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Sean Lennon em Portugal

"Hello, my name is Sean" - foi assim que um Sean Lennon de cabelo revolto, barba, casaco e gravata se apresentou, tímido, no concerto intimista que deu para uma centena de pessoas no dia 18 de Fevereiro no Santiago Alquimista, uma sala alternativa num dos mais antigos e típicos bairros lisboetas, o Castelo.

Aliás, o próprio Sean fez questão de salientar, a meio do concerto, que os portugueses se deveriam "sentir muito felizes com as ruas estreitas que têm e a beleza dos azulejos".

"A cidade é toda assim?", indagou.

"Siiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiim", mentiu alegremente o povo.

Acompanhado por Yuka Honda (teclas), ex-Cibo Matto e sua actual companheira, Cameron Greider (guitarra e voz), Brad Albetta (baixo e voz) e Bill Dobrow (bateria e voz), Sean Lennon iniciou o concerto de hora e meia com "Spectacle", não sem que antes tivesse manifestado o seu apreço pela "aguardente portuguesa".

Sempre agarrado á sua guitarra acústica, desfilou sucessivamente "Dead Meat", "Parachute" e "Wait For Me" do surpreendente e agradável novo álbum, "Friendly Fire", com ar de quem está a pedir desculpa por cantar.

Num encontro com fãs, no final do concerto, o signatário citou-lhe, em inglês, a sua faceta de "shy", ao que Sean respondeu, em perfeito português, "sim, tímido".

Aliada à extrema sensibilidade e apurada melodia que respiram das suas canções, foi essa exactamente a grande característica do concerto de Sean, um concerto intimista, meio-envergonhado, que cativou de profundis o público lusitano, atento, interessado, fã, conhecedor e responsável.

Ao contrário dos espanhóis, nas vésperas, os portugueses tiveram o bom senso de não confundir as águas e por nunca se ouviu na sala a palavra "Beatles" ou "John Lennon". Tudo se desenrolou num "Friendly Fire".

Sean terá apreciado o sentido de maturidade do público e ofereceu-lhe duas canções novas, "Smoke & Mirrors" e uma outra, ainda sem título, ao mesmo tempo que acedeu em encontrar-se, no final do concerto, com fãs e em deixar mesmo que o acompanhassem aos fados numa conhecida casa lisboeta.

Na nova canção, ainda sem título mas que no alinhamento vem descrita como "piano epic", Sean, trocando olhares cúmplices com Yuka, agiganta-se num imenso e pujante solo de guitarra à la Pink Floyd, condimentado com as notas lacrimejantes das teclas da nipónica. Mais tarde, quando o signatário transmitiu o seu agrado pela canção, Sean exultou-se e explicou que tinha sido uma das suas primeiras canções compostas em piano e que estava ainda a aperfeiçoá-la.

Sean Lennon tocou todo o álbum (em "Headlights" disse que a versão com bateria é mais divertida), fez a rábula habitual do "riff" dos Black Sabbath - que ninguém conseguiu identificar - e terminou o concerto com a versão de "Would I Be The One", de Marc Bolan.


Para o encore, veio sozinho com a guitarra acústica para uma rendição de "Tomorrow", após o que se despediu de vez, com a banda, com "Mystery Juice", do seu primeiro álbum, "Into The Sun", e, simultaneamente a sua primeira gravação de sempre, conforme confessou.

No encontro com fãs, Sean manteve a postura de "menino envergonhado", mas não se fez rogado em assinar autógrafos e em trocar impressões.

Ficou fascinado pelas perguntas que um jovem de 18 anos lhe fez sobre as guitarras que usava, ficava atónito quando o álbum e o concerto eram amplamente gabados, riu-se quando alguém lhe perguntou se ainda vivia no Dakota. "Já tenho idade suficiente para viver fora".

Conhece palavras de português, sabe a origem portuguesa do "arigato" nipónico, mas não fala japonês. "Falo francês". Não conhece Emitt Rhodes (diz), mas fica surpreso e satisfeito quando o signatário lhe fala nos Everly Brothers a propósito de "Parachute". "Achas? Boa! Gosto muito dos Everly Brothers", chuta.

"Parabéns à tua Mãe!" (Yoko Ono fez 74 anos no dia do concerto). "É verdade, a minha Mãe faz hoje anos, ainda não falei com ela", responde, fazendo sinal à sua entourage para estabelecer a comunicação com Nova Iorque.

Atónicos estavam os fãs! Nunca lhes tinha passado pela cabeça estar perante o filho de John Lennon (agora já se pode falar disso) com a naturalidade e a simplicidade com que estavam. Talvez por isso tivessem ficado bloqueados e quase impossibilitados de dizer o que quer que fosse. Bastava olhar para Sean!

E foi o próprio Sean a quebrar o bloqueio ao propôr que fossem todos ouvir fado.

Ninguém sabe ao certo quem falou antecipadamente de fado a Sean, mas acabámos todos no "Clube de Fado", onde pontua Fontes Rocha, provavelmente o mais famoso guitarrista português de fado da actualidade, e duas belas moçoilas, de decote generoso, - Teresa Alves e Célia Leiria -, sinal das novas tendências da ancestral fatalidade lusitana.

Deliciado com um "flaming cognac", Sean ouviu com atenção os fados, especialmente as raparigas (pudera!) e, à despedida, fazendo questão de se dirigir ao jornalista, afiançou ao signatário que, em homenagem sua e ao prazer que teve em estar em Portugal, iria ouvir Emitt Rhodes.

Luís Pinheiro de Almeida









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