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McCartney Conquista Lisboa!
O ex-Beatle Paul McCartney abre o festival Rock In Rio Lisboa e emociona fãs de todas as idades.



Por Luís Pinheiro de Almeida em Lisboa, Portugal


Lisboa, Portugal - Sexta-Feira, 28 de Maio de 2004
À partida, Paul McCartney enfrentava um perigoso desafio: Portugal, e mais exactamente Lisboa, não é dos locais do Mundo onde se acolitem os maiores fãs dos Beatles. Por uma daquelas razões que ninguém sabe explicar, os portugueses sempre tenderam mais para os Rolling Stones.

Mas também não era esse o único óbice. Numa conjuntura económica difícil e com uma oferta cultural vasta na sequência do Euro 2004, desembolsar 53 euros (200 reais) para ver Paul McCartney ao vivo não era tarefa fácil. Mas o ex-Beatle tudo superou e conquistou definitivamente Lisboa e os portugueses. Como?

Contrariamente às expectativas, o público (pagante ou não) acorreu em massa. Não havendo ainda números oficiais, calcula-se que entre 50 a 60 mil pessoas tivessem estado no belo Parque da Bela Vista, um excelente espaço, em anfiteatro, para ver concertos e que foi utilizado pela primeira vez para este tipo de espectáculo.

Um dos óbices estava assim amplamente ganho, com a particularidade de a média etária da multidão lisboeta ser substancialmente mais baixa do que a que acorrera em Gijón, Espanha, na passada terça-feira no início da "04 Summer Tour". O que é surpreendente.

O resto ficou por conta de Paul McCartney. E esse foi o óbice mais facilmente ultrapassado. Jovial, comunicativo, em forma, belas canções, boa banda, tudo jogou a favor do ex-Beatle. E o público de Lisboa não regateou o seu reconhecimento.



O concerto propriamente dito foi exactamente igual ao de Gijón, presumindo-se que o seja até ao final da digressão em Glastonbury, no dia 26 de Junho. "Olá Lisboa, viva Portugal, estão todos fixes?", foram as primeiras palavras em português de Paul McCartney, depois de cantar "Jet" e "Got To get You Into My Life".

Como McCartney não conseguiu dizer em português tudo o que lhe ia na alma - investiu fortemente neste concerto de Lisboa - contratou tradução simultânea que ia passando nos ecrãs.

Os portugueses gostaram que McCartney lhes tivesse falado na sua língua e não regatearam aplausos. Como seria de esperar - e sobretudo no caso português - as canções mais vitoriadas foram as baladas como "Let It Be", "The Long And Windind Road", "Hey Jude", "Yesterday".

"Yesterday" terá sido um dos momentos de maior orgulho para os portugueses, já que a canção foi escrita em Portugal, mas, infelizmente, a história da canção foi dita em inglês com tradução simultânea nos ecrãs. Caso tivesse sido dito em directo em português, outro impacto, ainda maior, teria tido.

Ao despedir-se de Lisboa, Paul McCartney desejou boa sorte a Portugal no Campeonato Europeu de Futebol que se inicia no dia 12 de Junho no Porto.

Luís Pinheiro de Almeida



Alinhamento:
Jet
Got To get You Into My Life
Flaming Pie
All My Loving
Let Me Roll It
You Won't See Me
She's A Woman
Maybe I'm Amazed
The Long And Winding Road
In Spite Of All The Danger
Blackbird
We Can Work It Out
Here Today
All Things Must Pass
I'll Follow The Sun
For No One
Calico Skies
I've Just Seen A Face
Eleanor Rigby
Drive My Car
Penny Lane
Get Back
Band On The Run
Back in The USSR
Live And Let Die
I've Got A Feeling
Lady Madonna
Hey Jude
Yesterday
Let It Be
I Saw Her Standing There
Helter Skelter
Sgt Pepper's/The End

LPA
Lisboa-Portugal

Paul Agradece A Portugal Inspiração para 'Yesterday'

"Olá Lisboa", "Viva Portugal", "Estão todos fixes?" - foram estas as primeiras palavras em português de Paul McCartney na sua estreia absoluta em terras lusitanas no dia 28 de Maio, na véspera da abertura oficial do Rock in Rio-Lisboa, no belíssimo Parque da Bela Vista, na capital.

Ao longo de duas horas e meia de concerto foi constante a preocupação do ex-Beatle em se comunicar em português e quando não o conseguia fazer tinha ao seu dispor um sistema de tradução simultânea que projectava as legendas nos ecrãs. "Não sei muitas palavras", justificou, na língua de Camões. Excitado com o sistema, não poupou elogios às duas tradutoras e brincou com elas, inventando frases para tradução ou falando lenta e rapidamente ao mesmo tempo ("o pássaro amarelo voou debaixo da ponte azul").

Em forma, bem disposto, excelente comunicador, Paul McCartney conquistou facilmente o público lisboeta, soltando emoções várias com a revisitação das canções dos Beatles e dos Wings.

Foi unânime o comentário final de que o ex-Beatle ultrapassou largamente as expectativas iniciais, não só quanto ao número de espectadores - 45 mil, segundo números provisórios oficiais - mas sobretudo quanto ao comportamento em palco e à excelência do concerto. Intrigado com o som das palavras "canção" e "vez", Paul McCartney usou-as e abusou-as no anúncio das estreias: "esta é a primeira vez que toco esta canção".

Não sendo um concerto integrado oficialmente no Rock In Rio - por isso Paul McCartney não autorizou o logotipo do Festival nem os logos dos patrocinadores -, o ex-Beatle não deixou de referir "Rock In Rio" várias vezes ao longo do concerto.

Surpreendente também foi a média etária dos espectadores. Quando se esperavam cabelos brancos e respeitáveis barrigas, o lindíssimo recinto em anfiteatro foi inundado por jovens de ambos os sexos vindos de todo o país e até do estrangeiro que animaram o espectáculo, dançando e cantando. Situado num dos corredores aéreos do aeroporto de Lisboa, um único avião, da Portugália, sobrevoou o parque e por um minuto que não faria história, falhando a canção "Back In The USSR". Na assistência, havia bandeiras de Portugal, do Brasil, da Grã-Bretanha, da Venezuela, da Argentina, cartazes de boas vindas, fotos e até um cachecol do FC Porto, campeão europeu de futebol.

A realização em Portugal, em Junho, do Euro 2004, foi igualmente tema de conversa de Paul McCartney que, no final do concerto, desejou boa sorte ao país anfitrião.

Confessando-se estar a passar um "bom tempo", Paul repete duas vezes o final de "I'll Follow The Sun", com o argumento de que a canção é curta, final que volta a repetir mais tarde, depois de "For No One". Cumprindo fielmente o alinhamento de Gijón, Sir Paul apresentou a banda em português e gozou imenso no exercício da língua de Camões: "quero apresentar-vos o nosso fantástico guitarrista" (Rusty Anderson), "esta canção é do nosso primeiro disco antes dos Beatles" ("In Spite Of All The Danger"), "escrevi esta canção depois da morte do meu amigo John" ("Here Today"), "esta canção é em memória do meu amigo George" ("All Things Must Pass"), "esta é a primeira vez que toco esta canção ao vivo" ("I'll Follow The Sun"), "e agora, meus amigos, cantem comigo", "só os homens, só as mulheres" ("Hey Jude").

Imediatamente antes de "Hey Jude", Paul McCartney improvisou ao piano um tema em que cantou amiúde "Lisboa", "Portugal", excitando a multidão. Em "Yesterday" explicou como a letra tinha sido escrita em Portugal e cantou-a com um "special thank to Portugal".

"Querem mais?" E após um rotundo "sim", o ex-Beatle falou da "portuguese energy" e da "Lisboa energy", empunhando em palco uma grande bandeira de Portugal.

Muitas lágrimas correram pelas faces dos portugueses atónitos pelo que estavam a apreciar em palco. "Agora vamos ter de vos deixar. Belas palavras em português. Obrigado à minha fantástica banda, mas também a vocês. Adeus Portugal, boa noite".

Com milhares de papelinhos sobre a multidão, terminou o concerto. O sonho realizou-se.

Luís Pinheiro de Almeida

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