não existe primeiro lugar, melhor cantor ou melhor guitarrista. Trata-se de um Festival de demonstração e não de competição. Se alguma banda insiste em dizer que venceu o Festival de Liverpool ou foi apontada como a melhor do mundo, não é verdade.


O Clube Big Beatles gravou um CD no Cavern Club em 2007?
Foi um convite da Cavern Records, gravadora ligada à empresa que é proprietária do Cavern Club, do A Hard Day's Night Hotel, do ônibus que é um replica do utilizado no filme Magical Mystery Tour e que é a responsável pela organização do International Beatle Week. O Cavern Club, na ocasião, estava completando 50 anos. Aproveitei o convite e a estrutura técnica disponível para captar imagens para um DVD. No acerto com a Cavern Records só poderia lançar o DVD depois que eles lançassem o CD. Agora eles lançaram do CD e estamos começando a trabalhar para colocar o DVD no mercado.




E o CD foi lançado durante o International Beatle Week 2008?
Foi. Alive At The Cavern Club é o nome do disco. A Cavern Records fez uma caixa especial comemorando os 25 anos do Festival, os 50 anos do Cavern Club e os 18 anos do Clube Big Beatles. Chamaram de The Bithday Box. Ficou muito bonito e foi uma grata surpresa. Nessa caixa, além do show gravado ao vivo no Cavern Club, tem um DVD contendo o desenho animado do Clube Big Beatles. É que dois artistas gráficos e desenhistas, Leo Rangel e Denílson Coelho, transformaram os membros da banda Clube Big Beatles em desenho animado. Bem no estilo dos cartoons dos Beatles que passavam na televisão nos anos 60. A história começa em Vitória, Espírito Santo, e acaba nos porões do Cavern Club, em Liverpool. Foi criado para ser bônus do DVD, mas a turma da gravadora resolveu colocar como extra dessa caixa.


A venda do disco em Liverpool foi destinada a um hospital que é amparado pela Fundação John Lennon administrado por Yoko Ono?
Exatamente. Essa foi a maneira encontrada pelos diretores da gravadora em conjunto com a organização do International Beatle Week. Na verdade a venda foi quase que uma forma de doação a esse hospital. No Adelphi Hotel, que funciona como uma espécie de sede do evento existe um local onde são vendidos souvenires do Cavern Club, de Liverpool e do Festival. Ali estava também o nosso disco. Quem quisesse teria que pagar o mínimo de 5 libras para levar o CD. Mínimo de 5 libras e o máximo de quanto gostaria de doar ao hospital. Não sei quanto arrecadaram. Só tenho a informação que venderam quase 300 exemplares em cinco dias. O que achei muito significativo.


Vocês receberam uma homenagem especial esse ano. Entraram para o Hall Of Fame do International Beatle Week. Como foi receber essa honraria?
Inacreditável. O Festival de Liverpool, ao completar um quarto de século, resolveu instituir o Hall da Fama. Então, em 25 anos de história, escolheram 8 nomes para inaugurar o Hall Of Fame. Oito nomes em 25 anos é um funil muito estreito. Basta pensar que cerca de 150 bandas se apresentam anualmente na cidade. Isso representa, em 25 anos, mais de 3.500 bandas do mundo inteiro. Então estar no Hall da Fama do Festival dos Beatles é algo que nunca poderíamos imaginar que pudesse acontecer. Somos a única banda fora da Grã Bretanha com esse título (os outros 7 nomes fazem parte do Reino Unido). Isso aumenta a nossa responsabilidade.




Como surgiu a banda Clube Big Beatles?

Antes da banda já existia o programa de rádio Clube Big Beatles. A banda existe há 18 anos e o programa bem antes. O nome Clube Big Beatles é uma homenagem ao saudoso Big Boy (Newton Alvarenga Duarte) que mantinha dois programas na extinta Rádio Mundial, emissora do Rio de Janeiro. Um deles divulgava a história e a música dos Beatles. O nome do programa era Cavern Club. O nome Clube Big Beatles é uma homenagem direta e descarada ao saudoso e genial Newton. E é fácil explicar: Clube (com “e” mesmo no final) de Cavern Club, nome do programa do Big Boy. Big de Big Boy. E Beatles logicamente por causa dos Beatles mesmo. O programa de rádio Clube Big Beatles começou em 78. Depois de uma verdadeira varredura realizada pela gravadora EMI o programa foi reconhecido como sendo o mais antigo do Brasil. O então Departamento de Divulgação da EMI solicitou aos seus representantes em todos os Estados que fizessem um levantamento das datas em que os programas de rádio especializados em Beatles começaram. As respostas chegaram de todas as regiões. Não foi, na época, apontado nenhum outro programa com mais tempo no ar. Pode até ser que exista. Eu não acho impossível. Mas na época não apareceu nenhum outro. Então a EMI documentou e registrou oficialmente em placa de prata que o Clube Big Beatles é o programa de rádio mais antigo do Brasil em atividade. Tenho essa placa aqui comigo.


Como vocês foram parar em Liverpool?
Quem pela primeira vez me falou do International Beatle Week (Festival de Liverpool) foi o Marco Antonio Mallagoli, do Revolution de São Paulo. Ele me telefonou e pediu material promocional da banda e também alguma gravação. Mandou o material para Liverpool. Recebemos então, em 1993, o convite oficial para participar do evento. O convite chegou no começo de junho e o festival acontece sempre em agosto. Não tivemos tempo suficiente para resolver todas as questões financeiras. Não fomos. Foi uma decepção. Mas o convite foi estendido para o ano seguinte. Tanto que estamos representando o Brasil, o Espírito Santo e a cidade de Vitória por 14 anos consecutivos. Já fizemos mais de 100 shows em Liverpool. E os organizadores do Festival já viabilizaram apresentações em Londres, nos colocaram para gravar em Abbey Road e nos levaram para dar entrevista de tocar ao vivo na Radio BBC, bem nos espírito Beatle.




Como foi gravar em Abbey Road?

Certo dia recebemos um convite que parecia um sonho. Foi difícil acreditar. Fomos convidados para gravar no lendário Estúdio 2 de Abbey Road, Londres. Orientaram-nos que gravaríamos duas músicas. Uma canção dos Beatles e outra de autoria da própria banda. Acabamos gravando Sailing, uma homenagem a Linda McCartney que tinha morrido naquela época. A gravação saiu em dois discos lançados pelo selo Cavern Record. E também registramos Hello GoodBye, dos Beatles, que ainda não foi lançada oficialmente pela gravadora inglesa. Foi como se estivéssemos em um filme. Até hoje penso naquele dia como sendo algo que aconteceu em sonho.


Nesses 14 anos fazendo shows em Liverpool vocês devem ter tido momentos especiais. Quais momentos você destaca?
Em Liverpool já tocamos ao lado de Pete Best (primeiro baterista dos Beatles) e Steve Holly (que foi baterista do Wings). Também já promovemos o lançamos o site oficial da banda Clube Big Beatles dentro do Cavern Club, Liverpool. Na ocasião aconteceu no local um chat com participações internacionais: a banda Clube Big Beatles no Cavern Club tendo ao lado o cantor Jerry Adriani. Enquanto isso, em Los Angeles, estava Ivan Lins. Beto Guedes estava em Belo Horizonte e Paulo Ricardo no Rio de Janeiro. Foi trabalhoso e divertido.



Teve um ano que abrimos nossos shows em Liverpool com um vídeo do Pelé, que tinha me contado uma história até então inédita. Segundo Pelé os Beatles mandaram um emissário até Liverpool onde estava a seleção brasileira. Isso aconteceu na Copa de 66. O homem queria marcar dia e hora para o encontro de John, Paul, George e Ringo com o jogador brasileiro. O coordenador técnico da seleção disse “nada de cabeludos na concentração”. E mandou o tal emissário de volta para Londres. Anos depois Pelé, que então jogava no Cosmos, encontrou com Lennon em Nova York. O encontro aconteceu na cantina do instituto de idiomas que os dois freqüentavam. Lennon estudava japonês enquanto Pelé se dedicava ao inglês. Foi quando Pelé foi abordado por John:

- Você sabe quem eu sou?
- Claro que sei, respondeu Pelé.
- Então por qual motivo você não quis me receber em Liverpool?
Pelé me deu um depoimento contando essa história em detalhes. Esse vídeo foi passado em Liverpool antes das apresentações da banda Clube Big Beatles. Depois de contar a história, no final do vídeo, o Rei do Futebol termina dizendo:
- ...e agora com vocês... representando o Brasil... Clube Big Beatles! Então a gente entrava tocando. Foi dessa forma que acabei documentando uma passagem inédita da história.

No ano seguinte levei um vídeo com Emerson Fittipaldi. Emerson fala da sua amizade em George Harisson e do respeito que existia entre os dois. Termina chamando (como o Pelé) a banda Clube Big Beatles. Lembro também que por duas vezes, nesses 14 anos de Liverpool, fomos destaque na capa do jornal Echo, o mais importante do norte da Inglaterra. E em 2004 tivemos uma foto da banda estampada no calendário oficial da cidade de Liverpool, confeccionado pela Prefeitura. Fomos o mês de julho. Até então nenhuma banda estrangeira tinha recebido destaque no calendário.


Você acha viável fazermos uma espécie de Beatle Week aqui no Brasil e convidarmos bandas brasileiras e estrangeiras para o evento?
Acredito firmemente que sim. Temos umas séries de dificuldades, mas, todas podem ser superadas se existir planejamento. Somos um país com extensão continental. Isso atrapalha muito. Mas se um evento desse porte acontecesse no Rio ou São Paulo poderia ser um ponto administrativamente inteligente. Ficaria mais fácil, por exemplo, para grupos como Mad Dogs (Natal) e The Beatles Fan Club Band (Porto Alegre). Imagine um evento acontecendo em Porto Alegre. Dificultaria em muito a presença de banda oriunda de cidades acima de São Paulo. Os custos de produção (passagem aérea, excesso de peso nos vôos e diárias de hotel) são altos no Brasil. O organizador de um evento do tipo Beatle Week no Brasil também precisa contar com fortes patrocinadores. É uma missão que se muito bem planejada e executada pode dar certo. O Cavern Club Rio está para ser inaugurado. Seria uma ótima oportunidade para a promoção de um Beatle Week brasileiro. Chaves, Cláudio Marcus poderiam convidar o Marcelo Fróes para organizar, para ser uma espécie de curador do encontro. Ele tem realizado um trabalho muito bom em torno dos Beatles. Marcelo tem um ingrediente fundamental para esse tipo de projeto: credibilidade.


Se você se encontrasse pessoalmente com Paul McCartney e com o Ringo Starr qual pergunta que faria para cada um deles?
Tive a oportunidade de encontrar duas vezes com Paul McCartney e uma vez com George Harrison. Na ocasião fiz entrevistas para a televisão e jornal. Você fica tão focado no que vai perguntar e no pouco tempo que tem para fazer o seu trabalho que o profissional vence o fã. Mas se um dia, andando pela rua, encontrasse ocasionalmente com Paul e o Ringo falaria de coisas ligadas ao Brasil. Gostaria de saber o que eles acham do nosso País. Estou falando meio ambiente e política internacional. Mas também conversaria sobre música e futebol. Gostaria de saber como pensam meus ídolos.


Dê uma mensagem para os Beatlemaníacos de todo o Brasil.
Nós deveríamos seguir os exemplos dos Beatles, que mudaram o planeta para melhor. Trabalharam pela paz, pelo meio ambiente, contra o racismo e a violência. Não temos o mesmo poder de Paul, John, George e Ringo, mas podemos e devemos agir para mudar o mundo ao nosso redor. Devemos pelo menos nos preocupar com a nossa rua, com o nosso bairro e com a nossa cidade. Uma pequena ação pessoal que poderia acontecer ao som de Revolution ou Imagine. Seria um passo para um mundo melhor. Objetivo tantas vezes propagado pelos Beatles.









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