"VAMOS CONVERSAR"
(Introdução)

Quando cheguei a Icklesham, Paul McCartney tinha acabado mais um dia de ensaios. Os músicos relaxavam no exterior, jogando à bola no magnífico conjunto dos estúdios que incluem um moinho de vento em madeira e uma vivenda de habitação, cuja fotografias inéditas publicamos nestas páginas.

Linda McCartney já tinha abandonado o local num Mini dos anos 60, sozinha, em direcção a casa para preparar o jantar. Antes da minha vez, Paul ainda ia dar uma entrevista ao mais importante canal de televisão de Los Angeles.

Aproveitei o tempo de espera para falar com Hamish Stuart, antigo guitarrista da Average White Band, agora ao serviço do ex-Beatle. Confidenciou-me que, ao contrário do que muita gente pensa, é muito fácil trabalhar com McCartney. "É até bem divertido!".

A meio da conversa, chega um jovem de fato branco, cruz na orelha, alegre e bem disposto. Toda a gente o conhece e com toda a gente fala sempre com ar divertido e brincalhão. É Brian Clark, autor da capa de "Tug Of War" e também de "Flowers In The Dirt".

Descobre que sou português e já não me larga. No dia seguinte, partia para Lisboa para passar uns dias de repouso no Estoril, em mansão de ingleses.

Fala-me longamente da Fundação Gulkbenkian onde, segundo é sua opinião, existe o "melhor Museu da Europa". "E olhe que eu conheço todos!".

"Sabe uma coisa?", atira-me entusiasmado. "Concretizei o meu sonho de sempre! Na próxima Primavera, vou expor na Gulbenkian".

Soube mais tarde, já em Lisboa, que Brian Clark não é um pintor qualquer. Tem obras espalhadas por todo o Mundo, dos Estados Unidos ao Japão, e trabalhos expostos em museus de prestígio, como o de Leninegrado.

Continuo à espera. De repente, a porta do estúdio abre-se. Paul McCartney reconhe-me: "Luís, anda, vamos conversar!".

Ofereço-lhe uma garrafa de vinho do Porto e um CD de Carlos Paredes. Depois de contar as cordas da guitarra portuguesa, pergunta-me se é dia de Natal...

A entrevista decorreu num gabinete dos estúdios decorado com fotografias artísticas da autoria de Linda McCartney.

Durante uma hora e meia, Paul falou abertamente e respondeu-me a tudo o que eu queria. Sem a menor relutância, com o maior dos entusiasmos.

Luís Pinheiro de Almeida

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