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Reviews
Capitol Albuns Finalmente em CD!
Por Bruce Spizer
Tradução: Gustavo Montenegro
A Capitol Records anunciou recentemente o lançamento dos quatro primeiros discos americanos dos Beatles em compact disc, em um Box set de tiragem limitada. "The Capitol Albums Vol. 1" inclui os quatro discos lançados pela gravadora em 1964: "Meet The Beatles!", "The Beatles' Second Album," "Something New" e "Beatles '65." Foram estes discos que os americanos cresceram ouvindo, não apenas nos anos sessenta como também nos setenta e oitenta, quando eles ainda eram vendidos como itens de catálogo e apresentaram os Beatles para a segunda e terceira geração de fãs.
Embora tenham mostrado os Beatles para milhões de americanos, estes discos costumam ser criticados por não serem fiéis àqueles que a banda realmente criou. Fãs e historiadores têm sentimentos inflamados sobre eles. Recentes comentários e mensagens publicadas na Internet não só demonstram as fortes opiniões acerca destes discos, mas mostram também que muitas vezes eles são mal compreendidos.
Aqueles que condenam os álbuns da Capitol geralmente reclamam que a gravadora remixou as canções, adicionando eco e lançando tudo em stereo simulado, o efeito Duofônico. Isto não é verdade. Enquanto que algumas canções realmente foram alteradas, a maioria não foi. Como será detalhado abaixo, 38 das 45 músicas presentes nos quatro primeiros discos da Capitol estão em suas mixagens stereo preparadas por George Martin. Enquanto oito canções em stereo presentes no "The Beatles' Second Album" apresentam este eco, as outras não apresentam alteração alguma.
O que é importante de saber é que "The Capitol Albums Vol. 1" marca a estréia em CD de 32 canções dos Beatles em stereo. Ouvir as mixagens feitas por George Martin para canções como "And I Love Her," "If I Fell," "Things We Said Today," "No Reply" e "I'll Follow The Sun" em CD certamente será um prazer.
Nas discussões sobre o box set, algumas pessoas acusaram injustamente a Capitol de ser gananciosa. Cada um dos quatro albuns estará disponível tanto em mono quanto em stereo, uma decisão que foi tomada para agradar aos fãs, muito embora tenha aumentado os royalties e cortados sensivelmente os ganhos da gravadora. Isto não parece ganância para mim. Parece mais com a velha prática dos Beatles de dar aos fãs algo que valha o dinheiro gasto. Até hoje nenhum dos álbuns britânicos saiu com as mixagens mono e stereo em apenas um CD.
A maioria dos comentários negativos sobre os discos da Capitol fala sobre as seqüências escolhidas para as canções e de suas mixagens horrendas. Mas quando eles são cuidadosamente examinados, fica claro que não se trata de lançamentos travestidos nem de desastres sonoros.
"Meet The Beatles!" traz na capa a mesma foto batida por Robert Freeman e utilizada no LP inglês "With The Beatles". Entretanto, por motivos financeiros e marketeiros, a Capitol fez algumas alterações no disco. No intuito de economizar em royalties de publicação, a empresa moldou o disco no padrão americano de 12 faixas, ao contrário do padrão britânico de 14. No Reino Unido, os royalties são calculados por base nos discos, onde cada editor divide pro-rata pelos royalties pagos nas vendas dos álbuns. Por isso não há custos adicionais para a gravadora quando ela quer incluir mais faixas. Nos Estados Unidos, os royalties são calculados por base nas canções. Cada música extra custa dinheiro para a gravadora, e por isso que o padrão americano tem um número menor de canções.
Enquanto que Brian Epstein e George Martin acreditavam na idéia de que os singles não deveriam entrar nos álbuns, pois assim o consumidor era forçado a comprar a mesma música duas vezes, a Capitol achava que singles de sucesso geravam álbuns de sucesso. Assim ela abriu seu primeiro álbum dos Beatles com os dois lados de seu single, "I want To Hold Your Hand" e "I Saw Her Standing There", seguidos pelo lado B do original inglês, "This Boy". As outras escolhidas foram sete originais de Lennon e McCartney presentes na versão inglesa, "Don't Bother Me" de George Harrison e a canção da Broadway "Till There Was You", uma música que até as mamães e os papais podiam gostar.
Escolhendo composições originais e retirando cinco covers de canções gravadas por artistas americanos, a Capitol poderia explorar os talentos do grupo como autores. Ordenando as músicas na seqüência de "With The Beatles", eles seguiram o alinhamento escolhido por George Martin exceto, claro, pelas faixas retiradas do disco.
"Meet The Beatles!" era o álbum perfeito para apresentar o grupo à América. A estratégia de incluir o hit single "I Want To Hold Your Hand" deu certo. Em dois meses, "Meet The Beatles" vendeu mais de 3,6 milhões de cópias – dez vezes mais que a mais otimista previsão da Capitol. O álbum ainda venderia mais de 5 milhões de unidades.
Algo que deve ser considerado é que no início dos anos 60 os discos para jovens raramente vendiam mais que alguns milhares de cópias. O sucesso da Capitol e seus álbuns reformulados dos Beatles mudou isso. As gravadoras logo perceberam que discos bem preparados poderiam vender bastante. Alguns anos depois, graças aos Beatles e a Capitol, o álbum substituiu o single como o formato reinante no mercado pop e rock.
"The Beatles' Second Album" é considerado uma colcha de retalhos, trazendo as cinco músicas restantes de "With The Beatles" ("Roll Over Beethoven," "You Really Got A Hold On Me," "Devil In Her Heart," "Money" e "Please Mister Postman"), três lados B de compactos ("Thank You Girl," "You Can't Do That" e "I'll Get You"), duas canções recém-gravadas que sairiam posteriormente no EP inglês "Long Tall Sally" ("Long Tall Sally" and "I Call Your Name") , e o sucesso "She Loves You". Mesmo assim é um álbum espantosamente eficiente, cheio de grandes canções. Chegou ao primeiro lugar da parada da Billboard e ficou lá durante cinco semanas, com vendas comprovadas de mais de dois milhões de unidades.
"Something New" é sem duvida o mais fraco do pacote. A Capitol se viu em um dilema criado pelo contrato entre a United Artists e os Beatles, envolvendo a trilha de A Hard Day's Night. A United Artists tinha os direitos exclusivos para o lançamento do disco nos Estados Unidos, o que fez a Capitol vir com algo novo para competir com a trilha-sonora do filme. "Something New" misturava músicas do disco da United Artists ("I'll Cry Instead," "Tell Me Why," "And I Love Her," "I'm Happy Just To Dance With You" e "If I Fell") com algumas do mais novo álbum britânico ("Things We Said Today," "Any Time At All" and "When I Get Home"), as duas faixas restantes do EP "Long Tall Sally" ("Slow Down" and "Matchbox") e uma versão de "I Want To Hold Your Hand" cantada em alemão chamada "Komm, Gib Mir Deine Hand". Embora "Something New" não tenha sido capaz de tirar a trilha da United Artists do primeiro lugar das paradas, ele permaneceu na segunda posição durante nove semanas e vendeu mais de dois milhões de cópias.
"Beatles'65" trouxe oito canções do LP britânico "Beatles For Sale" ("No Reply," "I'm A Loser," "Baby's In Black," "Rock And Roll Music," "I'll Follow The Sun," "Mr. Moonlight," "Honey Don't" e "Everybody's Trying To Be My Baby"), e também os dois lados do single "I Feel Fine/She's A Woman" ao lado de "I'll Be Back", faixa da versão inglesa de "A Hard Day's Night" e ainda inédita nos Estados Unidos. A Capitol não alterou muita coisa no alinhamento das músicas do "Beatles For Sale", fazendo o lado 1 ter uma forte semelhança com o disco inglês, tanto que o álbum pode ser classificado como "Beatles For Sale Parte 1". O disco foi para o topo da parada da Billboard e ficou lá por nove semanas consecutivas, vendendo mais de três milhões de cópias.
Sobre os supostos remixes realizados nas músicas, aqui estão os fatos. A EMI nunca enviou os masters originais de dois e quatro canais para os EUA, por isso a Capitol não poderia ter feito os "péssimos remixes stereo" mesmo se ela quisesse. Ela utilizou em seus álbuns as mesmas mixagens stereo preparadas por George Martin. Em alguns exemplos, as mixagens enviadas por ele para o mercado americano eram diferentes daquelas que saíram nos álbuns da Parlophone. Às vezes isto era intencional. Em outras vezes não, pois ocorria de a Capitol receber logo uma mixagem inicial que depois seria melhorada.
Nos dois primeiros discos, os mixes stereo têm todos os instrumentos em um canal e as vozes no outro. Isto não foi feito pela Capitol. Isto é o resultado da forma como as músicas foram gravadas. George Martin utilizou um gravador de dois canais para gravá-las. Para garantir que poderia obter uma boa mixagem mono com os vocais em um volume apropriado, ele gravou os instrumentos em uma faixa deixando os vocais na outra. Então, se você não gosta do stereo presente nos dois primeiros discos, não culpe a Capitol. Ela só utilizou aquilo que foi mandado. As mixagens stereo de "Meet The Beatles!" são exatamente as mesmas que aparecem na versão stereo de "With The Beatles".
Para "The Beatles' Second Album", a Capitol adicionou eco aos masters stereo. A caixa da fita master indica que as canções foram mexidas. Isto explica a razão das canções do álbum em stereo terem um som tão diferente da versão em mono ou da edição inglesa das mesmas músicas. Isto é particularmente notado em canções como "Roll Over Beethoven" e "Please Mister Postman".
Os mixes stereo encontrados em "Something New" e "Beatles'65" são aqueles enviados por George Martin. Com algumas poucas exceções, eles são os mesmos encontrados nas versões stereo inglesas de "A Hard Day's Night" e "Beatles For Sale". Sem contar "I Feel Fine" e "She's A Woman", a Capitol não alterou as fitas originais destes discos.
Três álbuns contêm algumas mixagens em stereo simulado duofônico. Isto seguia a prática da época que dizia que todas as músicas em um álbum stereo deveriam estar em verdadeiro stereo ou, pelo menos, em stereo simulado. Os engenheiros de som pegavam uma gravação em mono e a colocavam em dois canais distintos, com os graves acentuados em um e os agudos no outro. Algumas vezes os dois canais eram levemente tirados de sincronia para que a ilusão fosse maior. A Capitol não era a única a seguir esta prática. Todas as gravadoras faziam isso, incluindo a Parlophone de George Martin. A versão stereo do LP "Please Please Me" traz stereo simulado em "Love Me Do" e "P.S. I Love You".
Enquanto algumas críticas dão a impressão de que os quatro discos são cheios de som duofônico e banhados em eco, fica claro que este não é o caso. A Capitol apenas criou mixes duofônicos para sete músicas que não tinham masters stereo na época em que os álbuns foram preparados. A maioria delas, especialmente "I Want To Hold Your Hand," "She Loves You" e "I'll Get You", tem um stereo simulado eficiente. Por outro lado, os mixes duofônicos de "I Feel Fine" e "She's A Woman" são mesmo horríveis.
Para as faixas extraídas de "With The Beatles" que aparecem na versão em mono de "Meet The Beatles!" e "The Beatles' Second Album", a Capitol criou seu próprio som mono apenas reduzindo o master stereo em uma mixagem 2 em 1. Como o stereo era nada mais que uma cópia balanceada do master de dois canais, os engenheiros de som apenas duplicaram o trabalho de George Martin mixando em mono. Não se sabe porque a Capitol fez isto. É possível que ela não tivesse o tape em mono, mas isto parece improvável. Um engenheiro que está lá desde os anos 50 contou-me que mixagens 2 em 1 eram feitas sob a crença de que isso gerava um som mais encorpado
Aqueles que corretamente afirmam que os Beatles nada tinham a ver com a preparação dos discos da Capitol, geralmente ignoram o envolvimento de George Martin e Brian Epstein. Embora Martin não fosse de acordo com a prática da gravadora, tanto ele quanto Brian tinham plena ciência de que a Capitol estava reconfigurando os discos dos Beatles especialmente para o mercado americano, além de entenderem as razões disso. Eles colaboravam com a gravadora mandando as músicas para os discos. Quando a Capitol precisou de mais algumas músicas para completar o "Beatles' Second Album", George Martin, com a aprovação de Brian, mandou "Long Tall Sally" e "I Call Your Name" para a gravadora. Para o "Beatles VI", Martin mandou mais quatro novas canções, "You Like Me Too Much," "Tell Me What You See," "Bad Boy" e "Dizzy Miss Lizzie", as duas últimas gravadas especificamente para a Capitol. "Dizzy Miss Lizzy" acabou indo também para a versão inglesa de "Help!", pois o grupo precisava de uma faixa extra. "Bad Boy" foi colocada em uma coletânea por lá.
Quando a Capitol estava preparando o álbum "Yesterday… and Today", George Martin enviou mais três músicas do ainda inédito "Revolver". Na época em que "Sgt. Pepper" foi enviado para a Capitol, a prática de reconfigurar os álbuns já havia terminado. Ela sabia que os Beatles haviam gravado um álbum brilhante e que precisava ser mantido intacto. Entretanto, os engenheiros ainda alteraram levemente o disco, em relação ao álbum britânico, ao retirarem o inner groove e o som em alta freqüência presentes na edição original. Assim, a sensação de "fim de mundo" que chega com o acorde final de "A Day In The Life" não é perturbada pelos extras adicionados no LPs ingleses.
Para "Magical Mystery Tour", a Capitol converteu o conveniente compacto duplo em um álbum, completando o disco com "enchimentos" como "Strawberry Fields Forever," "Penny Lane," "Hello Goodbye" e "All You Need Is Love". Nove anos após o lançamento da edição americana de "Magical Mystery Tour", a Parlophone lançou o mesmo disco, usando até os mesmos master tapes da Capitol, que incluiam mixagens duofônicas para três canções! (Quando o álbum saiu em CD, mixagens em stereo de verdade foram usadas para todas as músicas.)
Sempre foi dito que a Capitol "retalhava" os discos cuidadosamente preparados pelos Beatles. Alguns biógrafos e fãs especularam afirmando que a infame "capa do açougue" foi criada para o disco "Yesterday...And Today" como uma "alfinetada" da banda, pelo fato da gravadora adulterar seus discos. Embora renda uma boa história, isto não é verdade. As fotos foram idealizadas pelo fotógrafo Bob Whitaker como parte de uma bizarra série chamada "A Somnambulant Adventure". John escolheu a foto para a capa como um sutil protesto contra a guerra do Vietnam. Após o recolhimento das capas ele declarou, "Ela é tão relevante quanto o Vietnam. Se o público pode aceitar algo tão cruel quanto a guerra, então podem aceitar esta capa também." A Capitol modificou os discos dos Beatles para vendê-los nos EUA. A estratégia da empresa de inserir hit singles nos álbuns claramente contribuiu para as enormes vendas conseguidas. A Capitol não "retalhou" os Beatles; ela vendeu os Beatles.
Alguns críticos chegaram ao ponto de dizer que a recente decisão da gravadora de lançar estes discos em CD seria um ato de ganância, cometido sob o pretexto de dar aos Estados Unidos "o que eles querem". A única verdade nestes comentários é a que diz que a Capitol está dando aos fãs "o que eles querem". Não é o caso da gravadora DIZER aos fãs o que eles querem, e sim dos fãs dizerem a Capitol e ela responder de acordo. Qualquer um que procura ver os comentários na Internet ou lê as revistas sobre os Beatles, como a Beatlefan ou a Beatology, sabe que os fãs pedem por estes álbuns em CD há mais de 15 anos. Nós crescemos com eles e amamos estes discos. Somos muito gratos por eles finalmente estarem sendo lançados em CD. É injusto criticar a gravadora por ela atender aos pedidos dos fãs.
Também é injusto que as pessoas critiquem o som dos CDs sem ouvi-los primeiro. Embora eu ainda escute as versões finais, estou disposto a apostar uma caixa de rosquinhas que até o mais crítico dos ouvintes vai gostar de ouvir pela primeira vez em CD as mixagens stereo de George Martin para "And I Love Her," "If I Fell," "Things We Said Today," "No Reply" e "I'll Follow The Sun".
E para aqueles que acreditam que o lançamento dos discos da Capitol em CD é um insulto ao trabalho dos Beatles, George Martin e Brian Epstein, eu discordo plenamente. Enquanto eu entendo os méritos da padronização do catálogo dos Beatles pelo mundo e a apresentação dos álbuns na forma que a banda os fez, acho que o lançamento do catálogo americano em uma edição limitada não os compromete de forma alguma.
Deixando os discos americanos em Box sets, não haverá a confusão dos consumidores verem "With The Beatles" na prateleira ao lado de "Meet The Beatles!", ou de encontrarem duas versões diferentes de "Rubber Soul" nas lojas. Acho que a Capitol e a Apple assumiram um grande compromisso ao manterem o catálogo inglês como o padrão, e lançarem o americano em um formato limitado para aqueles que querem ouvir o que os Estados Unidos ouviam nos anos 60, 70 e 80. Até porque a América foi e ainda é o maior mercado dos Beatles. Seu legado não será maculado com o lançamento de The Capitol Albums Vol. 1. Pelo contrário, uma parte muito importante deste legado acaba de ser preservada.
SOBRE O AUTOR
BRUCE SPIZER faz parte da primeira geração de fãs dos Beatles e é um renomado autor e pesquisador da banda. É considerado o maior expert sobre a discografia americana do grupo. Ele possui uma extensa coleção dos Beatles, concentrada principalmente nas primeiras prensagens dos discos americanos e canadenses, discos e demais itens promocionais, materiais de imprensa e posters.
Um "taxman" durante o dia, Spizer é um diplomado advogado tributário e contador público.Um "paperback writer" durante a noite, ele é autor dos aclamados livros "The Beatles Records on Vee-Jay", "The Beatles' Story on Capitol Records, Parts One and Two", "The Beatles on Apple Records" and "The Beatles Are Coming! The Birth of Beatlemania in America".Seus artigos foram publicados na Beatology Magazine, Beatlefan, Day Trippin', Goldmine e na American History
Ele mantém um popular website na internet voltado aos colecionadores dos Beatles, o www.beatle.net. O Sr. Spizer trabalhou como consultor no projeto da caixa The Capitol Albums. Este artigo foi traduzido e publicado no portal Beatles Brasil sob sua total permissão.
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