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	|  |  | | Reviews Dê uma chance à paz
 Bom, como vocês já sabem, é difícil não pagar pra ver quando algum a coisa 
“Beatle-related” pinta na praça. Dessa vez, foi o álbum "Dê uma chance à paz", em que artistas brazucas dão a sua 
interpretação para músicas da carreira solo de John Lennon.
 
 De cara, olhando o CD fechadinho na mão, penso que a capa podia ser mais 
atraente, mas a escolha de repertório parece interessante, sem muitas 
surpresas. Ao abrir o CD, chama a atenção o livreto, com as letras das 
músicas (coisa rara).
 
 (Vejam que vou escrever enquanto ouço o CD aqui no meu computador, em pleno 
horário de trabalho, quando milhares de coisas esperam minha atenção aqui na 
mesa ao lado. Mas, também por esse motivo, vou procurar não me alongar 
muito. Então, vamos lá...)
 
 O disco começa com “Mind Games”, que virou um reggae com Nando 
Reis. Eu até gosto do Nando, e, se ele não fez lá essas maravilhas, ao menos 
conseguiu dar a cara dele à música (o que alguns já acham que é sacrilégio, 
mas que eu acho que nem sempre).
 
 Cássia Eller não chega a empolgar; tendo escolhido “Woman is the 
nigger of the world”, ela certamente podia soltar mais seus vocais 
rasgados. Queria que ela tivesse cantado aqui com a mesma paixão com que 
canta Cazuza ou Renato Russo. Ficou para a próxima.
“Instant Karma” ficou bem legal na versão do Lobão. Ele é o 
primeiro que parece estar curtindo essa estória toda de gravar músicas do 
John. E até aqui, a dele me parece a música mais legal do CD.
A releitura de “Imagine” por Gilberto Gil e Milton Nascimento é, 
na minha opinião, totalmente desnecessária. A essa altura, não precisamos de 
mais uma. Aliás, quem precisa de mais alguma depois da do Paulo 
Ricardo? :-P
 
 “Give peace a chance” ganhou um arranjo diferenciado e tem um 
saborzinho especial pela chance de ouvir de novo o Mutante Arnaldo Baptista, 
com o auxílio luxuoso do Titã Charles Gavin e do Sepultura Andreas Kisser. A 
versão está um pouquinho desconstruída, mas eu definitivamente gostei. E 
Arnaldo e Lobão que se engalfinhem. :-)
 
 Daí vem Barone com “Tomorrow never knows”. (Gente, como eu amo 
essa música!) Bom, é a única do disquinho que é do John enquanto Beatle, e 
isso já diz muita coisa, se é que vocês me entendem... O fato é que estão 
ali a voz “filtrada” característica, a batida que só falta 
hipnotizar... Gostei, e já coloquei o Barone no pódio com o Arnaldo e o 
Lobão. Será que eles se mantêm ali até o fim?
“Mother”  uma p..ta música, podia ter sido interpretada 
com mais sentimento pelo Zeca Baleiro. Versão morninha, me fez torcer um 
pouco o nariz.
 
 “Look at me” é a primeira música do CD que é menos conhecida. 
Segue o tom morninho da faixa anterior, numa interpretação mediana, sem 
muito brilho da Zélia Duncan. Zé Ramalho, com seu jeito de pregador (não de roupa, mas da Bíblia...), só 
podia mesmo escolher “God” (a música perfeita para um pregador 
desiludido): o Bardo do Norte colocou sanfona e recitou os versos no seu 
sotaque do Nordeste da Inglaterra. Um pouquinho estranho, mas quem já ouviu 
o cara cantando “In my life” no tributo aos Beatles (Submarino 
Verde e Amarelo) não vai estranhar tanto.
 
 “How do you sleep?” sempre me incomoda pelo que significa. Mas, 
como música, é boa, e o Paulinho Moska trabalhou direitinho.
“I know (I know)” é a segunda das “menos conhecidas” 
no álbum, e ganhou versão do Herbert Viana. Ficou legal; pelo menos, não tem 
um tom tão burocrático.
 
 A seguir, vem “Bless you”, com o Toni Platão, que eu acho a cara 
da Cássia Eller. Na minha opinião, desta vez, o Toni se saiu melhor que sua 
“irmã”, até talvez por ter pego uma “menos 
conhecida”.
 
 “Nobody loves (when you’re down and out)”, outra 
fantástica do repertório Lennon, com um quê de bossa nova, com Celso 
Fonseca.... meu nariz quis torcer, mas meu ouvido até que gostou.
“Beautiful Boy” ficou totalmente Havaí... parece que o Lulu vai 
mesmo a qualquer instante começar a cantar “Seria uma sereia ou seria 
só...” ou “Garota, eu vou pra Califórnia...”! Bom, pelo 
menos, ainda está ali aquele tom deliciado dessa música tão linda, e que é a 
canção de ninar que eu vou cantar pro meu filho, um dia.
 
 Para fechar a tampa, tem uma faixa bônus: mais uma versão de “Give 
peace a chance”, dessa vez creditada só ao Arnaldo Baptista. Não é tão 
diferente assim da outra, só uma mixagem mesmo, de modo que me pergunto 
porque está ali. (Coisa que só o texto de apresentação do CD  que vem 
no final (?!) do livreto  iria explicar: a faixa final foi produzida 
pela Yuka Honda, da Cibo Matto e (ex?) namorada de Sean Lennon.)
 
 E assim acaba o “tributo”. O saldo final, acredito eu, é 
positivo, por um motivo: despertar a atenção dos “não iniciados” 
sobre o trabalho solo do John, com um trabalho de produção bem cuidada e de 
um time de grandes artistas brasileiros. E não é só: num momento conturbado 
como o que vivemos no planeta atualmente, é bem-vinda toda oportunidade de 
celebrar a música de John e, através dela, a paz que ele cantou e em que 
acreditava.
 
 Peace and love for you all,
 
 Kimmy
 
 TRACKLIST:
 01. Mind Games
 Nando Reis
 02. Woman is the nigger of the world
 Cássia Eller
 03. Instant Karma
 Lobão
 04. Imagine
 Gilberto Gil e Milton Nascimento
 05. Give peace a chance
 Arnaldo Baptista, Charles Gavin e Andreas 
Kisser
 06. Tomorrow never knows
 João Barone
 07. Mother
 Zeca Baleiro
 08. Look at me
 Zélia Duncan
 09. God
 Zé Ramalho
 10. How do you sleep?
 Moska
 11. I know (I know)
 Herbert Viana
 12. Bless you
 Toni Platão
 13. Nobody loves you (when you’re down and out)
 Celso Fonseca
 14. Beautiful boy
 Lulu Santos
 15. Give peace a chance (versão especial)
 Arnaldo Baptista
 
 PS: Como bônus, vai aí o texto de “apresentação” (aquele que vem 
no fim do livreto, e que, por isso, também só fui ler no fim), assinado pelo 
Marcelo Fróes:
 
 “Seis meses antes do vigésimo aniversário da morte de John Lennon, um 
papo meu com Celso Fonseca no corredor do escritório do Geléia Geral amarrou 
que um disco de brasileiros cantando  em inglês!  a música do 
ex-beatle daria um belo projeto. Obviamente, não sonhávamos aprontá-lo para 
aquele 8 de dezembro, mas mesmo assim tratamos de iniciar as gravações no 
estúdio do selo  no Leblon (RJ). Zé Ramalho foi o primeiro a gravar, 
já a 01/08/00, iniciando com sua bela interpretação de “God” o 
mergulho tupiniquim na obra solo de Lennon. Cássia Eller veio na mesma 
semana, registrando  pela primeira vez em estúdio  sua versão 
para “Woman is the nigger of the world”, que já fazia parte de 
seu repertório de shows. A partir dali, ao longo de um ano de trabalho, 
diversos grandes nomes engajaram-se ao projeto: Paulinho Moska e seu 
Quarteto Móbile gravaram a irada “How do you sleep?”, enquanto 
Toni Platão recriou a fossa “Bless you”. Zeca Baleiro visitou o 
estúdio e fez “Mother”,também favorita de seus shows, enquanto 
Celso Fonseca fez uma inusitada releitura bossanovística da triste 
“Nobody loves you”. O titã Nando Reis, que preparava-se para uma 
turnê solo com alguns músicos americanos, entrou em estúdio e fez a ótima 
versão reggae de “Mind Games”, que abre este disco.
 
 O ex-mutante Arnaldo Baptista estava de férias no Rio e, em visita social ao 
estúdio, acabou gravando uma versão instântanea do hino pacifista que dá 
título a este projeto: “Give Peace a Chance”. Filho do autor 
homenageado, Sean Lennon também estava no Rio para seu show no Free Jazz 
Festival e acabou visitando o estúdio. Enquanto pensava seriamente em gravar 
“Julia” com o Quarteto em Cy, sua namorada Yuka Honda (líder da 
banda Cibo Matto) sugeria remixar a faixa de Arnaldo com participação de 
seus colegas. Enquanto o remix que entra como bônus era feito em Nova 
Iorque, a versão original recebia instrumentação especial de Andreas Kisser, 
Arthur Maia e Charles Gavin. De volta ao Rio meses depois, Arnaldo também 
acompanhou a participação de Lobão no projeto, com a gravação de 
“Instant Karma!”.
 
 Este projeto também recebeu gravações prontas, realizadas em estúdios 
caseiros, por alguns convidados. Lulu Santos, emocionado com o nascimento de 
seu primeiro neto, gravou “Beautiful Boy”, e Herbert Vianna 
optou por “I know” quando lhe foram sugeridas esta e “Look 
at me”. A última havia sido originalmente sugerida a Zélia Duncan, que 
inicialmente não pôde aceitar o convite. Mais para o final do projeto, ela 
teve condições de participar e ainda encontrou disponível a música que lhe 
fora originalmente oferecida.
 
 O disco fechou um ano após o início de suas gravações, com a estréia solo do 
paralama João Barone  que faz de “Tomorrow never knows” a 
única referência à fase Beatle de Lennon. Às vésperas do ataque terrorista 
ao World Trade center, Gilberto Gil e Milton Nascimento fecharam o disco 
gravando a esperançosa “Imagine”. De uma hoemagem a John Lennon 
pela passagem dos 20 anos de sua morte, este disco acaba sendo um apelo de 
paz nas vozes de grandes brasileiros  que cantam as músicas do mais 
pacifista dos roqueiros.”
 
 
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