Luis Pinheiro de Almeida

Foi lançado em Portugal o CD "All You Need Is Lisboa", com versões de músicas dos Beatles gravadas por artistas lusos. Luis Pinheiro de Almeida, idealizador do projeto, nos fala sobre o disco.



Este disco é uma antiga ou uma nova idéia? O que o inspirou a produzir o disco "All You Need Is Lisboa"?
Quando em Maio de 2002 ficou decidida a edição do livro "Beatles em Portugal", eu e a Teresa Lage sempre pensámos que o ideal seria editar o livro ao mesmo tempo que o CD. Fazia sentido a edição conjunta. Sonhámos até que poderia ser uma edição única, como se faz no estrangeiro relativamente a muitos livros sobre os Beatles. O livro e o CD juntos com preço único. Por uma razão ou outra isso não foi possível. O projecto do livro foi apresentado à Assírio & Alvim, um dos mais prestigiados livreiros portugueses, que o aprovou imediatamente, enquanto o projecto do CD foi entregue na EMI onde ficou a aguardar melhor prova. O livro foi editado no Natal de 2002 e, sem falsas modéstias, foi um êxito editorial e comercial. Refira-se que na sessão pública de lançamento do livro, a respectiva banda sonora já eram as canções que viriam a constituir o "All You Need Is Lisboa". Como ter sorte dá muito trabalho e porque, em certas circunstâncias, parece que há bruxas, almocei algures naquele ano num restaurante brasileiro em Lisboa, "Sabor a Brasil", com Paulo Junqueiro, executivo da EMI e antigo produtor de músicos brasileiros como os Titâs, Gilberto Gil e muitos outros, e que já me tinha dado uma (excelente) entrevista para o portal. Nesse almoço, após umas caipirinhas e uma feijoada à brasileira, cativei Paulo Junqueiro para o projecto.

Você já lançou um livro chamado "Beatles em Portugal". Por que motivo o CD saiu com título diferente?
Verdadeiramente, só a EMI poderá responder com precisão a esta questão. O que me foi transmitido, é que, devido à protecção legal de que goza a marca "Beatles", não seria ajuizada a utilização do nome da banda de Liverpool. Assim, a editora (que vocês chamam "gravadora") optou por "All You Need Is Lisboa", acrescentando como subtítulo "os Beatles cantados por artistas portugueses". Para dizer a verdade, embora preferisse o título original, não me opus à alternativa, até porque penso que o importante é o disco ser editado e as pessoas, designadamente os fãs dos Beatles, tenham acesso a ele e se documentem sobre o que se fazia em Portugal nos anos 60 em matéria de Beatles. O resto, para dizer a verdade, é secundário e acessório.

Foi necessário algum tipo de autorização da gravadora oficial dos Beatles?
Tanto quanto sei, não. Os direitos de autor estão obviamente salvaguardados e, como espero, os consumidores portugueses vão contribuir para a conta bancária de Michael Jackson, titular da esmagadora maioria das canções Lennon-McCartney. Quanto aos direitos conexos, foram obtidas todas as autorizações, excepto num caso por motivos litigiosos. Não me compete, porém, apreciar este caso.

Que critérios foram adotados para a seleção das versões?
Curiosamente, este foi o aspecto mais fácil da organização da compilação. Ao contrário do Brasil, que editou nos anos 60 mais de 200 versões de canções dos Beatles em "português do Brasil" (o meu camarada Marcelo Fróes já fez três volumes de "Os Anos da Beatlemania"), em Portugal, por motivos políticos, económicos e outros, são escassas as versões dessa época. Quase diria que as versões existentes quase não davam para fazer uma compilação. Mas fez-se. É praticamente o pleno.

Então não há chance de um Volume Dois?
Não, não há hipótese de um Volume Dois, a não ser que, de repente, apareçam mais versões, o que acho pouco crível. Além da versão que não entrou em "All You Need Is Lisboa" por motivos litigiosos, há mais duas ou três que não encontraram o seu caminho para a colectânea por assumidas opções editoriais: ou porque, embora sendo canções gravadas pelos Beatles não eram originais (estou a lembrar-me, por exemplo, de "Boys") ou porque eram repetições, vg "Yesterday". Mas há uma canção, "The Night Before", pelos Álamos, que não consegui incluir na colectânea por manifesta falta de registo. Nem um dos membros da banda, José Veloso, meu amigo, possui tal disco. Já agora, aproveito este fantástico auditório do portal, para lançar um apelo: se alguém possuir esse disco dos Álamos, um EP Rapsódia EPF 5305, que inclui "O Comboio", "Baby It's You", "Taste Of Honey" e "The Night Before"... sou todo ouvidos.

Este lançamento, a exemplo, do livro, também é em co-autoria com a jornalista Teresa Lage?
Moralmente é. Devo confessar, porém, que me é indiferente a autoria dos projectos. Do meu ponto de vista, o que importa é que eles estejam acessíveis às pessoas, independentemente de quem os produz, embora, obviamente, devam ser projectos credíveis. Abraço estes projectos como uma espécie de serviço público. Não é o dinheiro que importa, é a herança, o legado.



E os brasileiros, como farão para comprar o "All You Need Is Lisboa"?
Esse é um departamento que já pertence aos comerciais da EMI. A título particular, posso adiantar que o disco está à venda em www.fnac.pt e em www.somlivre.pt, pelo menos, e que estão a ser encetadas negociações para a sua colocação noutras lojas virtuais, situadas em Portugal ou não. Eu comprei o meu exemplar numa discoteca de Lisboa e custou-me 15,90 euros.

Quais as fontes das gravações mais antigas da coletânea? Em algum caso você teve que recorrer à sua imensa coleção de discos de vinil?
Na maior parte dos casos e na sequência do empenho da EMI na edição do disco, foi possível chegar aos masters das canções. Quando isso não foi possível, emprestei alguns discos, bem como o advogado José Gamito, o mais prestigiado coleccionador de discos de vinil em Portugal e que faz o favor de ser meu amigo.

Você é um conhecido por ser comprador compulsivo de beatle-stuff. Continua tendo uma despesa alta com todas essas aquisições? Quais as últimas que merecem ser citadas?
Bom, esta pergunta é das tais que dava pano para mangas, como dizemos em Portugal. É verdade que reservo uma parte substancial do meu orçamento mensal para comprar coisas dos Beatles ou com eles relacionadas. Por exemplo, prefiro comprar o último disco do Rusty Anderson, que tem uma participação de Paul McCartney, a ir jantar a um restaurante. Já não há nada dos Beatles propriamente ditos que eu verdadeiramente queira adquirir. Com uma ou outra excepção, sinto-me confortável com o que, na altura, comprei e que guardei ao longo de 40 anos. Estou basicamente satisfeito. É evidente que há sempre uma ou outra coisa que nos desperta o apetite, como foi o caso do LP soviético de 10 polegadas, de 1967, que inclui a primeira gravação dos Beatles na União Soviética, "Girl", e que me custou na semana passada... 25 dólares!!!

Qual a sua opinião sobre o Rock In Rio Lisboa?
Outra pergunta que dava para estarmos aqui horas a falar. Basicamente, o que eu desejo, é que o Rock In Rio Lisboa seja um grande sucesso, que contribua para a Paz e a Harmonia, que o público português se divirta e se eduque e que, futuramente, o espaço onde se vai realizar - Parque da Bela Vista - passe a constituir uma zona aprazível onde portugueses e turistas possam gozar o meio ambiente.

Na sua opinião, onde o Paul McCartney irá se apresentar primeiro: Brasil ou Portugal?
Espero bem que seja em Portugal. Vocês já o tiveram, nós nunca!!!

Que vendagem você pretende alcançar com o "All You Need Is Lisboa"?
Eu? Nenhuma! Esse é um problema da EMI. Eu já comprei o meu exemplar! E já comprei mais dois para oferecer aos meus irmãos. Mas estou disponível para ajudar a EMI a atingir os seus objectivos.









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