Talma Lennon Xavier
Como é ser fã dos Beatles no Nordeste, nos anos 60? Talma Xavier, de Recife (PE), não só era fã, como fazia intercâmbio com outros fãs do mundo inteiro, em um tempo muito distante da Internet. Com isso, acumulou uma coleção imensa, não só de material, mas também de bons amigos. Conheça melhor essa figuraça nesta rápida entrevista.
Sua coleção de recortes sobre os Beatles é famosa no Brasil inteiro. Como você conseguiu reunir tanto material?
Todo material que consegui foi indo à luta mesmo. Toda minha mesada era em função dos Beatles. Desde pirralha que eu pegava a bicicleta e vivia de banca em banca de revista procurando compulsivamente. Fazia amizade com os donos das bancas e tudo que aparecia, eles juntavam para mim. Nesse ínterim eles falavam: "Tem esta reportagem, mas como é pequenininha eu não separei, pois achei que você não ia querer"... e eu então gritava: " Mas são justamente estas pequenininhas as mais difíceis!" e comprava tudo. Ganhava pedia a todo mundo.
Quando conhecia pessoas de outros países, a primeira pergunta era se eles gostavam dos Beatles, e se tinha revistas que eu pudesse procurar reportagens sobre eles. Escrevia carta para todas as revistas, que eram publicadas. Como meus amigos falam, "eu já era internauta antes de existir a Internet", pois desde a década de 60 me comunico com pessoas de vários países. Além do mais, meu pai era um leitor compulsivo, comprava muitas revistas. Freqüentemente vinham editadas reportagens sobre ELES. Papai ficava zangado por eu arrancar as folhas das revistas. Lia escondido, depois me dava "para eu estragar a revista".
Quais os itens que você mais gosta nessa coleção?
O que mais gosto na minha coleção são os álbuns que eu mesma fiz: quando criança, eu comprava 2 revistas de cada e colava um lado e o outro num álbum gigante que mandei fazer tipo caderno de desenho, mas bem grandão. Quando fiquei mais espertinha, tirava os grampos das revistas, e assim fui colando umas nas outras... e fiz uns álbuns maravilhosos. Eles são como umas revistas bem grossas, e só com as folhas relativas aos Beatles. Minha coleção ficou bem organizada assim.
Você também coleciona outros itens, como discos, livros, objetos, etc?
Coleciono TUDO relacionado aos Beatles e a cada um deles. Guardei tudo que esteve ao alcance das minhas mãos. Tenho todos os Vinis oficiais, tanto em Long Playing, como em "compactos", CDs, camisas, álbuns, estou sempre aumentando a quantidade de DVDs e livros, e tudo que encontro eu procuro comprar: Livro, revista, calendário, bandeira, miniatura, bottom, colar, pulseira com o nome deles. Ganhei da minha filha um conjunto com o design de John Lennon para a decoração do seu "beautiful boy".
Qual a diferença entre ser fã dos Beatles hoje e nos anos 60, quando eles ainda existiam? É melhor hoje ou naquela época?
A diferença é que na década de 60 e 70 os Beatles EXISTIAM, ESTAVAM LÁ... ninguém sabia da separação. Para nós, adolescentes, isso era uma coisa impossível. Seus discos ESTAVAM À VENDA, eram tão ouvidos! Claro que eles existiam, como vão existir sempre! Lembro que eu ia mudando as estações do rádio, e em todas elas tocavam suas músicas. Eu fazia questão de mostrar isso para todos! E isso nos provava que eles estavam juntos. Era o que bastava. Mas tudo o que conseguíamos deles eram apenas fotos de revistas. Imagens em TV era coisa raríssima. Só em 1965 é que pudemos assistir "OS REIS DO IÊ IÊ IÊ e em 1966 foi que chegou HELP! Todos os dias, logo após o meio dia, uma das mães ia deixar a turma no cinema. Lá passávamos a tarde inteira. E à noite, quando ia nos apanhar, era um protesto geral. Assistíamos todas as sessões que podíamos (antigamente não nos expulsavam após uma sessão).
A diferença é que hoje, com o advento do computador, da internet, CD, DVD, tudo chegou ao nosso alcance. Ah, se naquela época houvesse todo esse material que temos hoje! Poder "enxergar bem de perto" esse jeitinho LINDO, IREVERENTE de John, as "caras e bocas" de Paul, essa marcação LINDA que George faz dançando... esses toques inusitados de Ringo na bateria! Acho que se naquela época tivesse toda essa tecnologia de hoje, eles teriam dominado o mundo!
Nesse tempo todo, com certeza você pôde fazer amizade com muitos outros fãs. Poderia citar alguns?
Destaco em primeiro lugar, Kátia e Janine, que foram as primeiras pessoas que conheci em uma banca de revistas, com 12, 13 anos. Eu adorava, mas não sabia que existiam outras fanáticas como eu, que gritava, me descabelava, etc. Como eu escrevia para as revistas, conheci muitos fãs dos Beatles pelo Brasil e pelo mundo. Uma turma maravilhosa do Ceará: Júlio Serra, Marcílio, Márcia e Danilo Barata. Do mesmo modo que também conheci Lenyra Guerra, que também viu minha carta na revista e somos amigas até hoje. Uma turma daqui do Recife, do Bairro de Afogados... um deles chama-se Zé Carlos e tem um filho chamado John Lennon. Em 1980 Lenyra e eu fizemos uma gigantesca manifestação no Parque 13 de Maio no Recife e lá tive o prazer de conhecer Cláudia Tapety. Através dela conheci e muitos Beatles fãs daqui. Adorei conhecer os membros do Beatles Brasil, que hoje os tenho como verdadeiros e amigos para sempre. Através do Orkut vou buscando e contatando inúmeros fãs.
Já curtimos várias bandas cover. Atualmente existem duas excelentes bandas aqui no Recife, On The Rocks e Rec Beatles, compostas por pessoas, inteligentes e realmente fãs como eu.
Além dos Beatles, sabe-se que você é também fanática por Chico Buarque. De quem mais você gosta?
Tanto os Beatles como Chico Buarque são incríveis, perfeitos, profundos, abrangentes, trancendentais. Eu AMO os Beatles e AMO Chico Buarque. Mas devo frisar que eu não amo nada no mundo mais do que os Beatles.
Você sempre assina como "Talma Lennon". Isso quer dizer que ele é o seu beatle favorito?
John Lennon é a razão da minha vida. Ele provoca sentimentos muito fortes. A primeira vez que vi os rostos dos Beatles na capa do LP Beatlemania, não sei porque, senti raiva dele! Eu o achei velho, feio e gordo. Era como se ele me ameaçasse. Depois que fui vendo as fotos nas revistas, depois que o vi na TV, fiquei magnetizada por ele. Seu sorriso, seus dentes, seu olhar, seu jeitinho... meu Deus, John é a coisa mais linda maravilhosa e perfeita do mundo! Acho que eu amo mais John do que amei marido, filhas... acho que é a intensidade só é igual ao amor que sinto pelos meus pais.
Qual a sua opinião sobre as esposas dos Beatles (Yoko, Cynthia, Linda, Heather, Olivia, etc.)?
Quando eu era adolescente, Cynthia era a minha rival. Se alguma garota se chamasse assim, eu já a olhava atravessada. Ela "engravidou John" ainda menino, bem no início de sua carreira. Mas depois convivi pacificamente com ela. Até que apareceu uma desgraça DENTRO dos Beatles, que eram apenas 4! Aquela desconcentradora, atrasa bóia, atrapalhadora de gênios! Eu via flashes na TV, reportagens em revistas John e Paul concentrados compondo, gesticulando como maestros com suas batutas... e ela lá! Eles arranjando, transando as músicas, "acordando os acordes", fabricando aquelas músicas incríveis... e ela junto, impondo sua presença! Aquilo atrapalha tudo, principalmente a concentração. Feriu profundamente meus sentimentos. Se eu estivesse por lá, eu faria de tudo para não atrapalhar a concentração deles, para não atrapalhar as composições. E pra piorar: aquela voz asquerosa nas gravações dos melhores do milênio! Detesto gente metida e entrona. Já imaginou se todos os músicos ou atores tivessem um encosto daquele nas gravações?! Eu achava o cúmulo da falta de bom senso.
Jane Asher, eu achava que era a mulher ideal para Paul, mas segundo se diz, ela terminou com ele. Achei que Linda foi uma ótima companheira, só que eu a achava muito feia para ser esposa daquele DEUS. Na minha cabeça, ele deveria casar com a mulher mais linda, inteligente, rica e culta do mundo! A Pattie era bonitinha, mas nunca senti muita fé no amor dela pelo George. Ele sim, demonstrava ser louquinho por ela. Olívia... acho que foi uma boa companheira e era "na dela", nunca se meteu no trabalho de George. Essa Heather para mim é uma vigarista. Paul foi muito ingênuo, pois desde o início ela demonstrou muita vulgaridade, e ainda o acusava de atrapalhar a vida dela! Que prepotência! Todos viam, menos ele.
A beatlemania nacional vive de alegrias e tristezas. Como você analisa isso?
Com relação a eles mesmos, tudo que venha a premiá-los ou enaltecê-los, sempre é pouco para o que eles são e representam. Baixarias para mim são essas "duas coisas" que eu detesto: (Y e H). Desentendimentos sempre acontecem em um grupo, pois são 4 cabeças que pensam diferente. Agora intolerável é a desavença dos fãs que sempre separam os beatles e tentam os tornarem rivais deles mesmos. Quem ama os Beatles ama os quatro. Pode preferir a personalidade de um, mas com certeza não agride os outros. Isso é o que me entristece na Beatlemania nacional. Eu adoro todos, mas o amor da minha vida é JOHN LENNON.
Seus filhos e netos também gostam dos Beatles?
Todos ao meu redor passam a amar os Beatles. Todas as minhas filhas adoram, mas a do meio, Alessandra, é a única que coleciona. Meus netos são muito novinhos, ainda não definiram seus gostos musicais, mas com certeza as mães como grandes fãs que são, vão transmitir. Fernandinho, o mais velho (6), estava me mostrando que no seu MP3 Player tinha músicas dos Beatles. Foi até bom falar, pois agora vou atentar para isto, vou catequizá-los...
Três detalhes da coleção de Talma: livros, DVDs e CDs. E olhe que tem muito mais!
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