Marcelo Fróes Produz o "Tributo ao Álbum Branco"
O Pesquisador Musical MARCELO FRÓES fala sobre o tributo ao cultuado álbum duplo que os Beatles lançaram em 1968.
Como surgiu a idéia de regravar o “Álbum Branco”?
Bem, a idéia não é nada original. Outros tributos a grandes discos já foram produzidos mundo afora, inclusive inúmeros ao “Sgt Pepper” e acho que também ao “Abbey Road”. Acho que, em função do tributo brasileiro ao Pepper e também de papos sobre projetos virtuais, meu amigo Guto Ribeiro (da banda carioca Manfred) saiu com a idéia de fazer um tributo ao Álbum Branco para 2008. Eu achei legal, ainda que sabendo que estaríamos lidando com quase 30 faixas ou seja, com 30 artistas e inúmeros músicos etc. Mas, enfim, eu topei. Já havia idealizado e co-produzido um tributo a John Lennon com artistas brasileiros em 2000/2001, depois também fiz algo semelhante para Renato Russo em 2005, e agora estou organizando um para Jackson do Pandeiro em 2008. Então esse Álbum Branco começou como uma brincadeira de Orkut, através de uma comunidade que criamos especialmente para reunir interessados em regravar as faixas do disco num modelo não muito diferente de um tributo que está sendo tocado para Erasmo Carlos.
Por que do veto às bandas cover?
Para não virar concurso. Não faz sentido bandas cover copiarem as faixas e se matarem para fazer igualzinho. O espírito é justamente que cada um faça sua leitura, respeitando naturalmente a letra e a melodia. Surpreendentemente, em três dias o repertório foi fechado e já contava com alguns nomes fortes. Muitos foram se chegando nos dias seguintes, lamentando não terem sabido antes, então resolvemos fazer um tributo # 2 e igualmente as faixas foram reservadas. Artistas de renome também apareceram, outros eu chamei e toparam participar. Então teremos faixas com bandas independentes de Sul a Norte, mas também Lobão, Zé Ramalho, Pato Fu, Flavio Venturini, Autoramas, Os Britos etc. Acho que o resultado vai ser bacana.
Tudo isso para um lançamento meramente virtual?
Bem, a nossa proposta sempre foi essa. Vamos ver se todos honrarão o compromisso e depois, de posse do material, quem sabe não bate a coragem de montar uma versão em CD para registrar ainda mais “a brincadeira”?
Por que você não propôs este projeto a uma gravadora, já que já realizou alguns do tipo de forma comercial?
Porque a indústria atravessa um momento absurdo e seria surreal acreditar que investiriam na produção de um álbum duplo de 29 faixas individuais. Isso não existe mais. Eu me arrisco a dizer que a última super produção de CD, bancada integralmente pela iniciativa privada de uma gravadora, foi o CD “Erasmo Carlos Convida II”, que o Tremendão lançou agora em 2007. De agora em diante, CD produzidaço com tantos convidados, somente com patrocínio... ou então casado com especial de TV, lançamento de DVD etc.
O Álbum Branco é seu disco preferido dos Beatles?
Com o passar dos anos, isso foi ficando bem claro pra mim. Gosto muito do Abbey Road também, mas realmente o Álbum Branco é único. A energia contida ali é impressionante. Tudo bem, eles já não tinham a energia juvenil da fase Cavern que transparece tão bem naquele primeiríssimo LP gravado num único dia. Mas ali está uma usina de criatividade, são 4 caras realmente no auge de sua produção. E, mais que isso, quase libertados do produtor George Martin, que resolveu até tirar férias no meio dos trabalhos. Eram quatro caras cheios de ego, de droga, de inspiração e de conflitos. Basta lembrar que os dois principais deles estavam se separando de suas companheiras e iniciando novos relacionamentos. Já não se cabiam numa banda, cada um queria fazer sua faixa, e por isso há aquela pluralidade de estilos, arranjos etc. Para um disco de regravações, é maravilhoso. E olha que eu ainda fiz questão de trazer para o projeto as faixas do single Hey Jude/ Revolution e as sobras Not Guilty e What's The New Mary Jane. Eu acho aquela fase de 1968, depois da Índia, realmente sensacional. Tudo ali me interessa, até Sour Milk Sea com Jackie Lomax pra mim são os Beatles afinal, se a memória não me trai, estão tocando George, Paul e Ringo, além de Eric Clapton.
Você fará neste projeto o mesmo que fez no projeto Lennon?
Não exatamente, porque naquele projeto as faixas foram praticamente todas produzidas no estúdio pelo Celso Fonseca. Somente Herbert Vianna e Lulu Santos, dentre outros poucos, gravaram em casa e me mandaram pronto. Agora, neste projeto, pela realidade que se impõe, cada um é responsável pelo arranjo, pela gravação e pela produção em si. As faixas serão licenciadas para o projeto. Cada um é dono de sua faixa. Não haveria outra forma de se fazer isso, principalmente neste conceito de ter bandas de sul a norte.
Você produzirá alguma faixa?
Acompanharei algumas sim, não sei se como produtor ou como diretor musical. Carmem Manfredini, irmã de Renato Russo, é cantora num grupo vocal em Brasília e fará sua estréia solo fazendo uma leitura de Rocky Raccoon. Faremos o elo perdido entre esta música e Faroeste Caboclo, música de Renato que foi pautada por Rocky. Ele era louco por esse disco, foi o primeiro que ganhou do pai no Natal de 1968, quando morava com a família nos Estados Unidos. Também devo acompanhar algumas bandas do Rio, além de uma jovem cantora de São Paulo Twiggy, que com apenas 16 anos, teve a sacação de pegar Piggies por causa da letra. Está bolando um arranjo bem legal.
Qual sua próxima brincadeira beatlemaníaca?
Bem, a tendência é cada vez mais em termos de disco mesmo. Teve artista que não participou do tributo a Lennon dizendo que participaria quando fosse um a McCartney, então... quem sabe... algum tributo a Paul... ou a George... ou por que não a Ringo (risos).
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