Entrevista
Marco Antonio Mallagoli


Este é o famoso MARCO ANTONIO MALLAGOLI, presidente do fã clube Revolution, de São Paulo. Ele está longe de ser uma unanimidade. Muitos o criticam, outros o atacam, muitos mais ainda o elogiam. O certo é que é difícil encontrar um fã brasileiro dos Beatles que não tenha pelo menos "ouvido falar" no cara. Depois de curtas férias em Dezembro ("um mês pra lá de estressante"), Marco aceitou responder perguntas que há muito tempo os beatlemaníacos brasileiros gostariam de fazer. Aceitou inclusive responder as mais polêmicas, com a única exigência de que fossem apresentadas na íntegra. Veja agora o resultado desse bate-papo, que nos consumiu uma boa dúzia de e-mails enviados e respondidos.
Ah, e não deixe de enviar sua opinião!

O nome Mallagoli parece despertar reações adversas. Uns o defendem ferrenhamente, outros atacam impiedosamente. O que você acha disso?
Acho que as pessoas que me conhecem ou que tiveram algum contato comigo se tornaram meus amigos. Os que não me conhecem são levados, por informações que não sabem de onde tiraram, a terem raiva de mim. Pode ser por inveja de algo que eu tenha feito. E eu acho que em vez de sentir inveja ou algo parecido, as pessoas deviam sentir que as minhas realizações foram não só para mim, mas para todos aqueles que são realmente fãs dos BEATLES.

Há quanto tempo existe o Revolution, e como começou?
O Revolution começou em 1979, de uma dissidência do BEATLES Cavern Club.



Ficou alguma mágoa por causa disso?
Da minha parte, não. Como já disse, respeito o trabalho do Luis Antonio e hoje em dia, quando é necessário, falamos por telefone. Quando nos encontramos, conversamos normalmente e acho sadio existirem diversos fã-clubes. Nos EUA, existem mais de mil fã-clubes dos BEATLES, e quando eles se reúnem na BEATLEFEST, ninguém se estranha. Acho isso muito legal.

Fale sinceramente: você acha seus produtos tão caros quanto comentam?
Eu não me preocupo com isso, porque faço questão de vender apenas produtos de qualidade, e as pessoas que compram de mim sabem disso.Muita gente que vende vídeos ou CDs por aí, vendem cópias de produtos comprados comigo e, logicamente, a qualidade vai caindo a cada cópia, e por isso vendem a um preço mais baixo que o meu.
Com isso, essas pessoas estão enganado os fãs, pois estão vendendo produtos de segunda linha. E eu, como fã, quero sempre ter o melhor produto que existe no mercado. Eu compro no exterior de fontes seguras e de pessoas que são fãs dos BEATLES como eu, portanto fazem questão de vender qualidade. E depois, é só lembrar daquele ditado: "O barato sai caro".

Você é um dos poucos brasileiros que já estiveram com os 4 Beatles. O que pode falar sobre essa experiência?

Posso dizer muito, pois foram momentos mágicos na minha vida, que eu nunca me neguei a dividir com ninguém.
A primeira vez que estive com um BEATLE foi com GEORGE HARRISON, aqui em São Paulo, quando ele veio assistir à corrida de Fórmula 1, a convite do Emerson Fittipaldi. Eu e mais alguns amigos fizemos plantão no Hilton Hotel, onde ele estava hospedado, e acabamos por encontrá-lo cerca de oito vezes.
O BEATLE seguinte foi JOHN LENNON, na porta do Dakota em dois memoráveis dias - 8 e 10 de outubro de 1980. No dia 8 eu apenas o vi entrar no carro e falar um sonoro "THANK YOU" para os fãs. No dia 10, nós conversamos cerca de 15 minutos.

Eu voltaria a encontrar GEORGE HARRISON, em Los Angeles, no dia 25 de maio de 1988, quando passei uma deliciosa e inesquecível tarde ao lado dele. Além de conversar muito comigo, ele tocou guitarra, me mostrou o vídeo da música "This is Love" e alguns demos do Traveling Wilburys (sem me dizer o que era).
Em agosto de 1989, eu assisti a cinco shows do RINGO STARR e, no último, em Saratoga Springs, o empresário dele me arrumou dois convites e uma credencial de fotógrafo, sem me prometer a famosa entrada no camarim após o show. Nas três primeiras músicas, fui autorizado a ficar encostado ao palco, fotografando o RINGO. Acabei com o filme na primeira música e não tinha mais filmes para trocar. Fiquei batendo flashes na cara dele, pois fiquei sem graça de dizer que o filme havia acabado e eu não tinha mais filmes... No final do show, o empresário dele me autorizou a entrar no camarim, mas teria de ser rápido, pois ele estava resfriado, não estava se sentindo bem e seria apenas um rápido encontro. Entrei, nos cumprimentamos e um rapaz que estava lá tirou a nossa foto junto, mas ele nunca me mandou.

Depois disso, estive com PAUL McCARTNEY em um coquetel no Madison Square Graden, em novembro de 1989, mas não consegui chegar perto dele, pois a sala estava cheia de gente e fui tentando atravessá-la para me aproximar, mas quando consegui, ele a a LINDA já haviam sumido...
Mas acabei entrando no camarim dele no Rio de Janeiro, antes do dois shows, em 1990, e lá fiquei também cerca de uns 15 minutos cada vez. Esse fato se repetiria no camarim do show de São Paulo, em 1993.

Como é o seu relacionamento com proprietários de outros fã-clubes?
Como disse antes, o REVOLUTION surgiu de uma dissidência do BEATLES Cavern Club, portanto minha saída do fã-clube não foi nada amistosa, mas hoje em dia tenho uma certa amizade com o Luis Antonio da Silva. Respeito o trabalho dele, não me intrometo na vida dele, nem nas atividades dele como fã-clube, e sempre que faço eventos convido-o a participar. Creio que as animosidades entre nós passaram.
O Zé Lennon foi associado do REVOLUTION antes de fundar o fã-clube dele. Admiro o trabalho dele, somos amigos - creio eu - e acompanho sempre por Internet os eventos que ele realiza.
O Gilson, da loja Magical Club, sempre foi associado do REVOLUTION, meu amigo pessoal. Gosto muito dele, embora acompanhe o trabalho dele de longe, por falta de tempo e por ele estar localizado no centro de São Paulo, um local que é difícil eu freqüentar.
Fora eles, não me lembro de mais ninguém agora. Tenho um certo orgulho de, uma certa forma, ter influenciado várias pessoas a abrirem fã-clubes (embora não seja fácil e muita gente desista logo), e acho que quanto mais deles existirem, melhor para nós, fãs, e para os BEATLES.

O Paul McCartney recentemente revelou, em entrevistas, um ponto de vista bastante favorável à guerra (ou a uma eventual resposta dos EUA ao terrorismo). O que você acha?
Nossa! Não vi nada do PAUL McCARTNEY favorável à guerra em lugar nenhum. Não seria mais um boato? Eu duvido que ele seja a favor da guerra. Eu acho que isso é um boato sem nenhum fundamento.

Na sua opinião, o que faz as pessoas acharem você uma pessoa "antipática"? Como você acha que as pessoas adquiriram essa imagem?
Pode ser inveja e falta de conhecimento. A maioria das pessoas que me acham antipático ou não me conhecem realmente, ou nunca conversaram comigo, ou foram levadas a essa opinião pela impressão de outras pessoas. Às vezes, você está num show ou num bar e vê uma pessoa de quem já ouviu falar. Tenta falar com ela, mas não consegue. Ou tenta e pega ela num dia ruim. Ou pior: o modo dessa pessoa se expressar é diferente do que você imaginou. Aí, pronto: "Credo, como ele é antipático, exibido!". Eu, por exemplo, sei que falo muito sobre o encontro com os BEATLES, e aí vem a maldade: "Ele quer se promover". Mas não é isso. É só parar para pensar um pouquinho: o tempo está passando e hoje já nem é possível mais encontrar os quatro. Devemos valorizar momentos como esse. Sou um brasileiro que falou com eles e isso devia ser visto como uma coisa legal pra nós, fãs. Não falo de mim, Marco Antonio; falo de nós, pessoas que nos emocionamos com eles, que abrimos o jornal a cada manhã e procuramos uma notícia, uma foto, que usamos a Internet para nos aproximar deles, cada um de seu jeito, até hoje!
Eu acho que se alguém tem algo contra mim, alguma pendência, deve se dirigir a mim para resolver e, se não conseguir, aí sim pode "meter a boca no trombone", mas deve expor suas razões para isso. Será que eu sou uma pessoa tão ruim assim? Se meu trabalho fosse em vão ou mal feito, eu seria recebido pelos BEATLES? Será que as pessoas que os cercam não seriam informadas e se negariam a me receber? Estou aberto a dialogar com todas as pessoas que me acham antipático - por email, por telefone, pessoalmente, enfim, eu não estou fugindo de ninguém

Você é um dos grandes colecionadores de Beatlemania no Brasil. Seria capaz de avaliar o tamanho dessa sua coleção? Qual o item mais raro e precioso que possui?
Nunca me prendi a isso, de saber a quantidade exata do material que coleciono. Sei tudo o que tenho, mas nunca fiz uma lista, um inventário (quem sabe depois que eu morrer, meus filhos façam isso?). Tive o privilégio que as pessoas da minha idade têm em ter vivido a época. Por isso, muita coisa que tenho hoje é original da época e não tem preço, mas atualmente eu não teria como adquirir esse material. Acho que todo colecionador de BEATLES é um grande colecionador, mesmo que tenha apenas uma folha de revista ou jornal em sua coleção falando dos BEATLES. Isso já denota a grandeza de espírito dessa pessoa.
Quanto ao item mais raro que possuo, é dificil dizer, pois toda a minha coleção foi feita com amor e cada item tem para mim uma valor sentimental enorme. Tem aquela página de revista que eu roubei na sala de espera do dentista em 1965, um jornal que achei nas ruas de Liverpool, enfim, cada item tem um enorme valor para mim.
Tem os autógrafos de JOHN, PAUL e GEORGE dados a mim. Enfim, não dá mesmo para destacar um item.

Ms não dá pra ter uma idéia aproximada?
Tenho cerca de 2.800 LPs, 900 compactos, entre simples e duplos, mil CDs, 900 horas de vídeo, 50 DVDs, 1.200 livros, cinco metros de altura de recortes de revistas e jornais, diversos bonecos, uma bandeija, três discos de ouro, um baixo autografado, duas guitarras Traveling Wilburys, um baixo vintage Cavern, um violão assinatura/modelo JOHN LENNON, flâmulas, buttons, adesivos, jogos, baralhos, fitas k-7, entre outras coisas.

O que você acha das bandas cover nacionais? Existe alguma, ou algumas que você goste ou desgoste mais?
Acho legal; quanto mais bandas covers existirem, melhor, pois isso mostra que o trabalho dos BEATLES não foi em vão. Cada garoto que vejo tocando BEATLES, mesmo que de maneira errada, acho maravilhoso, pois esse garoto podia estar tocando SERTANOJO ou SAMBANOJO (definições do meu amigo NENÊ, ex-baixista dos INCRÍVEIS, que eu assumi), que é o que a TV e o rádio massificam hoje. Acho maravilhoso ver uma roda de violão e as pessoas tocando BEATLES.
Quanto às bandas que existem, posso dizer que já ouvi muitas, não só nacionais, mas internacionais, e cada uma tem sua particularidade, seu mérito e seu valor. Não existe banda ruim que toque BEATLES.
O que eu não gosto - aí vai polêmica - são as bandas covers se acharem a "melhor do mundo". Isso não existe. Só existe uma banda de BEATLES, que é a melhor e sempre vai ser - THE BEATLES (os originais).
Ninguém no mundo vai conseguir reunir quatro pessoas que se assemelhem fisicamente, toquem igual, cantem igual e sejam compositores iguais aos BEATLES. O que falta a algumas bandas covers é humildade e trabalho, pois elas querem aparecer dizendo ser a melhor banda cover do mundo, ao invés de se preocuparem em mostrar, na prática, que sabem tocar BEATLES e deixar as pessoas curtirem o trabalho. O nome já diz: "COVER", ou seja, não são originais. Toquem, divirtam o público, levem a música dos BEATLES pra frente e sintam-se felizes por estar fazendo esse trabalho, que eu acho maravilhoso.

É verdade que você é fã dos Beatles desde 1963?
Um amigo do meu pai, que viajava muito, trouxe o compacto simples da Inglaterra com a música "SHE LOVES YOU", em 1963, e foi aí que eu ouvi os BEATLES pela primeira vez. Ele disse que era uma banda que estava estourando e trouxe para eu conhecer. E posso garantir que fiquei maluco ao ouvir a música.

Qual a sua opinião sobre a pirataria de CDs?
Acho que, se não fosse pelos discos piratas - tanto em vinil como em CD -, a gente nunca ficaria conhecendo muitas coisas dos BEATLES. Vejo por exemplo, em gravações de estúdio, onde eles erram, volta a música, fazem outro arranjo, ou mesmo nas intermináveis sessões do "LET IT BE", a oportunidade de participarmos de um momento íntimo dos BEATLES, de um momento de criação. E isso, para mim, é maravilhoso.

Por que a revista Revolution durou tão pouco tempo?
Por falta de apoio financeiro, de anunciantes. Fazer uma revista independente no Brasil e distribuir é um ato de heroísmo, fazer sete edições, então...

Em uma das suas revistas você afirma que o John pretendia "cair na folia" no Carnaval brasileiro, disfarçado. Pode-se dizer que isso seja 100% verdade?
Foi o que o secretário dele, Fred Seaman, me passou.

Você ocupa uma posição privilegiada na memória do beatlefan brasileiro. Que nomes você citaria como sendo também importantes para a história da beatlemania nacional?
BIG BOY (o mais importante de todos), SÉRGIO DIAS, RONNIE VON, EMERSON FITTIPALDI, entre outros. Citar nomes pode levar a "omitir" alguém importante, e isso é sempre polêmico.

Qual a diferença da beatlemania de hoje, turbinada pela Internet, com a que vocês faziam nos anos 70?
Muito grande. Hoje você sabe das coisas com uma velocidade incrível, embora muitas vezes as informações cheguem deturpadas e muita gente se aproveita disso. Antigamente, a gente dependia de carta, correio e, raras vezes, telefonemas. Mas isso não vem dos anos 70, vem dos anos 60.

Fale-nos da sua família. Sua esposa e filhos também são beatlemaníacos?
Minha esposa gosta, até porque juntos vivemos muitos momentos maravilhosos ao som dos BEATLES. Meus filhos: Daddy Lilian é muito fã; Daisy Ligia não se liga muito; Diany Lucy e Janaína gostam bastante; João Paulo gosta muito. Mas de todos, a que mais gosta mesmo (pelo menos demonstrou isso até hoje) é a Daddy Lilian. Todos me acompanham em eventos, shows etc.

Nos anos 60, além dos Beatles, de que artistas você gostava também? A Jovem Guarda e a Tropicália representaram algo para você?
Adoro JOVEM GUARDA. Conheci e sou amigo da maioria dos artistas, conjuntos e cantores dessa época. Eu ía atrás mesmo. Coleciono tudo de Jovem Guarda até hoje. Quanto à Tropicália, além dos MUTANTES, ninguém mais ali me entusiasmou. Respeito o trabalho deles, mas não me diz muita coisa.
E adoro THE WHO, SUZY QUATRO, SLADE, MAMAS & PAPAS, JOHNNY RIVERS, RASPBERRIES, DAVE CLARK FIVE, GERRY & PACEMAKERS, LOVIN SPOONFUL, BADFINGER, MARY HOPKIN, B.B. KING, EMIIT RHODES, BUDGIE, ANIMALS, HOLLIES, PILOT, JIMI HENDIRX, JANIS JOPLIN, ROLLING STONES e muita gente dos anos 60 e alguns dos anos 70.

Há algo mais que você queira esclarecer para os freqüentadores do portal Beatles Brasil? (principalmente sobre algum assunto que tenha sido abordado no fórum)
Só me sinto magoado pelas pessoas passarem para a frente imagens e mensagens negativas, se escondendo em nomes e e-mails falsos, ao invés de assumirem seu ponto de vista pra mim. Eu achava que um portal de BEATLES serviria para levar pra frente o trabalho que a banda fez, mostrar ao mundo a mensagem maior que Jesus Cristo passou: AMOR.
As pessoas deveriam usar esse espaço maravilhoso - que é o Portal BEATLES Brasil - para curtir mais os BEATLES, para trocar informações, idéias e fazer novos amigos, mas pelo pouco que vi, as pessoas deturparam essa idéia, que é genial.




Entrevista concedida a: José Carlos Almeida
Fotos: Luiz Antonio da Silva - SP (nos cedeu a foto principal, usada na capa) e várias retiradas do site do fã-clube REVOLUTION (www.revolution9.com.br)









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