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Aura do disco ao vivo


Guilherme
http://guilhermelentz.sites.uol.com.br

Olá, pessoal!

Alguém mais sentiu que a aura do disco ao vivo se perdeu um pouco? Eu cresci sob a sombra de alguns antológicos discos ao vivo, principalmente o "Live after death", do Iron Maiden. O "Wings over America", que já era lenda sem que eu soubesse, depois ocupou um espaço mítico. E o "Tripping the live fantastic" me tirou o sono por muito tempo naqueles dias em que não tínhamos internet nem notícias claras. A magia desses lançamentos continua viva para mim, e olhando do presente tenho a impressão de que não se trata de mero saudosismo subjetivo, de que esses discos ao vivo do passado realmente têm um lugar na história.

Ultimamente, porém, fico com a impressão de que não se consegue mais criar esse tipo de marco. Quando o "Back in the US" saiu, fiquei maravilhado, mas também com um certo mal-estar, que sempre atribuí a meus sentimentos mal resolvidos em relação a "Freedom" e à tentativa do Paul de se envolver de alguma forma, com boas intenções muito duvidosas, no 11 de setembro. Depois vieram o Red Square, o "Space between US", agora o "Good evening, New York", todos com seu charme, méritos inquestionáveis, qualidade de som e vídeo cada vez melhor, performances cada vez mais matadoras e aquela magia beatle que nunca acaba. Com certeza qualquer um desses garante uma tarde maravilhosa.

Mas parece que eles não estão destinados a entrar para a história, nem a serem escarafunchados por gerações de estudiosos, como aqueles velhos duplos ao vivo do passado foram. A nossa relação com esses lançamentos parece que mudou. Acho que tem a ver com o desgaste e deturpação da proposta do ao vivo; tem a ver, no caso do Paul, com uma certa repetitividade do repertório, quando ele tem tanta coisa boa para mostrar; tem a ver com o acesso mais fácil que hoje temos a todo esse material; tem a ver com os outros momentos que todos atravessamos na vida; e tem a ver também com o que na minha opinião é um erro de estratégia comercial. Hoje em dia se tenta reproduzir estrategicamente, por técnica, por receita, aquela magia que no passado aconteceu por intuição.

Claro que não sou tão ingênuo nem tão mal informado a ponto de achar que toda a saga dos Beatles aconteceu por intuição, mas acho que durante muito tempo até as estratégias comerciais eram mais artísticas. Acho que o comércio existia em função da arte, e, desde algum ponto, essa relação claramente se inverteu, em quase todos os produtos culturais. Os Beatles resistem porque são os Beatles, mas até eles estão sendo afetados por essa ideologia.

Eu acho também que alguns artistas ficam para sempre marcados por certos passos em falso e às vezes nunca mais conseguem se reencontrar totalmente. Sempre tive a impressão de que o Metallica se arrependeu um pouco da suavizada que deu nos Load e Reload, e depois ficou tentando compensar, com uma pauleira forçada, e nunca mais achou totalmente o rumo de casa. Às vezes acho que o Paul também tem mal-estar com o Back In The US, e está desde então tentando criar um grande trabalho ao vivo que dê um alívio, mas aquele risco de uma historicidade forçada continua sempre presente.

Enfim, da minha parte vou curtir o novo do Paul, que está aí, mas sempre com um sentimento de que, por melhor que seja, ele ainda não vai estar naquele lugar do Wings Over America e do Tripping the Live Fantastic. Acho uma pena o status dos discos ao vivo estar um pouco ameaçado, pois sempre fui fã desse tipo de trabalho.









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