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Ringo Starr
13 razões para respeitar
Ringo Star
Este texto foi traduzido pela colaboradora Sarah Passos
Ringo Starr, o mais sortudo "sem-talento" do mundo. Tudo o que ele tinha que
fazer era sorrir e abanar a cabeça. E claro, manter o ritmo para três dos
mais talentosos músicos e compositores deste século. Que outra impressão
poderia alguém ter ao avaliar o papel que Ringo desempenhava no sucesso dos
Beatles? Será que Ringo conseguia fazer a diferença? Ao ouvir o último
lançamento dos Beatles, "The Beatles Anthology", tem-se a oportunidade de
ouvir tocar Pete Best e outros dois bateristas, em mais de 20 temas. Será
que Ringo estava simplesmente no lugar certo, à hora certa? Os itens que se
seguem poderão, eventualmente, ajudar a clarificar a situação.
1. Ringo foi o primeiro verdadeiro baterista rock a ser visto na TV. Todos
os bateristas de Rock & Roll que se apresentavam com Elvis, Bill Haley,
Little Richard, Fats Domino e Jerry Lee Lewis eram sobretudo bateristas de
R&B (Rhythm & Blues) que tentavam fazer a transição de um estilo swing,
próprio das décadas de 40 e 50, para um estilo mais pujante, associado a "I
Want To Hold Your Hand". Apresentavam-se de fato e gravata segurando as
baquetas numa forma "tradicional" familiar a bateristas militares, de
orquestras ligeiras e de jazz. Ringo mostrou ao mundo que era preciso força
para por enfâse na palavra "rock" do estilo Rock & Roll. Assim, ele agarrou
as suas baquetas como se fossem martelos construindo dessa forma uma das
fundações primordiais da música rock.
2. Ringo alterou o modo como os bateristas seguravam as baquetas, tornando
popular o modo "matched". Quase todos os bateristas anteriores a Ringo
seguravam as baquetas de uma forma "tradicional", segurando a baqueta
esquerda como se de um "pauzinho chinês" se tratasse. Essa forma
"tradicional" foi fomentada pelos bateristas militares que, com o tambor a
tiracolo, necessitavam segurar as baquetas de uma forma que lhes fosse
permitido tocar. A forma implementada por Ringo altera por completo essa
forma primitiva, equiparando mãos esquerda e direita.
3. Ringo iniciou uma tendência de colocar os bateristas em estrados elevados
de forma a torná-los tão visíveis como os restantes músicos. Quando Ringo
apareceu no Ed Sullivan Show, em 1964, ele captou de imediato a atenção de
milhares de futuros bateristas ao apresentar-se por cima dos outros três
Beatles. Ao invés, o baterista de Elvis só via as costas dos seus
companheiros.
4. Esses futuros bateristas tiveram também oportunidade de reparar que Ringo
tocava numa bateria Ludwig, fato que os levou a correr para as lojas em
busca deste tipo de instrumento, e assim estabelecendo a Ludwig como um nome
emblemático no panorama das baterias da época.
5. Ringo alterou o som da bateria nas gravações. Ao tempo de Rubber Soul
(lançado em 6 de Dezembro de 1965) o som da bateria começou a tornar-se mais
distinto. Contando com a preciosa colaboração dos engenheiros de som dos
estúdios EMI em Abbey Road, Ringo popularizou um novo som da bateria
afinando-a num tom mais baixo, abafando o som e fazendo com que soasse mais
perto, através da colocação de microfones em cada peça.
6. Ringo tem um ritmo quase perfeito. Esse fato permitiu aos Beatles gravar
uma música 50 ou 60 vezes e depois editá-la por composição das melhores
partes, por forma a alcançar a melhor versão possível. Hoje em dia é usado
um metrônomo eletrônico para esse mesmo propósito, mas naquela época os
Beatles tiveram que depender de Ringo para manter a consistência da batida
através de dezenas de takes. Se ele não possuisse este dom as gravações dos
Beatles soariam, por certo, de forma diametralmente diferente.
7. O feeling de Ringo pela batida serviu de norma tanto para produtores como
para bateristas. É relaxado mas nunca desleixado. Sólido mas, ainda assim,
sempre solto. E sim, existe uma grande dose de bom gosto musical nas suas
decisões do que e quando tocar. Na maior parte das sessões de gravação a
atuação do baterista funciona como barômetro do resto dos músicos. A
direcção artística, dinâmica e emoções são filtradas através do baterista.
Se o baterista não se sente bem a actuação dos restantes músicos está
condicionada à partida. Os Beatles nunca, ou raramente, tiveram esse
problema com Ringo.
8. Ringo detestava solos de bateria, o que deverá fazer com que ganhe pontos
junto de algumas pessoas. Apenas fez um solo com os Beatles. Esse solo
aconteceu durante o tema "The End" no lado B de "Abbey Road". Alguns podem
dizer que esse solo não é grande mostra de virtuosismo técnico, no entanto
estarão pelo menos parcialmente incorrectos. Quem quiser pode colocar um
metrónomo, configurado para marcar 126 batidas por minuto, lado a lado com o
solo de Ringo e verão que os dois permanecerão exactamente juntos.
9. A capacidade de Ringo para tocar em compassos invulgares empurrou a
escrita de temas musicais para áreas nunca antes alcançadas. Dois exemplos
disso são "All You Need Is Love" em 7/4 e "Here Comes The Sun" com passagens
repetidas em 11/8, 4/4 e 7/8, no coro.
10. A habilidade de Ringo para tocar os mais variados estilos musicais como
swing ("When I'm Sixty-Four"), baladas ("Something"), R&B ("Leave My Kitten
All Alone" e "Taxman") e country (todo o álbum Rubber Soul) ajudou os
Beatles a enveredar por diferentes direcções musicais sem esforço de maior.
A sua experiência anterior aos Beatles, como músico de nightclubs serviu-o
bem.
11. A ideia de que Ringo era um sortudo no sítio certo é completamente
errada. De fato, quando o produtor George Martin se mostrou descontente com
a actuação do baterista original, Pete Best, Paul, John e George decidiram
contratar aquele que eles consideravam o melhor baterista de Liverpool -
Ringo Starr. A sua personalidade foi um bónus.
12. Os rumores de que Ringo não tocou em muitos dos temas do Beatles por não
ser suficientemente bom é também radicalmente falsa. De fato, ele tocou em
quase todos os temas dos Beatles que incluem bateria à excepção dos
seguintes: "Back In The USSR" e "Dear Prudence", em que Paul toca bateria
pelo afastamento temporário de Ringo, por problemas de saúde. "The Ballad Of
John And Yoko", com Paul mais uma vez na bateria, porque Ringo estava a
fazer um filme. E também na versão de 1962 de "Love Me Do" que contou com o
baterista Andy White.
13. Quando os Beatles se separaram e tentavam cada um por si afirmar-se a
solo, John Lennon escolheu Ringo para tocar bateria no seu primeiro disco.
Tal como John disse um dia "If I get a thing going Ringo knows where to go,
just like that". Um grande compositor não pode desejar mais de um baterista.
Exceto talvez que sorria e abane a cabeça.
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