Entrevista
Pedro Sérgio Monti Júnior

Todos sabemos que o show de Paul Mccartney realizado no dia 14 de dezembro de 1.999 no Cavern Club foi um evento para poucos. Os 300 lugares disponíveis para a platéia foram reservados quase que somente para amigos pessoais, familiares e jornalistas. O evento entrou para a história e está eternizado num irretocável DVD. O Beatles Brasil revela no entanto, que um jovem brasileiro, Pedro Sérgio Monti Júnior, o Tete, natural de Pedralva - pequeno municipio localizado ao sul de Minas Gerais - esteve lá e assistiu Paul McCartney quase na primeira fila. Acompanhe seu relato

Por Claudio Teran

Você estava em Londres na época, hora e no dia certo. Ainda vive na Inglaterra?
É um grande prazer estar falando prá você Teran, e todos que fazem e visitam o portal. Sou Brasileiro, de Pedralva - Sul de Minas, moro no Brasil. Eu tranquei minha faculdade por 6 meses para estudar Inglês fora em 1999. Beatlemaniaco e McCartneymaniaco desde 1989, o destino não poderia ser outro, Inglaterra.

Quando você embarcou?
Fui em Agosto para pegar a Beatle-Week em Londres e Liverpool de cara. Minha data de volta estava marcada desde o inicio, 15 de Dezembro. Em agosto pude conhecer Abbey Road por dentro, Liverpool, e curtir várias e ótimas bandas cover. Hoje tenho 25 anos, terminei a faculdade, e toco numa banda cover dos Beatles recém fundada.

Como surgiu a idéia de tentar entrar no cavern para ver Paul, considerando a dificuldade de conseguir ingressos?
Foi uma loucura, eu estava ouvindo o Run Devil Run desde seu lançamento em outubro, caçando programas de TV, entrevistas, matérias em revistas (sobre o disco) direto, quando leio num jornal que Paul faria um show no Cavern...



O que você pensou?
Achei que era boato até ver o McCartney confirmar isso num programa de entrevistas na TV, o Parkinson. Ele falava em um show antes do fim ano. Como o Cavern é bem pequeno, imaginei a fortuna que seria o preço do ingresso. Dias depois fiquei sabendo que seria feito um sorteio, e passei a achar a possibilidade de entrar mais remota ainda.

Quando você teve a confirmação da data do show?
Mais um dia e veio a data do show... 14 de Dezembro. Lembra da data da minha passagem de volta pro Brasil?

é fato que você obteve o ingresso através de sorteio em um programa de rádio?
Foi um sorteio sim, mas não por um programa de rádio. Um formulário, de tiragem limitada, seria distribuído na rede de lojas HMV, nas principais cidades do Reino Unido na segunda-feira da semana anterior ao show. Sexta à noite pessoas já dormiam na fila da HMV-Liverpool para garantir um formulário.

Onde você se encontrava nessa exata ocasião?
A cidade mais próxima da minha era Londres. Eu estava em Bournemouth. Acordei segunda as 3 da manhã. Debaixo de muita chuva caminhei até a rodoviária. As 7 da manhã eu estava chegando na Oxford Street e garantindo um lugar na fila. Pouco antes das 9 da manhã o gerente da loja veio explicar que a gente ia ganhar um formulário e devíamos preenche-lo com os dados pessoais e respostas corretas. 75 pessoas seriam sorteadas e ganhariam 2 ingressos cada. Respondi as perguntas, coloquei meus dados lá e devolvi no balcão da loja.

O que aconteceu daí por diante?
Uma vendedora pegou aquilo com a cara estranha e me disse "ok". Achei esquisito - ela meio que não sabia o que fazer com aquilo, era um reboliço danado aquele sorteio. Indo embora, encontrei com aquele gerente que nos falou na fila e parei ele na rua. "Cara, entreguei o formulário pra menina lá, tá certo?" Ele me disse que eu estava fora do sorteio, eu deveria enviar aquilo pelo Correio para a organização do show! Voltei como um maluco na loja, achei aquela vendedora e consegui meu formulário de volta!

Passado o susto, as notícias boas estavam por acontecer...
Gastei o resto do dia andando por Londres e no fim do dia coloquei o formulário num Correio do outro lado da cidade. A resposta sairia sexta, e não recebi nenhum contato deles. No sábado eu iria me mudar de Bournemouth para Londres, para gastar meus últimos 4 dias na Inglaterra. Quando eu estava arrastando minhas malas prá fora de casa chegou uma carta, falando que eu tinha sido um dos 75 sorteados. As pessoas da casa onde eu morei me disseram que se eu já tivesse partido, eles remeteriam a carta para meu endereço do Brasil. Você pode imaginar eu recebendo essa carta aqui no Brasil???

Apenas 300 pessoas conseguiram entrar - metade delas convidados de Paul - como foi estar lá para um show único como esse?
Isso mesmo, 150 eram imprensa e convidados do Paul, os outros 150 eram os 75 sorteados - e os 75 convidados dos sorteados. Foi simplesmente incrível., Eu estava lá a menos de 3 metros do Paul, aquela banda fantástica tocando o puro rock'n'roll. Fiquei com olhos arregalados, estático, hipnotizado.

Já estivera no Cavern Club antes?
Não. Na Beatles-Week eu passei em frente, mas não entrei, não tinha ingressos...

Como conheceu os Beatles?
Venho de uma cidade pequenina do sul de Minas Gerais chamada Pedralva, que é uma escola de Beatles e boa música em geral. Os Beatles estão na parede do bar Dos Dois, nas rodas de violão mesas de bar e acampamentos, em todo lugar. Dentro de casa tinha meu tio Juscelino. O primeiro contato com os álbuns foi através dos LPs dele. Depois fiquei muito amigo de um amigo de infância do meu pai, o Raul de Abreu Junior, o maior beatlemaniaco desse planeta. Com ele aprendi tudo, tocamos juntos inúmeras vezes. Através da música, ele me deu uma aula de vida. Ele foi meu convidado para ir ao show no Cavern comigo. Ficou apavorado atrás de vôo para Londres aqui no Brasil e infelizmente não conseguiu.

Na impossibilidade de seu amigo do Brasil, quem teve a sorte de ir ao Cavern com você?
Convidei o dono da casa que eu morei lá na Inglaterra, pessoa que tinha me tratado como um filho no tempo que passei lá. Quando o show acabou minha primeira ação foi ligar pro Raul Junior no Brasil. Ele emocionado me disse que o coração dele estava lá no Cavern comigo. Um acidente levou Raul em 7 de Dezembro de 2002, e o coração dele continua aqui comigo, pulsando Beatles 24 horas por dia...

Conte detalhes desde o momento da fila, ingresso no Cavern, a espera lá dentro para o começo do show, e finalmente a entrada de paul...
A Matthew Street estava cheia de gente... sorteados e não sorteados. Tinha um boato que Paul ia aparecer na janela de tarde, mas ele não foi não. Encontrei meu convidado Steven na estação de trem, passamos a tarde em Liverpool aguardando a hora do show. Eu não tinha ingressos em mãos ainda, meu passaporte deveria ser apresentado na fila e eu receberia meus ingressos. Chovia enquanto estávamos na fila, só fui acreditar realmente naquilo tudo quando vi meu nome escrito na lista de ganhadores. Entramos no primeiro ambiente do Cavern, e as portas que davam acesso ao palco do show seriam abertas em minutos. Foi o tempo de comprar a camiseta do show aquecer as turbinas e garantir o melhor lugar possivel. Ficamos do lado esquerdo, em frente ao Dave Gilmour. Paul estava logo ali ao lado dele.

Como estava o clima, a atmosfera no interior do Cavern enquanto rolava o show?
Quente, muito quente... aquilo era mágico... ninguém ali parecia acreditar naquilo. Paul McCartney ao vivo no Cavern Club? Que é isso! Como falei, fiquei paralisado, minha única reação foi derramar uma lágrima quando tocaram a canção dos Beatles "I Saw Her Standing There".

Como foi aquela sequência em que Paul responde com um palavrão à insistência dos fãs por músicas dos Rolling Stones?
Não foi bem assim. O inicio de "Try Not To Try" tem um acorde que é tocado varias vezes e esse acorde se parece com o de Satisfaction, só que é tocado num tempo mais lento. Prá tentar o timbre da sua guitarra, Dave (Gilmour) tocou o acorde duas vezes e mais rápido, e ficou igualzinho ao inicio de Satisfaction. Alguém gritou o nome da música, talvez achando que fossem tocá-la. Paul brincou e disse: "Leia nos meus lábios" . Tirou a boca do microfone e mandou o palavrão mais famoso daquele país (fuck off). Tudo em clima de brincadeira. Numa entrevista tempos depois vi Paul falando que quem gritou aquilo foi um parente dele!

O que você guardou como souvenir daquele momento?
Guardei meu ingresso (scan anexo), a camiseta, fotos e belíssimas lembranças...

Como estava o som dentro do Cavern?
Estava bom, eu fiquei bem de frente para uma coluna de caixas. Prá quem estava mais no meio devia estar melhor ainda.

Quando você assistiu o DVD achou que a produção lançada oficialmente foi fiel ao que viu e ouviu de perto?
Tete: Sim, o DVD está muito bom: show na íntegra, boa imagem, bom som.



Como conseguiu lugar na primeira fila?

Foi por ordem de entrada. Não foi primeira fila, mas estava logo ali.

é verdade que você foi filmado em close e aparece brevemente durante o dvd? conte onde fica essa sequência?
Sim é verdade. Em "Shake A Hand", tem um solo de piano seguido do solo de guitarra do Gilmour. Logo que Paul volta a cantar eu olho pra trás bem na hora que filmavam aquela região, baita coincidência.

Já havia assistido algum show de paul ou dos outros Beatles antes desse?
Não. Nas passagens do Paul aqui em 90 e 93 não pude ir, tinha isso engasgado comigo.

Assistiu algum show da tour 2002/2003 do Paul?
Não. Não saí do Brasil durante toda essa tour, estou aqui rezando pra passar por aqui quando ele cair na estrada novamente.

tetemonti@yahoo.com.br









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