| 
	|  |  | | Reviews Paul McCartney
 Ao Vivo em Barcelona
 
 Barcelona - Espanha, 28 de Março de 2003
 
 
  Paul McCartney está a enfrentar uma dificílima digressão 
europeia. Não pela (alta) qualidade do espectáculo, música, ou 
pelos afectos que provoca. Tudo isso é inquestionável, mesmo 
para o menos fã. Trata-se de uma das melhores prestações ao 
vivo de sempre do "velho Macca". O que perturba o ambiente é a (não) atitude do ex-Beatle perante a guerra do Iraque. 
 Em Barcelona, Espanha, país da coligação belicista, os fãs 
foram severos e não perdoaram esta espécie de amnésia que 
subitamente se abateu sobre Paul McCartney, normalmente muito 
atento às questões do Mundo. "Se ele protege os animais, porque 
não protege os homens?", dizia uma fã entristecida, no final de 
um dos dois concertos do belíssimo Palau St. Jordi.
 
 Logo à primeira citação de John Lennon, a "galera" - cerca de 
20 mil pessoas - entoou em uníssono e sem ensaio "Give Peace A 
Chance". McCartney ficou verdadeiramente sem jeito.
Mas não ficou por aqui o espírito anti-belicista dos fãs dos 
Beatles: gritaram a plenos pulmões "No A La Guerra", que Paul 
não percebeu, e exibiram um cartaz onde se lia "All We Is Love, 
Stop The War".
 
 
  Barcelona é uma cidade militantemente contra a guerra. Nas 
janelas de milhares de edifícios há panos brancos e dísticos 
contra a intervenção militar norte-americana, nas ruas 
organizam-se petições contra o alinhamento belicista do governo 
espanhol. 
 Mas no concerto de três horas houve mais piadas subtis aos 
últimos comportamentos de Paul McCartney. Um grupo de fãs 
colocou num dos muros das escadas do pavilhão um cartaz bem 
visível onde se lia "Lennon/McCartney For Ever", aparentemente 
numa contestação à investida de Paul em inverter os créditos 
das canções dos Beatles.
 
 Os fãs dos Beatles adoram Paul McCartney, mas não são estúpidos.
Sensibilidades políticas à parte, Paul McCartney veio pela 
quarta vez a Barcelona (uma com os Beatles, em 1965, e três a 
solo, em 1991, 1993 e 2003) encher de contentamento os corações 
dos fãs espanhóis. E fez por isso, falando constantemente em 
castelhano, mantendo um diálogo apreciado pela multidão.
 
 O espectáculo não diferiu muito do que o ex-Beatle ofereceu nos 
Estados Unidos no ano passado, excluindo obviamente as suas 
atenções, então devidamente comprovadas, que teve para com o 
povo norte-americano, acabado de ser vítima dos ataques 
terroristas em Nova Iorque e em Washington. Qualquer fã tem 
acesso ao concerto através dos CDs ao vivo e do DVD que 
entretanto foram editados.
 
 Descontando os acidentes de percurso, McCartney fez vibrar a 
multidão, sobretudo quando das colunas saiam os primeiros 
acordes de canções dos Beatles, que constituem mais de 60 por 
cento do concerto. A multidão sabe as letras de cor e foi em 
delírio que cantou em uníssono "Hello Goodbye", "All My 
Loving", "Something", "Back In The USSR" e tantas outras.
 
 Uma bela surpresa é a inédita versão rock de "The Long And The 
Winding Road", sobretudo numa altura em que McCartney se 
prepara para editar "Let It Be" sem as colorações de Phil 
Spector. 
Outra novidade é a inclusão de imagens de Harry Potter no video 
de "Your Loving Flame".
 
 Relativamente aos concertos norte-americanos, as inovações 
acontecem com "Calico Skies", "Michèlle", "Let 'Em In", "She's 
Leaving Home" e "Birthday", em detrimento de "Mother Nature's 
Son", "Vanilla Sky", "C'Moon" e "Freedom".
 
 Muitas lágrimas correram pelas faces, muitos beijos de saudade 
foram trocados, muitos olhares cúmplices se entrecruzaram. Paul 
McCartney tem este condão de unir gerações, de manter vivas e 
actuantes algumas das mais perfeitas canções jamais escritas ao 
cimo do Planeta. Com quase 61 anos, ainda dá lições de rock, 
ainda tem esta facilidade de provar que não foi em vão que um 
dia, há mais de 40 anos, quatro jovens de Liverpool foram à 
conquista do Mundo e conquistaram-no!
 
 Dez anos depois da sua última apresentação em Barcelona, o povo 
catalão não esqueceu o seu ídolo e conquistou novos fãs, muitos 
deles vindos de Portugal, já que este é o seu único 
espectáculo, em dois dias, na Península Ibérica.
 
 Uma última palavra de apreço para o guitarrista Rusty Anderson 
que, não temendo o "patrão", ostentava na sua mão direita, bem 
à vista, uma tatuagem do símbolo da paz, de Bertrand Russell.
Os jornais espanhóis exultaram com o concerto, chamando às 
primeiras páginas as respectivas reportagens. Paul McCartney 
alimentou o seu ego, mas terá ficado também roído de inveja 
quando leu que o Forum de Barcelona, um dos maiores do país, 
elegeu "Imagine", do seu amigo John Lennon, como hino do evento.
 
 Luís Pinheiro de Almeida, em Barcelona
 
 
  Alinhamento: Hello Goodbye
 Jet
 All My Loving
 Getting Better
 Coming Up
 Let Me Roll It
 Lonely Road
 Driving Rain
 Your Loving Flame
 Blackbird
 Every Night
 We Can Work It Out
 You Never Give Me Your Money/Carry That Weight
 The Fool On The Hill
 Here Today
 Something
 Eleanor Rigby
 Here There And Everywhere
 Calico Skies
 Michèlle
 Band On The Run
 Back In The USSR
 Maybe I'm Amazed
 Let 'Em In
 My Love
 She's Leaving Home
 Can't Buy Me Love
 Birthday
 Live And Let Die
 Let It Be
 Hey Jude
 The Long And Winding Road
 Lady Madonna
 I Saw Her Standing There
 Yesterday
 Sgt Pepper/The End
 
 
 | 
 | 
   |  |  |