Ringo Starr
The Very Best of Photograph

Por Solvej Schou, Associated Press
Tradução: Claudio Teran


Esqueça "When I'm 64" disse Ringo Starr sorridente para o repórter, enquanto se olhava num espelho e afirmava ter ou quem sabe sentir-se com essa idade. Aos 67 anos o ex-Beatle ainda tem a direção, inquietação e o olhar musical de um rockeiro com pelo menos metade de sua idade. E pode-se dizer que ele age como se tivesse uma jovialidade eterna. Confortavelmente sentado na suíte de um suntuoso hotel em Beverly Hills (dia 22.08) Ringo Starr me recebeu esbanjando boa forma, exibindo um corpo magro e certamente malhado, vestido de forma casual com um blazer escuro e calça jeans manchada com os riscos de uma caneta de tinta azul - culpa minha, pela mania de escrever apoiado nas próprias pernas disse, entre risadas.

Compunha o visual daquela verdadeira lenda viva, os tradicionais óculos escuros, que ele tirou do rosto somente uma vez, substituindo por outro modelo poli cromático. Não é demais lembrar que estávamos dentro da suíte, bem abrigados do sol. Penso que nos últimos 20 anos, os olhos do baterista mais famoso do mundo permaneceram escondidos, ou como Ringo gosta de afirmar, "protegidos" por um símbolo de seu estilo rock'n'roll.

Às vésperas do lançamento de "Photograph: The Very Best of Ringo Starr", o ex-Beatle cumpre a rotina de divulgar o novo trabalho com entusiasmo juvenil. O produto é uma seleção dos melhores momentos de sua carreira-solo no período de 1970 - 2005, e sai do forno em dois formatos, a versão normal contém apenas o CD. A edição especial vem acompanhada de um DVD com promo vídeos jamais lançados comercialmente, e um livreto de fotos e textos. Entre goles de água, sonoras gargalhadas, e um bate-papo descontraído com a reportagem da Associated Press, o ex-beatle Ringo Starr falou de envelhecimento, do passado e do presente, e sobre "permanecer no jogo"...





COMO VOCÊ ESCOLHEU AS CANÇÕES PARA O NOVO ÁLBUM?
A idéia foi debruçar-se diante da quantidade de canções compostas desde os primeiros tempos (1970) recorrendo aos álbuns iniciais da Capitol até agora. Foi ótimo porque a Capitol/EMI abriu o catálogo para minha escolha pessoal sem imposições, coisa que as companhias não costumam fazer. Geralmente, e por razões de mercado ou o que seja as gravadoras só aceitam montar coletâneas se as canções escolhidas forem de seu próprio selo. Por isso esse disco é um autêntico Very Best, pois inclui músicas dos mais diferentes catálogos por onde passei até chegar ao CD Choose Love de 2.005. Podemos dizer que este novo álbum é uma grande representação do material que eu fiz nos últimos 400 anos (risos)...

QUAL SERIA SUA CANÇÃO FAVORITA DESTA SELEÇÃO? “NO NO SONG”, DE 1974, TEM UM CLIMA BRINCALHÃO, COMO SE TIVESSE SIDO COMPOSTA NUM AMBIENTE DE BEBEDEIRA...
Eu tenho ótimas memórias de quando nós gravamos esta música, porque a última coisa de nós estávamos fazendo era dizer “não” - a qualquer coisa, naqueles dias. Eu, John, Harry Nilssson. Keith Moon e outros loucos. Mas os tempos mudaram, naturalmente. Photograph é bonita. Considero uma das melhores canções que eu escrevi em todos os tempos. Eu a compus com George Harrison, de modo que ele ajudou muito também. Naquele tempo, e ainda hoje, eu toco somente três acordes. Meu método ao escrever estas canções era esse. Daí encaminhava a George e ele adicionava uns 10 acordes ou mais e me devolvia um grande trabalho. Caso emplacasse, eu era o gênio (gargalhadas)...

QUAIS SÃO OS TRÊS ACORDES QUE VOCÊ TOCA?
Eu pego uma guitarra e só toco em E (Mi). O piano só toco em C (Dó). Todas as canções que eu escrevi, até hoje foram assim. Se compus na guitarra ou violão foi em E (Mi). Se a composição nasceu no piano foi em C (Dó). Protograph por exemplo, foi escrita ao violão em C (Dó) porque George veio e me ensinou a fazer o acorde. Mas foi difícil. Tem que saber usar o dedo mínimo com força, e eu não sou muito bom nisso (risos)...

COMO É ESTAR COM 67 ANOS NESTE VERÃO?
Como? Não entendi. Fale mais alto (risos)...

NÓS TAMBÉM ESTAMOS VIVENDO O ANIVERSÁRIO DE 40 ANOS DO ÁLBUM Sgt. PEPPERS...
Isso é maravilhoso.

COMO VOCÊ SE SENTE LANÇANDO ESSE ÁLBUM NO MOMENTO EM QUE SE ENCONTRA AGORA?
Quando você está produzindo um novo álbum não pensa nem leva em conta essa coisa de "agora". Este é o negócio. Como imaginar que após quarenta anos eu estaria aqui falando sobre estas gravações? Não. Era o último pensamento que alguém teria em mente. Nós gravamos sem a pretensão de achar que seria para sempre. Nós apenas nos divertíamos fazendo gravações.

REFLETINDO SOBRE O ENVELHECIMENTO COMO MÚSICO VOCÊ MENCIONOU BOB DYLAN, AFIRMANDO QUE TEM OCASIÕES NAS QUAIS ELE SOA BEM E NOUTRAS NÃO. O QUE QUIS DIZER?
Tentei definir exatamente como as coisas são para pessoas como eu e ele. Nós estávamos falando realmente sobre ir ver Bob. E ver Bob muitas vezes permite que você observe o que Bob lhe dá. A última vez que eu o vi num concerto, foi difícil reconhecer as canções. Pouco tempo antes, era como se fosse outro Bob tocando - claro como um sino - nos fazendo apreciar seus clássicos como realmente são. Bob Dylan é grande, sem precisar correr atrás de um número 1. Ele é o que é - capaz de se reinventar se der na telha, sem se importar com o momento.

E O QUE ISSO TEM A VER COM ENVELHECIMENTO?
Quer dizer que eu estou no jogo. Estou gravando, e ainda estou tocando. Talvez amanhã eu emplaque um novo sucesso, quem sabe? Tá com tanto tempo que eu não alcanço um número um! Como eu estou no jogo ainda, quem sabe não será no CD seguinte, que sairá no próximo ano? Estou nessa para tocar...

O PROCESSO CRIATIVO MUDOU COM A PASSAGEM DO TEMPO?
Não mudou em tudo. Você ainda escreve suas canções e toca sua bateria. Começo com alguns amigos ao redor, e então faço uma gravação. Sempre foi assim e continua. As gravadoras vieram me propor muitas vezes que fizesse um álbum tipo “duets” como Santana e outros fizeram. Nada contra isto, mas o que Santana fez é uma coisa enorme, e que não combina comigo. Por isso sempre recusei. Gosto de convidar pessoas ao acaso para os meus discos, sem planejar muito. De qualquer maneira. Foi assim com Chryssie Hynde (em Choose Love) e Willie Nelson (em Ringorama).

VOCÊ NÃO TEM VONTADE DE RETOMAR A CARREIRA DE ATOR, NO CINEMA?
Não. Nos anos 70 eu sempre tinha um papel caso quisesse atuar. Mas é diferente agora. Há muitos atores disponíveis e de oficio, que podem atuar muito melhor que eu. Então não penso mais nisso. Estou focado mais na música… Claro que não vou dizer dessa água não beberei. Quem sabe no futuro eu faça alguma coisa na tevê ou no cinema. Quem sabe um produtor interessado me chame em 2.010, se eu estiver livre (risos). Eu vivo do dia a dia, e posso dizer que tenho uma vida boa...

VOCÊ VAI VOLTAR A FAZER TURNÊS?
Gosto muito de turnês e quero voltar a fazê-las, mas seguramente não voltarei à estrada até o próximo verão. Assim não tenho como prever nada ainda, como por exemplo, quem vai estar comigo na banda. No momento estou ocupado com este lançamento agora (Very Best of Ringo Starr), e as versões 5.1 de “Choose Love” e do álbum de 2003 “Ringo Rama”. E com os relançamentos para download. E estou finalizando meu CD novo (Liverpool 8), que sairá em janeiro. Turnês só depois de tudo isso...

QUEM DECIDIU QUE SEUS PRIMEIROS QUATRO DISCOS SOLO SERIAM OS NEGOCIADOS PARA DOWLOAD OFICIAL?
Foi em conseqüência do êxito desses álbuns. Era meu pensamento começar com eles, e a EMI pensou da mesma forma. A idéia é chegar a novos públicos na era do cyber espaço.

TEM UMA HISTÓRIA SOBRE VOCÊ ONDE SE DIZ QUE NOS ESTÚDIOS VOCÊ COSTUMAVA POR UM MAÇO DE CIGARROS SOBRE OS TAMBORES PARA ABAFAR O SOM. ISSO É VERDADE?
É sim. E era demasiado brilhante. Eu gostei sempre de um som profundo, e assim que eu pus meu maço de cigarros sobre o 'snare' o resultado foi ótimo, mas precisava de algo para segurar (o maço). Então eu comecei a pôr toalhas do chá, e funcionou. Animado eu pus toalhas sobre cada tambor. Essa providência simples ajudou a tornar o som dos Beatles mais profundo (risos). É conhecido que nunca fiquei feliz com o som da gravação das baterias dos Beatles, pois por mais esforços que fizesse era complicado gravar bem a percussão nos anos 60. Fiz o que foi possível.

E USAVA ESSAS TOALHAS PARA LIMPAR O SUOR TAMBÉM?
Claro! E quando misturava toalhas e cigarros, podia fumar em seguida, sem sair de onde estava.

E AINDA FAZ ISSO HOJE EM DIA?
Hoje em dia não faço isso mais (e cantarola, “and I say no no no/I don't smoke it no more”)...









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