Paul McCartney
Rocking Russia
Paul McCartney fala sobre política, fama, sua disputa com John Lennon e a razão do grande impacto dos Beatles na União Soviética.

Nesta quinta, a A & E Network exibirá "Paul McCartney in Red Square", um especial de 90 minutos que cobre a primeira visita de McCartney à Rússia em Maio deste ano. O documentário explora o papel da música dos Beatles na deterioração do comunismo e traz entrevistas com o Presidente Vladimir Putin, o antigo presidente Mikhail Gorbachev e muitos cidadãos russos cujas vidas foram afetadas pela banda.

Aos 61 anos, Paul McCartney está curtindo uma espécie de renascimento. Sua última turnê reuniu 500 mil pessoas ao redor do Coliseu de Roma e arrecadou 126 milhões de dólares, a maior desde os Beatles. Em Novembro, McCartney lançará uma nova versão do álbum "Let It Be", chamada "Let It Be Naked".

Jonathan Alter, da NEWSWEEK, entrevistou McCartney no dia 12 de Setembro em um estúdio londrino, onde ele está completando os trabalhos em seu novo álbum, seu vigésimo desde a separação dos Beatles em 1970.

Por que você acha que a turnê foi tão grande?
Para alguns, nostalgia. Estas são canções que você pode cantar. As crianças não se importavam quando elas foram gravadas. Para elas, todas as roupas psicodélicas são o futuro, não o passado. E há alguma coisa sobre isto que chama a atenção da mesma maneira que eu amo Fred Astaire. É clássico e muito bem estruturado. É a mesma coisa para as crianças e os Beatles. Há alguma coisa lá que é atemporal.

Você sabia que nos anos sessenta vocês tiveram o mesmo apelo na Rússia?
Nós ouvimos falar. Quando nós soubemos que eram jeans e os Beatles que eles contrabandeavam, nós amamos aquilo... Era forte, música liberante que nos deleitava, e eles conseguiram aquilo. Como Elvis me alcançou? Era este deleite, este prazer - não uma coisa intelectual.

Por que foi esta a primeira vez que você foi lá?
Havia sempre rumores de que nós faríamos um concerto na Praça Vermelha, mas sempre falhava. Não era a hora certa ou o regime comunista não estava pronto. Quando eu fui (em maio) uma pergunta que eles queriam que eu respondesse sempre, era se a gente tinha vindo nos anos sessenta e dado um concerto no aeroporto. O rumor quente era que nós havíamos feito um show (que havia sido mantido em segredo para eles). Nós não fizemos nenhum concerto.

Por que você acha que os Beatles tiveram tanto efeito sobre os Russos que tentavam resistir à força do governo soviético?
Eu não tenho certeza, mas talvez quando alguém vem com uma idéia que é um pouco mais liberal, esta idéia é poderosa. Ele (o povo russo) está pensando "se pudéssemos... se pudéssemos..." e então começa a se alastrar. Sob qualquer um desses regimes pesados, eles estão amedrontados. Mas em suas casas, ninguém pode controlá-los e eles estão dizendo, "Isso é realmente uma merda! Você não odeia isso?" Você não pode impedi-los de dizer isto. É como com um bando de grandes headed stars. A estrela está indo (voz autoritária), "Se você não fizer aquilo, eu vou matá-lo." Ele sai de casa e todas as pessoas que trabalham pra ele dizem, "que otário." Você não pode parar com isso, você simplesmente não pode parar com nada, mas há uma certa raiz que permanece.



Eles mantém fotos suas na Rússia, quase como ícones, como se você estivesse morto. O que me dá a desculpa de perguntá-lo sobre o caso ou boato "Paul está morto".
Eu estou morto? Era um dia quente (quando os Beatles fizeram as fotos para a capa do álbum Abbey Road em 1969) eu usava sandálias. Fomos fazer as fotos, eu tirei as sandálias. Fizemos algumas fotos. Um DJ americano se saiu com a estória de que estar descalço, era um sinal da máfia de se estar morto. Havia um fusca com a placa 28IF (que teoristas da conspiração viram como um sinal que McCartney não chegaria aos 28 anos. Isto é uma espécie de coisa tênue, fraca, mas eles espalharam aquilo e o carro foi vendido por uma boa grana. Então, é tudo loucura, eu sabia que eu não estava morto, mas eu sabia que todo mundo pensava que eu estava realmente morto. Então as pessoas olhavam para mim como se não fosse eu.

No filme, alguns russos comparam você com Tchaikovsky.
É um pouco assustador. Tenho muito orgulho de minhas realizações mas não penso em mim desta maneira. As pessoas dizem que não posso ir ao cinema. Eu digo 'quer apostar?'. Eu faço compras toda manhã - escolho minhas frutas no mercado. Ainda sou este cara que faz todas essas coisas comuns. Então, quando as pessoas me tratam um pouco como celebridade, ou me tratam MUITO como fazem os russos, isso me faz pensar 'Meu Deus, é você este cara!' Stella (filha de Paul) nunca viu muita televisão quando estávamos morando na Escócia e ela era uma criança, até que um dia estava assistindo e virou pra mim e disse, 'Papai, você é Paul McCartney?' É bem assim pra mim também. Gosto de comparar (toda a adulação) com o fato de receber uma homenagem ou algo do tipo, uma coisa não tão estranha para muitas outras pessoas. É uma coisa ótima, entretanto, nunca me assustou muito.

Sua obra já é tão segura. Por que a briga (com Yoko Ono sobre reverter os créditos "Lennon & McCartney" para "McCartney & Lennon")? Por que você se importa com os créditos?
Por que me importo? Não sei. Sou humano. Já desisti - não vou mais me aborrecer com isso. É muito inconveniente tratar disso, pois John não está aqui e seria como andar sobre sua sepultura. Eu estava falando como se ele estivesse aqui, mas ele não está, o que é muito inconveniente... (isto começou quando) Eu pedi um favor. Eu pedi apenas sobre 'Yesterday'.

Foi só sobre 'Yesterday' (composta e tocada apenas por McCartney)? Isto não foi divulgado.
Não, não foi divulgado e é por isso que deixei pra lá. (Imitando os críticos) 'Oh, lá vem ele outra vez! Jesus Cristo, ele não está feliz com o que já tem?' Recebo um monte de mensagens dizendo 'Não continue'. Então estou desistindo disso e nunca mais pedirei novamente. É como Gilbert e Sullivan - os dois têm créditos suficientes.

Você acha que se John Lennon não tivesse sido assassinado (em 1980) - como muitas bandas acabaram e voltaram muito tempo depois - os Beatles teriam se reunido?
Acho que sim. A poeira já havia baixado. Nós estávamos conversando bastante antes do acontecido (o assassinato), sobre seu novo filho e todas as outras coisas. Mas nós nunca saberemos, não é mesmo?

Qual sua opinião sobre George W. Bush?
Pelo o que eu vejo, há um certo desapontamento, particularmente pelos jovens. Mas ele fez um bom trabalho pós 11 de Setembro. Eu estava lá (nos EUA). Posso lembrar a semana seguinte, alguns americanos dizendo 'Nós temos este presidente de merda'. Eu disse: 'Vamos parando por aí! Vocês têm um presidente. Neste momento, não façam isso, não ajam assim. Ele está do nosso lado. Nós o amamos. Ele vai nos liderar'. Vejo movimentos engraçados do jeito que víamos nos anos 60: "Foda-se Nixon". Agora estou vendo coisas parecidas sobre Bush.

O que você acha do hip-hop?
Algumas coisas eu gosto e outras não. Gosto de Eminem e achei (seu filme) "8Mile" bem interessante. É um pouco fora de moda, mas um dos meus filhos me apresentou ao (grupo de rap) Cypress Hill.  Como qualquer pai, não gosto muito do aspecto 'slapping bitches' (bater nas vagabundas) da coisa. Mas meus filhos dizem que ele está apenas blefando. Pais nunca entendem essas coisas, mas é assim mesmo. Certa vez meu pai chamou a música de Sinatra de 'música de lata'.

Há alguém com quem você ainda não trabalhou mas gostaria de trabalhar?
Não consigo pensar em ninguém. Nelson Mandela, talvez?

Publicação original:
Newsweek (15/09/2003)
Autor:
Jonathan Alter
Tradução:
Francisco Lima Jr.
Gustavo Montenegro









Free Web Hosting