Entrevista
Fábio Fonseca


O anfitrião de Paul McCartney no Brasil em 1993 fala sobre os 13 dias que o beatle ficom eu sua casa no Guarujá.


Você já era fã dos Beatles ou de Paul McCartney? Como os conheceu?
Sou fã dos Beatles desde 1965 quando comprei pessoalmente na loja Eletroarte (esquina da rua Augusta com alameda Franca) o disco Please Please Me. Este mesmo disco foi AUTOGRAFADO pelo Paul em 1993 em casa. Na hora ele fez o seguinte o comentário: "My God, this is from another life. Where did you get it?" É claro que eu contei para ele a história toda, não é?

E quanto à casa, há quanto tempo pertence à família?
Eu a construí de 1988 a 1992. Demorou 5 anos! A causa da demora: Plano Bresser, Plano Collor, Plano Real, etc, etc.

Como pintou a proposta para alugar sua casa ao Paul McCartney?
Eu estava em casa no computador quando a empregada me falou: "Tem um doutor Maranhão querendo falar com o senhor". Eu não conhecia nenhum doutor Maranhão (nem Amazonas, nem Pará, nem Piauí) e atendi meio a contragosto. Quando ele me falou o objetivo da ligação eu pensei que era trote, mas ele foi muito sério e profissional e me contou uma historia crível: a de que o Michael fulano de tal, agente do Paul McCartney, recebeu a missão do próprio Paul de alugar minha casa depois que o corretor de imóveis lhe enviou fotos aéreas de casas do litoral paulista e ele gostou da minha. O fato de minha casa estar dentro de um condomínio fechado, facilitando a segurança, foi também um fator positivo.

Depois de tanto tempo, seria possível que você revelasse detalhes do negócio, como valores e cláusulas contratuais? Por quantos dias a casa foi ocupada pelos McCartney?
Cláusula contratual: sem encontrar o homem não há negócio! A casa foi alugada primeiramente por 9 dias e depois o Paul quiz ficar mais 4. O valor foi US$ 1.000,00 por dia. Deixaram tudo pago antecipadamente, é claro. E os 4 dias extras posteriormente à saída.



Em que ocasião vocês fizeram essas fotos com o Paul?

Essas fotos foram feitas no dia da saída do Paul. O desgraçado do Michael quis furar a cláusula de encontro alegando umas besteiras de seguro. Sabe o que fizemos eu e minha família depois de uma discussão brava com ele? Fomos direto à casa dispostos a enfrentar a segurança. Mas acho que alguém deve tê-los avisado, pois iam saindo da frente à medida em que avançávamos em direção à casa. O Paul estava do lado de fora e sabe o que me falou? "Hiiiii. You must be Fabioooo. How come you took so long to pay me a visit?" Obviamente ele não tinha a menor idéia do que seu agente fazia em nome dele e da brutal dificuldade que qualquer mortal, dono da casa ou não, tinha para chegar perto dele numa boa.

Quando eles foram embora, vocâ não fez uma busca geral no imóvel, à procura de alguma relíquia?
Mas é claro. Encontrei um sabonete com 3 fios de cabelo, um óculos escuro horrível e uma mancha de sangue no travesseiro (pernilongo?). De qualquer jeito, conservei o cabelo e o sangue para num futuro que espero não muito distante, poder reproduzir o DNA e montar um Paulzinho só para compor para mim. Esperem!!!



Paul McCartney teve algum imprevisto na casa ou na praia do Guarujá?
Teve dois imprevistos muito engraçados. O primeiro quando estava velejando, terminou o vento e o barco estava meio longe de minha casa. Ele estava com sede, estava muito quente, então entrou na casa de uma amiga minha para pedir um copo d'água. Essa amiga estava na sala sozinha e de repente o Paul aparece na frente dela e diz:

- "Would you have a glass of water, please?". Minha amiga perdeu a voz, ficou gaguejando, não conseguiu pegar o copo d'água, o Paul então a abraçou e disse:

-"That's OK". A empregada então deu o copo d'água, o Paul agradeceu, bebeu, deu um beijo na minha amiga que continuou paralizada. Só depois de alguns minutos ela conseguiu se recompor e finalmente entender que o Paul McCartney em pessoa esteve lá, na casa dela e a beijou. E não era sonho!

O segundo aconteceu com um vizinho nosso, alemão, que há anos montava seu guarda-sol em frente à minha casa. Por razões de segurança o guarda-costas do Paul, muito delicadamente pediu ao Max (nome do alemão) que saísse de lá mas o Max foi irredutível. Foi então o Paul pessoalmente explicar ao alemão que não era chatice dele Paul e sim da companhia de seguros que exigia (como de fato exigia) uma distância livre de estranhos de 200 metros (!!!) da casa. O alemão então falou no seu característico sotaque germânico em inglês (como ele mesmo me contou 3 dias depois):

- "A senhor me desculpa mas pessoas educadas se apresentam antes de falar com outra. Minha nome é Max, e sua? "

- "I'm Paul, nice to meet you Max".

- "Paul, hum, sei. (olhando o Paul de cima abaixo). Paul de que, senhor?".

- ''McCartney".

- "Paul McCartney, a beatle de Inglaterra?" - diz Max finalmente entendendo com quem falava.

-"Yes, that's me".

- "Que grande prazer senhor Paul, eu ser muito fã de senhor, desde moça. Gostar muito de música de senhor e seus amigas mas eu usar este lugar de praia há muitos anos e eu não vai sair daqui".

E sentou-se no seu guarda-sol. Quem assistiu a cena de longe disse que o Paul sorriu, abriu os braços para o segurança, deu meia volta e voltou para a casa, achando graça na "alemanzisse" do Max.

E quanto à equipe de apoio (camareiras, cozinheiras, seguranças, etc) vieram todos com ele ou são brasileiros?
A segurança funcionava assim: 3 círculos. No primeiro círculo, a área da casa e do jardim, só com o segurança pessoal, um tal de John, loiro e magro mas muito forte, especialista em artes marciais, armas brancas e leves e é o que "pula na frente" em caso de emergência ou seja, é o cara que toma o tiro. Não sai de perto da família mas mantém distância respeitosa. É meio "invisível" mas está sempre lá. Quando o Paul ia navegar ele ficava na praia mas quando ia andar ele ia junto. No segundo círculo estão os seguranças escoceses, todos de confiança e a serviço há muitos anos. Ficavam hospedados na casa vizinha e surpevisionavam toda a área em volta. Eram em número de 6, todos "armários" e especializados em armas. Matam primeiro e perguntam depois. Foram os que mais me assustaram quando eu e minha família estávamos "invadindo" nossa casa após a discussão com aquele idiota do agente do Paul. No terceiro círculo, distante uma quadra, ficavam os policiais de colete preto da Polícia do Rio de Janeiro (porque do Rio não sei, acho que é pela experiência com bandidos) que dormiam fora do Condomínio e se revezavam na cobertura mais macro. Não me lembro quantos eram. Mas não paravam de falar nos walkie-talkies. O Paul trouxe sua própria camareira que é de confiança e trabalha com ele há 20 anos. Minha cozinheira e meu caseiro ficaram o tempo todo servindo.

Você conhece alguma história interessante que tenha ocorrido durante a estada dele na casa?
Bom, minha cozinheira canta muito na Igreja Protestante, tem voz bonita e canta enquanto cozinha. O Paul adorou isso e não é que a convidou-a para um dueto na sala com seu piano? Outro fato engraçado diz respeito ao fanatismo que a Linda tinha pelo vegetarianismo, que ela acabou impondo a toda família. Quanto chegou na casa, mandou jogar fora tudo o que tinha de linguiça, salame, etc da geladeira. Até um banquinho de couro mandou esconder de sua vista. Mas o filho deles, na época com 16 anos, fugia toda noite com o segurança escocês para a praia do Perequê, distante 20 km, para comer uma carninha na churrascaria.

Mais alguém da cidade teve contato ou tirou fotos com o Paul? Ele chegou a andar pela praia ou pelas ruas?
O Condomínio era muito vazio na época, apenas umas 10 ou 15 casas e a praia tem 3 km. Não tinha rua para andar, a não ser a principal, que ele ia de carro para a cachoeira. Quando andava na praia ia com o segurança conforme eu falei acima, mas navegava no seu veleirinho sozinho. Ninguém nunca chegou perto dele porque não sabiam que ele estava lá. Era uma das cláusulas do contrato que eu tive que obedecer: o sigilo.

Ele estava no Brasil para fazer dois shows (SP e Curitiba) nessa ocasião. Você foi ver os shows?
Fui no de São Paulo com a família toda. E era engraçadíssimo imaginar que depois do show ele iria de helicóptero para minha casa dormir na minha cama!

Como está a casa hoje? Ainda pertence à sua família?
A casa está do mesmo jeito. Minha família costuma usá-la muito em feriados e fins de semana prolongados. Quando o Paul saiu eu fixei uma placa prateada na minha cama com os dizeres: "Nesta cama dormiu o Beatle Paul McCartney de 3 a 16 de Dezembro de 1993". Se meus netos vierem a precisar de dinheiro no futuro com certeza a cama vai valer alguma coisa...









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