Jose Carlos Almeida
JC é uma figura polêmica do mundo beatlemaníaco. Responsável pela "cara" do portal Beatles Brasil, o webdesigner baiano conquista amigos com a mesma facilidade com que acumula desafetos na rede. Graças ao seu gênio forte e ao humor irônico e direto, JC tornou-se um dos principais alvos de críticas e retaliações entre os fãs internautas. Por outro lado, o seu inquestionável talento o transformou em um dos grandes profissionais quando o assunto é produzir sites. É este talento que ilustra as páginas do Beatles Brasil, hoje o maior e mais acessado portal em língua portuguesa sobre John, Paul, George e Ringo. Nesta entrevista JC fala um pouco sobre o nascimento do portal, as histórias ao longo destes 4 anos, e sua vida como um beatlemaníaco. [Por Gustavo Montenegro]
Qual sua lembrança mais antiga dos Beatles?
Sem dúvida, são os noticiários sobre a morte do John. Eu já podia até ter ouvido alguma coisa deles, mas só nessa época eu vim saber que eram quatro caras, etc. Porém, o primeiro disco só veio alguns anos depois, e de forma bem curiosa: o primeiro "beatle-disco" (se é que se pode chamar assim) que eu comprei foi o compacto "Too Late for Goodbyes" do Julian, que fazia o maior sucesso na época. Em seguida, veio o maravilhoso "Regards to Broad Street" do Paul, que muitos renegam, mas eu adoro até hoje! Só depois chegaram os primeiros discos beatles de fato: a coletânea 20 Greatest Hits e o Abbey Road. Aí, sim, eu comecei a viajar de verdade, a perceber que minha vida estava mudando pra sempre. O último da coleção oficial que comprei foi o Yellow Submarine. Mas uma coisa eu não posso esquecer: meu primeiro beatle-item, bem antes dos discos, foi aquela revista amarela "Rock Confidencial", que eu comprei com o dinheiro que um tio havia me dado para a passagem de ônibus. Eu li umas mil vezes. Tinha até as fichas policiais dos caras!
Você se considera um colecionador?
De forma alguma. No máximo, seria um micro-micro-micro-colecionador. Sou como o nosso amigo LPA: me considero um guardador. Mas a comparação é só como postura, pois minha coleção é muito modesta. Hoje eu conheço gente que tem coleções inteiras de discos de vinil de várias nacionalidades. Eu nem sonho com isso, e nem teria tempo para apreciá-los devidamente. Sem falar na fortuna que teria que ser gasta para fazer uma coleção apenas razoável. Mas tenho orgulho de dizer que nunca vendi nada e ainda tenho praticamente tudo que comprei, desde o primeiro item (uma revista "Beatles Confidencial", nos anos 80) até o último. Agora, do ponto de vista do povo daqui de Itabuna, eu sou um grande colecionador, afinal, os beatlemaníacos aqui são figuras raríssimas. De qualquer forma, considero que minha pequena coleção tem ainda 10% do tamanho que um dia alcançará. E com certeza absoluta, meu o beatle-item mais querido dos que vivem aqui em casa é o Portal Beatles Brasil.
Vamos falar um pouco de seu trabalho como webdesigner. Como começou seu envolvimento nesta área?
Quando acessei a Internet pela primeira vez, isso há uns 8 anos, fiquei fascinado. O Windows 95 tinha acabado de ser lançado e tudo era Internet. Eu próprio já tinha micro, mas sem fax-modem. Então, comprava toneladas de revistas sobre o assunto. Talvez por ser um trabalho típico para preguiçosos, me identifiquei de primeira com esse lance de fazer sites. Como a Internet estava na boca do povo, muitos empresários começaram a me procurar para fazer sites para suas empresas. Aprendi a fazer sites "na tora", e até hoje eu prefiro fazê-los com um programinha que copiei em 1996, o Homesite 2.0 Beta 3. Ele já tá na versão 5 e lá vai fumaça, mas eu continuo com o antigão. Então, desde o começo, Internet sempre foi mais trabalho do que diversão. Hoje eu vivo só disso, tenho vários clientes aqui em Itabuna e Ilhéus - mas meu xodó continua sendo o portal Beatles Brasil.
Então como surgiu a idéia do portal?
O domínio www.thebeatles.com.br já existe há pelo menos uma década, mas antes era um site menor, mais limitado, com algum material sobre os Beatles, mas muito pouco. O Ze Lennon, na época, ainda não tinha noção sobre como lidar com um grande portal, como o nome dos Beatles sugeria. Assim, quando o conheci em uma lista de discussões, me pintou a idéia de propor uma parceria, onde eu cuidaria do site e ele da parte mais "empresarial" - tá mais no perfil dele.
Isso foi há uns 4 anos, e depois de alguns meses de planejamento, finalmente saiu a primeira versão do portal Beatles Brasil. Tivemos muita sorte, pois veículos importantes noticiaram o lançamento, como a revista Veja e o jornal Estadão. Com isso, já começamos com um bom número de visitas diárias. A idéia básica do portal é ser o grande núcleo nacional da Beatlemania, onde qualquer fã que queira ser colaborador é bem vindo. Com essa filosofia, acabamos formando uma equipe de primeira linha, com colaboradores, redatores e pesquisadores que não deixam a desejar em comparação até às grandes publicações nacionais. É, camarada... a elite da Beatlemania nacional hoje colabora diretamente ou indiretamente com o portal Beatles Brasil. Mas de certa forma, eu já sabia disso desde o começo, e praticamente todos que eu convidei aceitaram. O fã dos Beatles sempre teve a maior boa vontade com esse tipo de iniciativa.
Mas junto com o sucesso o portal também trouxe alguns aborrecimentos, certo? Algumas pessoas parecem não gostar do Beatles Brasil.
Sim, tive algumas aporrinhações. Mas não se compara à receptividade positiva que o portal vem recebendo todo dia. No geral, qualquer um gosta de ver um site com tanto conteúdo, sendo que ainda pode ser colaborador. Mas há, de fato, uma "turma do contra", que antigamente sacaneava, ataca, lançava textos, campanhas e sites difamatórios. Não me importo e até acho engraçado - uma curtição. Certa vez, um grupinho se organizava para atacar o portal pelo fórum, por e-mails, pela lista, etc. Já até cometeram alguns vandalismos, mas era interessante ligar o micro e sempre ver uma novidade contra mim. Me sentia como o Dylan em relação àquele cara que sempre recolhia seu lixo e publicava o que encontrava. Meu erro foi um dia ter dito em um chat: "venham, continuem me dando ibope!". Aí eles se tocaram e nunca mais fizeram nada. Bons tempos.
Mas pra mim, os maiores aborrecimentos que já tive no portal não foi com esse tipo de gente. O pior mesmo é quando o provedor antigo dava pau e tirava o portal do ar por alguns dias. Era um stress enorme, já cheguei até a chorar - mas agora estamos hospedados, depois de pular de galho em galho, em um provedor (imagine só!) de Portugal, que nos dá muita segurança e assistência. Porém, ainda fico super estressado quando percebo que o portal já está com alguns dias de atraso em alguma atualização. Isso me afeta intimamente, uma verdadeira deprê. Ainda bem que tem a Central de Notícias...
Já que você tocou no assunto, vamos falar sobre um dos melhores frutos do portal, a Lista Beatles Brasil. Algumas das principais figuras da beatlemania nacional estão nela. Esperava que fosse tão movimentada?
A lista de discussões Breatles Brazil é um verdadeiro olimpo! Ali eu tenho certeza que estão as principais figuras da Beatlemania nacional. Tudo bem, muita gente importante nem sabe que ela existe. Mas me orgulha saber que somos produtivos como qualquer equipe de jornalismo dos grandes veículos. Praticamente todas as atualizações do portal são escritas por membros da nossa lista. A maioria chegou, em algum ponto, foi escrevendo um texto ou outro, então já era colunista e membro fixo da equipe do portal.
Me lembro que nos anos 80 e começo dos 90, a Beatlemania era dificil para quem vivia aqui no cu do mundo. Era difícil até encontrar pessoas para conversar sobre os Beatles - e ainda é. A lista salvou minha vida, nesse sentido, e salvou até gente que vive nos grandes centros. Se eu tivesse um portal e uma lista desses naquela época, eu seria viciadão. Não vou citar nomes dos membros, pois só para listar meus favoritos seria uma página A4 inteira. Mas gostaria de fazer uma menção especial ao amigo Carlos Assale. Além de ser um dos membros mais ativos da lista (também é o principal moderador), já escreveu maravilhas para o portal e foi o primeiro Beatle-amigo que eu fiz na Internet, bem antes da lista e antes até do portal ser lançado. Acho que nosso contato foi feito na época do lançamento do meu primeiro beatle-site, o Revolver. Isso faz um tempão. Já passamos por boas e más, mas espero que nossa amizade vá até o fim dos tempos.
A lista tem vários tipos de membros. Uns mais ativos (que são os colaboradores do portal), uns mais contidos e outros que agem como observadores e ficam apenas na surdina. No meio de tanta informação, já rolaram debates magníficos sobre vários aspectos do universo beatle, como também quebra-paus homéricos. Você lembra de alguma história em particular?
Sim, há muitos membros ocultos, que usam a lista só para ler, se informar de forma passiva. Há ainda os que raramente enviam mensagens e os que participam diariamente. Respeito os três tipos, pois eu mesmo sou membro "oculto" de algumas listas (sobretudo de assuntos que não manjo muito), entre as quais, algumas sobre quadrinhos, webdesign, Vasco da Gama, fotografias e outras. Também faço parte de umas listas estrangeiras sobre a Nico, Dusty Springfield, Arthur Lee e Love, etc. Nessas, sou do tipo "de vez em quando".
São tantas as histórias que eu até tenho dificuldade de lembrar de uma. O legal é que a lista, mesmo nos piores momentos, conseguiu manter uma certa elegância, um certo charme - salvo raríssimas exceções. De vez em quando entra algum espírito de porco, ou então retorna algum fantasma do passado. Mas até isso é legal, pois consolida nossa aura de liberdade e democracia. Se for citar um "pior momento", eu diria que foram os poucos casos de cobranças públicas a calotes lendários, outro problema sério que já acometeu a Beatlemania. O quebra-pau mais divertido, na verdade o primeiro que me lembro, foi entre alguns fãs das antigas, que passaram dias tentando um provar que o outro não havia tirado fotos do George Harrison no Brasil, em 79. Foi engraçado e ao mesmo tempo de altíssimo nível. Aliás, na maior parte das vezes, os quebra-paus são muito engraçados, divertidos. E acabam em um ou dois dias. Até que nunca mais rolou nenhum. Já estou sentindo falta...
Hoje você pode ser considerado um expoente importante na beatlemania nacional. Quem você admira neste meio? O pessoal antigo da época de fã-clubes e fanzines, ou a turma mais recente que trabalha na Internet?
Na Beatlemania Nacional tem umas figuras que eu já admirava desde os anos 80. Se destaca o Mallagolli, que lançou aquelas duas revistas maravilhosas "Beatles Documento" e "John Lennon Documento". Sem falar nas dezenas de fanzines xerocados que tenho aqui, e da própria revista Revolution. Muito antes da Internet, ele já preenchia o mundo beatle nacional de informação. Sem o trabalho dele, que me inspira até hoje no portal, nem sei como seria. O Ze Lennon veio bem depois, mas também conquistou minha admiração pela sua honestidade e esforço. Mesmo antes de conhecê-lo pela Internet, eu já recebia umas cartas suas, e era muito legal. Na época, eu ficava pensando: "esse cara não ganha dinheiro com isso, e ainda gasta! como pode?" E hoje sou eu que estou ao seu lado, e sei que o que nos motiva é a paixão e o amor pelos Beatles e pela boa música.
Com a chegada da mp3, passei a ser fã também de músicos de bandas cover, entre os quais se destaca, claro, o nosso maestro Beto Ianicelli. E também os talentos jornalísticos do nosso portuga LPA, você (Gustavo), Marcelo Fróes, Vitor Suman e tantos outros. Tem mais gente, gente que eu conheci com a Internet, mas se eu for me arriscar a citar todos, vou esquecer alguns. Sobre essa história de "expoente", bondade sua, aliás, só um brother como você poderia ter a idéia de fazer uma entrevista comigo. Mas o portal não seria nada sem o trabalho dos colaboradores.
Fale um pouco sobre seu encontro com os caras do Iron Maiden. Grande emoção, não?
Sim, isso graças ao colega de lista, o amigo Marcelo Fróes. Ainda vamos ter muitos motivos para que a nossa amizade cresca ainda mais, mas só por isso eu já serei seu amigo até a morte. Sou fã do Iron desde 86, quando lançaram o Somewhere in Time, portanto, há tanto tempo quanto os Beatles. Mas nunca imaginei que um dia fosse abraçar os caras e tirar fotos. Bom, na verdade isso rolou só com o Bruce, o Steve, o Adrian e o Dave. Mas são os principais, né? Os outros dois sairam meio apressados demais, mais os caras foram muito atenciosos conosco. Disso eu nunca vou me esquecer: 16 de janeiro de 2004, Rio de Janeiro. O show foi no dia seguinte, mas imagine só você tocar, fotografar e estar perto dos caras do com o Iron Maiden! Até pedi pro Steve Harris me mostrar os dedos mágicos.... e ele mostrou! Não estou falando de uma banda qualquer, e sim do IRON MAIDEN! Puta que pariu!!!
Pra concluir, que tal a gente dar uma de Marília Gabriela e fazer aquele esquema rápido de perguntas e respostas?
vai fundo.
Um beatle
John.
Um disco dos Beatles
Album Branco (porque é duplo).
Um disco solo
Living In The Material World, de George Harrison.
Algum livro?
Sobre os Beatles: Anthology.
e fora Beatles?
"O Fio da Navalha", de WS Moughan.
Time do coração
Vasco da Gama.
Coisas que você ama:
Minha família e meus amigos.
E que odeia:
Tanta coisa, que nem me lembro...
O futuro do Beatles Brasil
Vai continuar como já é... dando espaço pra todo mundo que quiser escrever textos sobre os Beatles.
chega, né?
Tá de bom tamanho...
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