Reviews
The Naked Bar
Capitaneado pela banda Fab Revival, um evento no The Bar (SP) comemorou a chegada do LET IT BE...NAKED, em altíssimo estilo. Acompanhe aqui o review inédito do show.

por Tulio Segalla
Fotos cedidas pela produção tiradas por Débora Mismetti

Banda Fab Revival, a grande atração da noite.


Sou um desconhecido, porém ativo beatlemaníaco. Com mais de 35 anos de beatlemania, horas e horas de shows de bandas-cover, músico amador, leitor assíduo do portal BeatlesBrasil, participante anônimo da maioria dos eventos ligados aos Beatles, estive no The Bar para assistir ao lançamento do Let It Be, Naked.

Cheguei um pouco depois das 17:00h mas, irritantemente, as portas ainda estavam fechadas. Felizmente a organização - que transmitiu profissionalismo o tempo todo - logo interviu, a entrada foi permitida e as coisas boas começaram a acontecer.

A casa é muito confortável e tem um visual "clean", algo que te deixa muito à vontade. Um bom palco, um bom som, um belo bar e uma grande "Zona Vip" quase um "lounge". O ambiente onde se realizavam os shows estava bastante quente. Mas aparentemente é disso que a maioria das pessoas gosta, já que a animação em nenhum momento foi reduzida devido a esse fato. Na ala Vip estava fresquinho. Aliás, meus parabéns à organização! Tudo correu de uma maneira tão natural que a gente nem notou o tremendo esforço que normalmente esses eventos demandam.

Entre sorteios do CD lançado e esquetes humorísticos, como o impagável Severino Bitulino interpretado por Andrea, que além de tecladista da FAB é humorista da TV, os shows foram acontecendo.

A primeira entrada foi da Cia. Acústica, um beatle-show com duas vozes, violão e teclado. Um show leve e tranquilo, bastante agradável.

A segunda entrada foi de uma banda já minha velha conhecida, a Zoombeatles. Costumo vê-la no ABC paulista e nunca me decepcionei. Umas quinhentas pessoas já se acotovelavam em frente ao palco. Iniciaram caracterizados com seus terninhos-beatle e depois trocaram para uma roupa mais casual. Fizeram seu show vibrante, carismático, que te pega pelo o estômago. Foi a primeira vez que vi o Roni tocar sozinho e cantar "Blackbird". Mais uma vez a Zoombeatles deu seu recado, confirmou a posição alcançada entre as bandas cover e mostrou porque foi a campeã da Beatle Fest do ano passado, merecendo seu beatle-giro por Londres e Liverpool. Longa vida à Zoom!!!!!

O baixinho Max, da Fab Revival, soltando o berro!


A terceira entrada foi do Duofel. Esses magos dos violões prepararam arranjos inéditos de músicas dos Beatles especialmente para o evento. Como eles disseram, nunca tinham sido apresentadas antes e provavelmente nunca seriam depois. Com violões de 6 cordas e de 12 cordas, conseguiram encher o ar com harmonias instigantes que deixaram o público num estado de excitação tal que não conseguiram sair do palco sem um bis. Aí tocaram duas outras músicas, a última delas acho que era "O Trem Caipira" de Egberto Gismonti, com um arranjo que tem uma "falação" muito agitada, próxima de uma embolada. Todos ficaram muito satisfeitos.

Nesse momento sobe ao palco um sujeito com um mini-violão. Foi a primeira vez que vi um ukulele, o instrumento preferido de George Harrison. Deve ser um cara mais ou menos conhecido porque o público começo a gritar: Carlão, Carlão! No começo não se ouvia o ukulele mas logo isso foi resolvido e ele atacou de "Till There Was You" num arranjo preguiçoso... Estranho mas interessante e aparentemente honesto. Ao fim da música ele mesmo chamou a FAB Revival ao palco chamando a atenção para os seus colossais narizes. Confesso que já tinha visto esta banda tocar antes e que ela foi exatamente o motivo de minha ida ao The Bar... e do atrevimento em escrever este artigo.

Carlos Assale com o seu 'mini-violão'


Aos primeiros acordes de "She Said, She Said", a gente nota que a coisa não é de brincadeira. A sonoridade é tão próxima do original que um largo sorriso logo se estampa em nossa face e na de todos os outros. Algo mágico está acontecendo e mais de mil pessoas pulam de alegria. Não é o visual, é o som!! Algo que entra na pele e cutuca nossas lembranças. O sistema cerebral compara as ondas sonoras recebidas com a nossa memória musical e o casamento é perfeito. Doses maciças de serotonina são liberadas. O resultado é felicidade! - é tudo o que sentimos naquele momento!

Não lembro de tudo que foi tocado lá mas certas coisas mais do que marcaram. "Sgt Peppers" soava como se uma banda militar estivesse ali ao vivo e emendou num "With a Little Help From My Friends" perfeito. O contrabaixista, um baixinho chamado Max, tocou a complexa linha de baixo de uma maneira mais que exata - as notas certas, no tempo certo, com o timbre certo e com o feeling certo!! Paul McCartney se orgulharia.

Lembro de um "Hey Buldog" e um "Get Back" que são assustadores de tão fiéis. O público urra, canta e dança, com os rostos exprimindo uma certa perplexidade - "Meu Deus, o que está acontecendo aqui???!!!"

O tecladista Andrea executa o solo de piano de "In My Life" reproduzindo o solo de George Martin nos mínimos detalhes. Se lembrarmos que originalmente isso foi gravado em meia velocidade e depois reproduzido girando a fita duas vezes mais rápido, a gente tem noção do tamanho da encrenca. O Andrea sai dela brincando! Intrigante é aquele guitarrista, um tal de Augusto. Nada nele indica o que vai sair dali. O que sai é um John Lennon tão fiel, tão emocional, tão emocionante - na voz e no instrumento - que comove. A voz não é idêntica mas a interpretação é tão Lennon que isso passa desapercebido. Falando nas vozes, logicamente elas não são idênticas às originais - afinal os Beatles são únicos - mas quando a banda ataca em conjunto, fazendo vocais em conjunto, o "ensemble" é tão assustadoramente idêntico que sentimos nossas orelhas se mexerem. Elas parecem estar procurando onde está o truque. Quem já ouviu "Nowhere Man" com a Fab sabe do que eu estou falando...

Augusto, Beto e Andreas


Uma banda beatle-cover não se segura sem um bom baterista que tenha um toque preciso e um timing impecável - os segredos de Ringo. Como um bom baterista é invisível, só fui notá-lo no solo de bateria de The End, que saiu perfeito. A Fab deve a ele muito do seu desempenho. Ele deixa tudo muito bem amarrado e seguro. Num momento do show alguns componentes trocam de instrumento e aquele baixista pequenino assume o piano. De seus dedos e sua garganta saem "For No One", "Martha My Dear" e "Hello Goodbye". Ninguém parece acreditar que aquilo está sendo executado ao vivo, sem truques - todos parecem procurar Paul McCartney no palco. Ele não está lá... ou então se escondeu dentro daquele pequeno invólucro e estava pregando uma peça em todos. Bons perfumes continuam vindo nos pequenos frascos!

Há muito mais a falar mas a lembrança da sonoridade imaculada que essa banda tem me assalta. O responsável por isso é um Maestro Guitarrista chamado Beto Iannicelli. Ele é bastante conhecido no meio musical como arranjador e professor e inclusive tem um curso voltado para o ensino da música dos Beatles. O seu perfeccionismo é amplamente conhecido e o resultado é que ele faz sua banda SOAR como os Beatles, mesmo não usando todos os instrumentos iguais aos originais. É a velha história de que o som está no dedo - de quem ensina e de quem aprende - e não só no equipamento. Sob sua batuta o "ensemble" da banda é intrigantemente parecido com o original e nos deixa boquiabertos. Como guitarrista, lembrando "Taxman", "Nowhere Man", "I Feel Fine", "Let It Be", "One After 909" e "The End" a gente conclui que ele nasceu pra isso. Já vi muitos bons guitarristas tocando música dos Beatles mas até agora nenhum que tocasse com esse "feeling" e precisão - é emocionante. Com certeza George Harrison, satisfeito, guia seus dedos por aquelas cordas. Longa vida à Fab Revival!!

Beto Iannicelli, um verdadeiro Harrison


Após essa passagem instigante ainda teríamos a performance de uma das bandas-cover mais antigas, simpáticas e originais que existem por aí: a Golden Slumbers. Fazendo um set misto de música dos Beatles e carreira solo fecharam o evento com chave de ouro! Longa vida à Golden Slumbers!

Só me restava terminar a cerveja e ir dormir leve e feliz. Um "novo" disco dos Beatles tinha sido a desculpa perfeita para sentir as mesmas emoções que eu sentia há décadas atrás.









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