Os dias de Baker com Macca
Matéria orginalmente publicada no site IC Liverpool
(Nota da tradução: o texto original em inglês não reproduz as expressões mais agressivas de Geoff, preferindo substituí-las por asteriscos. A interpretação fica por conta do leitor.)
Tradução de Camila Cavalcanti
Colaboração: Joana Darc da Silveira
PADDY SHENNAN passa uma tarde nos estúdios Abbey Road com Geoff Baker - o braço direito de Sir Paul McCartney nos últmos 14 anos.
O representante de Paul McCartney na Terra acende um dos 60 cigarros que irá fumar hoje e demonstra desprezo sobre a crença de que ele jamais cometeria a maior traição...
"Há tanta chance de eu escrever um livro sobre Paul quanto há de eu levar a vida a sério", diz Geoff Baker, que tem servido seu senhor e mestre como assessor de imprensa por 14 memoráveis anos, dignos de notícia. "Eu poderia escrever centenas de livros sobre Paul, mas eu nunca faria isso - mesmo se alguém colocasse um revólver na minha cabeça. "Diminuiria tudo. Eu acho inteiramente errado trabalhar para alguém e depois escrever um livro sobre essa pessoa".
Mas você poderia fazer isso? Não haveria nada que te impedisse? "Claro que eu poderia fazer isso. Mas isso não é motivo. Nunca vai acontecer". Isso seria decepcionar Paul, e ele mesmo. Apesar que Geoff, em suas próprias auto-depreciativas palavras, "fodeu tudo" e desapontou seu chefe recentemente.
E ele é importante o bastante para falar do "Incidente David Blaine" apenas poucos minutos depois de nos conhecermos, enquanto ele se prepara para supervisionar uma tarde de entrevistas promocionais para a TV sobre o renascido álbum do Beatles, Let it Be...Naked.
Ele foi despedido por Paul - apesar de ter sido readmitido em algumas horas - depois de ter se noticiado que ele teria avisado um fotógrafo do London Evening Standard que seu chefe estaria visitando o "show" de Blaine ao lado da Tower Bridge.
Houve relatos de um certo mal-estar, incluindo uma briga entre os camaradas de Paul e o fotógrafo, apesar de Paul ter mais tarde classificado o incidente como "um grupo de amigos saindo à noite" e a "demissão" como uma brincadeira. Algo que você queira acrescentar, Geoff? "Sim, eu sou um ****"
Então as teorias de conspiração estavam erradas e isso não foi um evento Baker/McCartney para gerar mais manchetes? "Nós não somos tão malucos assim!" Explicando melhor a relação deles, ele acrescenta: "Tem havido alguns problemas estranhos ao longo dos anos, mas sou sempre eu - eu sou a causa. Sou eu sendo impulsivo, cabeça-quente, porque eu realmente sou. Não importa se estou trabalhando para Paul McCartney, o Papa ou quem quer que seja. "Eu sou um pouco intolerante a autoridade. Mas se Paul McCartney fosse um cabeça-oca eu não trabalharia pra ele" .
Ele faz uma pausa para considerar seu papel na vida: "Eu acho fantástico trabalhar para alguém que é a pessoa mais famosa do mundo, tirando talvez o Papa - apesar de que as músicas do Papa não são tão boas. "Mas provavelmente acabará muito em breve - provavelmente depois do Paul ler isso! Eu realmente não ficaria surpreso se acabasse esse ano".
Você esteve fazendo o trabalho por 14 anos, então por que isso deveria teminar agora? "Porque eu não suponho nada. Eu continuo tendo que mudar o comentário, mas quando eu tinha 10 anos de trabalho com o Paul eu disse: "Se você trabalhar para Paul McCartney por 10 dias isso realizaria sua vida'. Eu não estou dizendo isso com puxa-saquismo nenhum, porque ele vê muito disso". "Mas é fabuloso. É um privilégio; não é trabalho. Tem sido uma explosão. E é isso que eu acho que é pra ser; diversão e gargalhadas - é só rock'n'roll".
Nós estamos, nesse ponto, sentados nos degraus do Abbey Road estúdios. Alguns turistas estão nos observando. Um provavelmente está dizendo: "Olhe aquele cara - deve ser Geoff Baker". Geoff é non-stop - possivelmente usa pilhas Duracell - dá maravilhosas impressões de uma criança hiperativa e um trem desgovernado nesse mundialmente famoso ponto de referência musical em St John's Wood, Londres.
Ele concordou, finalmente, em sair da sombra de Paul McCartney e entrar nos holofotes - mas só porque isso lhe dará a chance de promover mais a nova, despojada versão do álbum dos Beatles, Let it Be.
Geoff, que é uma grande companhia e uma das pessoas mais entusiásticas que eu já conheci, está entusiasmado. Muito entusiasmado. Durante o decorrer de mais de quatro horas, ele contará a mim e a muitos outros "Os Beatles estão na ****** da capa da NME pela primeira vez desde que eles se separaram! Isso não é legal?". Equipes da BBC News, Radio 4, Associated Press TV News, Sky News e uma estação de TV francesa estão aqui para entrevistar Paul Hicks e Guy Masse, dois dos produtores que remixaram o álbum usando a tecnologia digital do Abbey Road (Allan Rouse foi o terceiro).
Sir Paul, naturalmente, está em casa com sua esposa, Heather, cuidando do bebê. Geoff, então com mais do que "a little help from his friend", o free-lancer Berni Kilmartin, passa uma frenética tarde supervisionando um pequeno circo de mídia (acredite, equipes de TV temperamentais podem precisar de muita atenção e supervisão).
O pai de quatro filhos de 47 anos, carrega coisas, fuma alguns cigarros, corre pelos corredores, distribuis kits para imprensa, fuma alguns cigarros mais, assiste às entrevistas - e encontra minutos preciosos aqui e ali para responder minhas perguntas e ser fotografado por Frank Loughlin do ECHO.
Quando nós chegamos, ele está de joelhos na frente dos Beatles, colando os posteres gigantes - e louvando o novo (velho) álbum para os céus: "Esse é um grande dia para Liverpool, Paddy. E a audácia da coisa toda - remixar um álbum feito há 33 anos atrás"!
Sua aparência rude e alerta - uma mecha de desgrenhados cabelos grisalhos, um suéter azul e jeans - parece combinar com o caos organizado de seu agitado dia.
Nascido em Dorset, Geoff, que vive em Wilt Shire com sua segunda esposa, certamente não poderia ser descrito com um homem pretensioso, e ele diz: "Eu gosto de fato de que Paul não é pomposo. Quando ele foi nomeado cavaleiro, ele aceitou a honra em favor do povo de Liverpool. Ele não precisava fazer isso; não ia vender mais discos por causa disso".
Ser Paul McCartney - e ser o assessor de imprensa de Paul McCartney - significa perguntas, perguntas e mais perguntas. E Geoff diz: "A coisa mais ridícula que eu vejo neste emprego é quando entrevistadores dizem a Paul 'Agora eu vou fazer uma pergunta que nunca lhe fizeram antes'. Porque ele com certeza já ouviu a tal pergunta".
Enquanto outra equipe de TV se organiza na sala de controlde do estúdio dois do Abbey Road (onde Sgt Pepper foi gravado), Geoff explica sua não-rotina de trabalho: "Tudo depende do projeto. Se Paul está na estrada, eu estarei trabalhando com ele todos os dias. Mas em outras épocas eu posso passar semanas sem falar com ele".
Pode ser só rock'n'roll, mas Geoff Baker gosta disso. Na verdade, ele adora isso. Depois de recompensar a equipe de TV francesa com uma entrevista - eles vieram de longe - ele finaliza me contando qual sua canção preferida dos Beatles.
"Birthday, do White Album, porque estava tocando quando eu fiz sexo pela primeira vez - quando tinha 14 anos de idade". Muito rock'n'roll, Geoff. E eu aposto que você acendeu um cigarro imediatamente após...
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