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O Cavern Club é Aqui
Bandas-Cover brasileiras, que participarão do Festival "Beatle Week" em Liverpool, se despediram do público carioca em show no Canecão.



Diferentemente das edições anteriores, o festival "Beatle Week – 2004", que acontece anualmente, durante a última semana de agosto, em Liverpool, contará com a participação de poucas bandas brasileiras. Apesar de serem freqüentemente consideradas as melhores, desta vez só quatro chegarão lá: do Rio, a "Blackbird" e a "Acustika", de Vitória, a "Club Big Beatles" e de Natal, a "Mad Dogs". A organização do evento promoveu um encontro no dia 12 de agosto, no Canecão, no Rio, para que os cariocas pudessem ter uma prévia do que os conterrâneos dos Fab 4 vão ver. E a produção caprichou. Não faltou nada para que os participantes tivessem um tratamento Vip. A parceria com grandes empresas, que investiram no evento, fez com que tudo isso fosse possível: som e iluminação de primeira, mordomias nos camarins. A divulgação em massa pelas Rádios Cidade e JB (Rio), que distribuiram convites entre seus ouvintes, proporcionou uma casa lotada. Um painel gigantesco no fundo do palco reproduzia a decoração do "Cavern Back" e não deixava dúvidas – é prá lá mesmo que eles estão indo. Impressionante. Os músicos estavam visivelmente emocionados, é claro, mas também apreensivos por estarem tocando pela primeira vez para um público tão exigente.

Coube aos experientes integrantes da "Mad Dogs" a "pole position" no grid de largada. Banda formada por músicos profissionais com formação acadêmica, eles admitem que sua verdadeira paixão é o blues. Pela segunda vez consecutiva, eles participam do festival e confessam que o objetivo deles é apresentar um trabalho alternativo e, com isso, fazer a diferença. Segundo o vocalista CBI (!) "queremos deixar bem claro para a platéia que somos brasileiros e, portanto, nossos arranjos contém ingredientes de nossas origens". Portanto, a 'Mad Dogs' faz uma redecoração nordestina na música dos Beatles e, ao longo do show, pode se reconhecer elementos do xaxado, forró e baião, (para horror dos beateemaniacos mais xiitas). Demonstrando que suas influências não têm fronteiras, eles ousaram transformar um clássico como "Strawberry Fields", em um reggae e "And I love her", numa bossa nova. Mas como o primeiro amor a gente nunca esquece, fizeram dos blues "Come Together" e "Yer Blues", as melhores performances do show. Se o objetivo era impressionar, eles acertaram na mosca.

Em seguida foi a vez da "Blackbird", que vem atuando principalmente na zona oeste do Rio, arrastando uma legião de fãs onde quer que eles se apresentem. Apesar de existirem há 6 anos (com a atual formação só há 5 meses), este show significou uma noite de estréias. Foi a primeira vez que ela se apresentou no Canecão e assim será também em Liverpool. Para o guitarrista Kiko, o único integrante que já participou da Beatle Week, "desta vez vai ser melhor ainda por poder estar indo com " a família", maneira carinhosa pela qual os músicos se referem banda. Segundo o supertalentoso Thiago Henrique; Liverpool vai ser a realização de um sonho: "nem sei qual vai ser minha reação quando chegar lá , só em pensar nisso fico arrepiado". Já o tecladista Flavio brinca: "me sinto como um muçulmano indo para a Meca". Mas para todos eles, sem exceção, a maior emoção será poder tocar onde tudo começou e, desta forma, se sentir parte da história. A Blackbird é a única banda que se propõe a ser cover, ou seja, tenta reproduzir os arranjos originais. E naquela noite provaram que é exatamente isso que o público quer ouvir. Com um repertório que cobria basicamente a 2ª fase da carreira dos Beatles, a platéia reagiu com entusiasmo aplaudindo e gritando o nome de seus integrantes. Ficou claro que existe um pacto entre os beatlemaniacos e as bandas cover: quanto mais as bandas forem fiéis aos Beatles, público será mais fiel a elas. A "Blackbird", sabendo disso, jogou conforme as regras e se deu bem. O Canecão estava todo com eles.

A terceira banda a se apresentar, foi, sem dúvida, a grande surpresa da noite. Além de ser a única banda, que se tem notícia, composta só por mulheres, a "Acustika" tem uma formação incomum - violão/baixo/flauta/violino/gaita e bateria. As 4 cariocas são profissionais da música e há um ano vêm conquistando as noites do Rio apresentando o melhor do rock inglês. A vocalista Tayana não hesita em afirmar: "a música é o melhor produto de exportação deles, além do whiskey, é claro". Para participar do festival, elas prepararam um repertório Beatle adaptado para os instrumentos que dispõem. A baixista Luciana diz que os arranjos são feitos por todas mas admite que sobrou para ela a parte mais complicada: "Paul McCartney é um compositor extremamente talentoso e suas linhas de baixo são muito melódicas – é uma grande inspiração para toda a classe". Jane, que vem de uma família de músicos eruditos, substitui com seu violino os tradicionais solos de guitarra e demonstra que quem tem criatividade tem tudo. Apesar de estar há 10 anos em atividade acompanhando os melhores músicos brasileiros, a super competente baterista Cláudia fala emocionada sobre a viagem: "tocar em Liverpool é uma coisa surreal, ainda não consigo acreditar que vai acontecer realmente". As meninas subiram ao palco com segurança e, de cara, impressionaram esbanjando carisma, graça e atitude. Já nas primeiras músicas, uma versão de "Ticket to Ride", ainda mais roqueira que a dos próprios Beatles, e uma sensual "Oh Darling", arrebataram a platéia que foi direto para o bolso de cada uma delas. O Acustika simplesmente pintou o Canecão de cor de rosa, para delírio dos marmanjos presentes que estavam, literalmente, babando por elas.

O encerramento da festa ficou a cargo da "Clube Big Beatles", de Vitória. A banda é a detentora do recorde absoluto de apresentações na "Beatle Week" – esse ano será a 10ª. Liderados pelo jormalista Edu Henning que, admite, "perdi a conta de quantos shows fizemos lá. Esse ano serão só 5. Vamos aproveitar o tempo para ver as novidades". Edu, que há anos vem divulgando o trabalho dos Beatles em seu programa de rádio transmitido para todo o Espírito Santo, faz uma declaração bombástica: "tenho um apartamento só para guardar minha coleção", matando todos nós de inveja. Mas a intenção da "Big Beatles" é a de animar a festa e, por isso mesmo, ficaram por último demonstrando que o bom humor é a principal característica da banda: Edu e suas enormes luvas brancas (que é a marca registrada da Big) regia a platéia, convidando todos a cantar com eles os grandes sucessos dos Beatles. E, como não poderia deixar de ser, o grand finale foi o encontro de todas as bandas no palco, fazendo um descontraído 'Hey Jude' e instigando seus respectivos fãs para que cantassem o "lá lá lá lá" mais alto que os fãs das outras. Hilário.

Agora só nos resta desejar a eles, que partem para Londres no dia 25 de agosto, sorte e uma boa viagem. Eles podem ter a certeza de que fica aqui uma enorme torcida de todos os beatlemaníacos, frustrados por não poder acompanhá-los nessa aventura. Como eu, por exemplo.

Leilane Cozzi









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