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Reviews
George Harrison Box Set
Pré-Review
Por Cláudio Teran
O que esperar da bela caixa Dark Horse Years - 1976-1992 já em pré-venda nos principais sites da net, e com previsão de lançamento no país? Não resta dúvida que iremos compra-la. É unânime a opinião de que se trata de um pacote muito bonito. Mas - e em termos de conteúdo? Quais serão de fato os atrativos que nos levarão a comprar os mesmos discos que possuímos? Debruçado sobre os press releases e o tracklist de cada CD, atrevo-me a fazer um pré-julgamento do material - disco a disco. Sem disfarçar a surpresa com o fato desta Caixa estar chegando ao mercado num período onde o 'consumismo' geral se retrai. A intenção seria comercializar o pacote com os fãs de carteirinha? Acho que não. Se assim fosse, o box set teria de reservar atrativos maiores que os divulgados pela imprensa até agora. Vamos à avaliação...
CD Thirty Three & 1/3
Mesmo disco conhecido, capa igual. O ganho estará na remasterização dos takes. A inclusão como faixa bonus da música Tears of the World é polêmica. Já conhecemos o take. Seria a mesma versão ou uma gravação com outro arranjo?
CD George Harrison
Mesmo disco conhecido, capa igual. O ganho estará na remasterização dos takes. A inclusão de uma demo version de Here Comes the Moon como faixa bonus não representa exatamente uma surpresa. Em que pese o fato do take não circular na pirataria.
CD Somewhere In England
A novidade aqui é a capa original - preparada para a edição de 1980. E que teve o lançamento adiado pela Warner em favor do LP Double Fantasy de John Lennon. As faixas que foram retiradas do álbum em sua versão antiga (Lay His Head, Sat Singing, e Flying Hour) não aparecem como bonus. Também fica de fora a demo version de Life Itself. As quatro foram lançadas oficialmente junto aos raros livros, Songs by George Harrison Vols. 01 e 02. É mais fácil (e continuará sendo) encontra-las na pirataria. Aparece como faixa bonus uma versão demo para Save the World.
CD Gone Troppo
Mesmo disco conhecido. Capa igual. O ganho estará na remasterização dos takes. O álbum acrescenta como faixa bonus uma versão demo para Mystical One. Embora o take não circule na pirataria, voltamos à situação semelhante a do disco George Harrison. O take extra não será uma novidade.
CD Cloud Nine
Mesmo disco conhecido. Capa igual. O ganho estará na remasternização dos takes. Registre-se entretanto o acréscimo das faixas Zig Zag, e Shangai Surprise - esta última ganhando a luz da oficialidade pela primeira vez. Zig Zag saiu oficialmente como um dos singles de Cloud Nine - e aparece na trilha sonora original nunca lançada do filme Shangai Surprise. A única faixa inédita conhecida dessas sessões, Vatican P2 Blues, foi retrabalhada e lançada no disco póstumo Brainwashed.
02 SACD Set Live in Japan
Mesmo disco conhecido. Capa igual. O ganho estará na remasterização dos takes. E ficará só nisso com dois senões. As faixas Love Comes to Everyone e Fish One the Sand, tocadas no começo da tour japonesa permanecerão disponíveis apenas no mercado pirata. O outro problema é que o SACD pode não tocar na aparelhagem que você possui em casa e é provável que este álbum permaneça encostado na sua estante até que o som da sala seja trocado.
DVD The Dark Horse Years
Para os colecionadores este será fácilmente o item mais atrativo da caixa Dark Horse Years. Dividido em capítulos, começa com Dark Horse Feature, edição de quinze minutos com George falando sobre a própria gravadora e sua carreira. Esperamos confirmar que o item importado para revenda no Brasil venha com as indispensáveis legendas em português. Será uma compensação pelo preço salgado da Caixa.
Claro que os sete promo videos serão bem-vindos, já que é a primeira vez na história da carreira-solo de George Harrison que esse material - This Song, Crackerbox Palace, Faster, Got My Mind Set On You - Version I, Got My Mind Set On You - Version II, When We Was Fab, e This Is Love - ganha a luz da oficialidade. É desconhecido o critério que privilegiou os promos que estão, na caixa, e dispensou outros como True Love ou Blow Away. Então é coisa para ficarmos com água na boca e clamando pelo dia no qual todos os clipes serão lançados num dvd especialmente para este fim.
A sequência, 'Live' também é convidativa, já que nos brindará com quatro canções da tour pelo Japão, Taxman, Cloud 9, Devil's Radio, e Cheer Down. Ótimo. Mas é outro material que um dia gostaríamos de ver lançado na integra. E é de se lamentar que nenhuma gravação da tour de 74 apareça nessa compilação.
Shangai Surprise é uma sequência do dvd que pode enganar os fãs novatos. Imagino que será finalmente lançado oficialmente um pedaço do Making Of do filme. O material circula entre os colecionadores de video com imagem sofrível, mas é muito legal. Sobretudo pelas sequências de estúdio com George Harrison. A melhor dessas é a gravação do take para Someplace Else. A versão de Shangai Surprise, onde ele faz dueto com a cantora Vicky Brown circula como videoclipe. E Hottest Going in Town nunca apareceu na edição para o raro making of. Há um breve trecho da mesma no filme - com George Harrison quase irreconhecível atuando como um cantor do cabaré chamado Zig Zag. Esse capítulo final paga o dvd e práticamente a Caixa toda...
CONSIDERAÇÕES GERAIS
A Caixa Dark Horse Years vem criando desde o anúncio de seu lançamento, interrogações que ainda deverão permanecer na mente dos fãs, colecionadores e pesquisadores da obra-solo de George Harrison.
Observem que o material produzido na EMI está fora do pacote pela óbvia razão que o ex-beatle nunca deteve controle integral sobre ele. Graças à ação ilegal do falecido engenheiro John Barrett, tivemos acesso à uma boa parcela do material produzido por Harrison no período EMI, e as gravações piratas das sessões para All Things Must Pass aí estão para não me deixar mentir.
Com a criação do sêlo Dark Horse, George afastou-se das demarches das gravadoras, e transformou um espaço generoso de sua mansão vitoriana, no F.P.S.H.O.T Recording Studios. Para quem não sabe, a sigla significa, Friar Park Studios Henley-On-Thames.
À partír do álbum Thirty Three & 1/3 - gravado nesse espaço ultra-privado - não sabemos o que George Harrison fêz exatamente em termos musicais, de 1976 até 2.001! Gravações feitas em locais como Abbey Road ou qualquer estúdio formal mundo afora deixam rastros e pistas. Registros como súmulas das sessões e documentação farta informando o que foi feito naquele período de aluguel das salas de gravação.
Dessa maneira, pesquisadores como Mark Lewinsohn puderam editar livros como The Beatles Recording Sessions. Mas como fazer isso com o estúdio caseiro de George Harrison? Nada do que ele produziu dentro de casa vazou para o underground. Quem duvida que se debruce sobre o material que circula na pirataria.
A origem de shows ao vivo, ou mesmo faixas de estúdio que possuimos, foi roubada do ex-beatle através de audience tapes, sistemas in-house, arquivos da EMI, ou de um ou outro estúdio que ele tenha frequentado. Nunca vazou material do F.P.S.H.O.T. O que me causa uma angústia dos diabos. Qual será o tamanho exato da produção deixada por George Harrison? Quantas horas de tape com material inédito ele deixou? George - ao longo de seus 'quiet years' pegava na guitarra e produzia canções? Gravava demos para trabalhar posteriormente?
Essas perguntas estão sem resposta porque - insisto - nunca foi contrabandeado para fora dos muros da mansão em Henley-On-Thames um só cassete com material inédito, que se tenha noticia. Nem os mais abalizados pesquisadores sabem quantos takes foram produzidos para um álbum como Thirty Three & 1/3. Ignora-se, se - e quais faixas - teriam sobrado. Existem sobras?
A mesma interrogação vale para os outros álbuns. Quantos takes das performances oficiais foram produzidos até se chegar ao resultado final? Entre as esparsas noticias de material inédito produzido(e não lançado)entre 1976 e 2.001 estão os registros de direitos autorais. Voltemos ao final dos anos 80. Yoko Ono liberou para a Westwood One FM, um material que ainda hoje impressiona pelo volume. Foram rolos e rolos de tape com o legado musical da carreira-solo de John Lennon(suas demos, rascunhos, shows, material dos Beatles, outtakes, etc). Aquilo resultou na quilométrica série radiofônica The Lost Lennon Tapes. E criou uma fronteira no sub-mundo. A pirataria ligada a John pode ser medida antes, e depois dos programas de rádio. Após a série, ficou dificil encontrar um disco pirata de Lennon que não venha das Lost Tapes. A mesma Yoko - anos mais tarde - editou a caixa Anthology e surpreendeu os pesquisadores porque liberou muito material inédito - a maior parte nunca tocado na sequência de programas de rádio. No caso de George, podemos sonhar um dia com, The Lost Harrison Tapes? Trata-se por ora de outra indagação sem resposta. Os discos da caixa Dark Horse são bem-vindos, mas(oh! Lord)tomara que esse material seja um aperitivo para o futuro. Queremos dvd's com todos os promos, com a íntegra do show do Japão, e um dia quem sabe, um dvdzinho com pelo menos uma edição especial da tour de 1974. Por ora aguardemos a Caixa pela qual pagaremos caro...
Cláudio Teran
ccsteran@noolhar.com
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