Paul McCartney!
Promovendo o seu disco "Flowers In The Dirt", o beatle Paul McCartney concedeu essa longa entrevista, inédita na Internet, ao nosso homem em Portugal, o jornalista Luis Pinheiro de Almeida, membro da lista Beatles Brasil.
Paul McCartney recebeu LPA nos seus estúdios de ensaios em Icklesham, no sul da Grã-Bretanha, a duas horas de carro de Londres. Esta é a única entrevista que McCartney deu para Portugal.
Foi uma conversa de hora e meia, durante a qual Paul McCartney falou de cada uma das faixas do seu novo álbum e dos respectivos produtores, "barafustou" contra os discos-pirata, disse desconfiar dos computadores e revelou, pela primeira vez, a prenda que deu a Linda pelos seus 45 anos.
LPA - Poderíamos começar pelo seu novo álbum, "Flowers In The Dirt", que é uma agradável surpresa...
Paul - Ya!
LPA - A minha opinião é suspeita....
Paul - ...mas é muito importante...
LPA - ...dizem que é um dos seus melhores álbuns desde "Band On The Run", de 1973.
Paul - Sim, há pessoas que dizem isso.
LPA - Mas qual é a sua opinião?
Paul - Talvez seja verdade, não sei. O álbum foi feito de uma forma mais cuidada do que alguns dos meus discos mais recentes. Não tanto no tempo de gravação, mas na escolha das canções. Certificámo-nos de que as canções me deixavam satisfeito e de que delas resultavam bons momentos musicais. Houve uma ou duas, como "My Brave Face", com que não ficámos satisfeitos à primeira gravação.
LPA - "My Brave Face" é a sua quarta colaboração com Elvis Costello, depois de "Back On My Feet", "Veronica" e "Pads Paws And Clowns"...
Paul - Está certo! Vejo que esteve a contá-las! Mas a primeira gravação de "My Brave Face" não foi muito satisfatória, por isso a repetimos. Desta vez, tivemos mais cuidado, principalmente porque não quero chegar ao meio de uma digressão e, de repente, começar a detestar o álbum. Desta vez, quis ter a certeza de que gravava canções com que ficaria satisfeito.
LPA - Porque há tantos produtores no novo disco?
Paul - Bem, eu não costumo ter agora um produtor regular. No tempo dos Beatles, costumava ser o George Martin. É bom ter um produtor regular. Habitualmente, costumo escolher um produtor e trabalhar com ele no álbum todo. Mas, hoje em dia, muita gente faz isto: usa várias pessoas da mesma maneira como se escolhem os músicos adequados para cada canção. Por exemplo, em "We Got Married", escolhi David Gilmour, dos Pink Floyd, para a guitarra, porque era o músico ideal para a canção. Da mesma maneira que se esolhem os actores para os filmes, os actores certos para as peças certas, também se escolhem os músicos e os produtores certos para as canções certas.
LPA - Mas não acredita na sua própria produção?
Paul - Acredito e até produzo algumas canções. Só que gosto de trabalhar com outras pessoas que nos dão ideias novas. Neste álbum, quis trabalhar com pessoas que tivessem métodos diferentes dos meus e, por isso, chamei Trevor Horn e Steve Lipson...
LPA - ...os mesmos que produziram o último álbum dos Simple Minds...
Paul - Sim, e trabalharam com os Frankie Goes To Hollywood que foi o que os tornou famosos, fizeram o "Slave To The Rhythm", de Grace Jones, fazem estas grandes produções. Eu estava interessado em trabalhar com eles, porque eles trabalham com computadores. Steve Lipson é uma espécie de técnico de computadores. Eu ainda não tinha trabalhado muito com computadores e queria experimentar. Por isso resolvi trabalhar com eles, para ver se gosto de trabalhar assim.Se eu só tivesse gostado de trabalhar com computadores, então teria feito o álbum só com computadores. Mas também trabalhei com Mitchell Froom, que nada tem a ver com computadores, que não gosta de computadores. É diferente. É mais directo, o que é bom para algumas canções como "My Brave Face". Mas para outras, como "Rough Ride" e "Figure Of Eight", quis experimentar os computadores. E trabalhei com outros produtores: Chris Hughes e Russ Collum em "Motor Of Love"...
LPA - ...essa soa ao "Drive", dos Cars...
Paul - Sim, era uma das nossas ideias. Fizemos o disco como uma "demo tape". A canção era boa, mas não gostei da gravação. Foi por isso que, quase no final da gravação do álbum, chamei o Chris Hughes e o Russ Collum para a produzir. Eles também trabalham bastante com computadores. Eles são os homens dos computadores, como Trevor Horn e Steve Lipson. Eu, o Mitchell Froom e o Neil Dorfsman não temos nada a ver com computadores, somos mais simples. Por isso, acho que a mistura foi interessante, resultou numa secção rítmica muito precisa, que é o que nos dão os computadores. Mas isso levou imenso tempo. Não deixe nunca ninguém convencê-lo de que os computadores são rápidos...
LPA - A primeira faixa é "My Brave Face" que é também o primeiro single. Os óculos, na capa do single, são uma referência a John Lennon?
Paul - Não, não. Está a ver, isso é uma das coisas chatas neste mundo. Toda a gente pensa que foi John que começou com a história dos óculos, mas, na verdade, fui eu que apareci no estúdio com uma série de óculos iguais a esses que você traz postos (na altura, usava óculo redondos pequenos, à Lennon). Tinha-os mandado fazer para mim. Eram só oculos a brincar, porque eu não tenho muita falta de vista. Eu tinha aí uns quatro ou cinco pares, levei-os para estúdio e toda a gente os pôs. John gostou tanto deles que passou a usá-los sempre , porque ele era o único que precisava mesmo de usar óculos. Aí, ele tornou-se famoso por usar esses óculos. Agora, quando os ponho - e fui eu a pessoa que os descobriu - toda a gente diz que estou a imitar John Lennon. Não, não é verdade. Na capa do single, o que aconteceu foi que, no Verão passado, estava bom tempo e eu pus óculos como sempre faço quando está bom tempo. Pus um chapéu de coco e fui para uma sessão de fotografias. Quando lá cheguei, disse ao fotógrafo para experimentar tirar-me o retrato assim que, depois, faria, uma sessão a sério. No início da sessão, fomos lá para fora uns 10 minutos e tirei uma série de fotos que sairam particularmente bem.
LPA - A segunda faixa é "Rough Ride" que, para ser honesto, não é muito do meu agrado...
Paul - Bem, a sua opinião também não é a mais importante do mundo. Quem é que liga ao que você diz? Eu, para ser honesto, gosto bastante. Trata-se de uma canção para pessoas novas. Os jovens gostam dessa faixa, estudantes e pessoas que conheço, especialmente na América. Gosto do ritmo. Foi feita com um computador, é um pouco diferente do que eu costumo fazer. Tem uma boa batida. É boa para dançar. Você talvez não precise de música para dançar, mas os miúdos precisam. Você gosta de música para ouvir, para pensar, para analisar e também há muita dessa no álbum, mas há uma ou duas faixas que não são para pensar, são para dançar. Não se pode agradar a toda a gente, pois não? Especialmente aos portugueses...
LPA - Nós somos terríveis...
Paul - Malditos portugueses!
LPA - Vai tocar este ano a Portugal?
Paul - Não, não vou nada, depois deste seu comentário. Você não gosta de "Rough Ride"!
LPA - Se o problema é esse, passo a gostar muito...
Paul - Não, estou a brincar...
LPA - Mas vai ou não?
Paul - Não sei ainda. Vamos fazer uma digressão, mas ainda não temos datas confirmadas. Seria óptimo tocar em Portugal, mas ainda não sei o itinerário da digressão que é mundial...
LPA - Vai começar em Oslo...
Paul - Sim, acho que vamos começar em Oslo. A Escandinávia é assim uma espécie de "out of Broadway". É um bom sítio para começar. É um pouco menos enervante do que começar em Londres ou em Nova Iorque. É bom tocar um bom bocado antes de nos habituarmos uns aos outros. Tenho de me habituar à minha banda em público.
LPA - Já vamos à sua banda. Por agora, queria que continuasse a explicar o álbum. "You Want Her Too" tem uma excelente orquestração no fim...
Paul - Ah! Foi uma ideia meio louca que tive. A melodia sugeriu-me que seria óptimo que fosse interpretada por uma grande orquestra. Mas eu pensei que seria uma loucura. Toda a gente diria que eu era parvo por ir buscar uma grande orquestra só para tocar meio minuto. Mas aí é que está a piada: arranjámos uma grande orquestra a tocar a sério e quando as pessoas começam a bater o pé, a música desaparece. É uma pequena piada preversa da minha parte...
LPA - "Distractions" é uma bonita balada...
Paul - Ah! Gosta dessa? Eu também. É o meu género de canção! É uma canção "muito McCartney"! Lembra-me um bocadinho o "I Will", dos Beatles. Para mim, é a mesma atmosfera. Fizemos um acompanhamento muito simples, sem cordas, nem clarinetes. Depois, entrei em contacto com um homem, em Los Angeles, Clare Fisher...
LPA - Ah! É americano?
Paul - Sim e é um homem! Quando vimos o nome dele pela primeira vez, imaginámos uma rapariga lindíssima de Los Angeles, uma loura de cabelos compridos...
LPA -... e Linda ficou cheia de ciúmes!
Paul - A Linda ficou cheia de ciúmes e disse logo que não gostava dos arranjos. Mas quando descobriu que Clare Fisher era um velhote de 50 anos, achou logo que os arranjos eram o máximo. Mas o que tem piada é que eu combinei os arranjos com ele pelo telefone! Ele disse que era difícil, mas talvez resultasse com um ambiente um pouco brasileiro. Por isso, as orquestrações são um pouco brasileiras, um bocadinho jazzísticas. Eu gosto bastante. É muito romântico!
LPA - "We Got Married" é também uma das minhas preferidas, com a guitarra de David Gilmour...
Paul - É também outra das minhas preferidas. Estou a ver que você gosta de canções mais maduras, que dão para pensar. "We Got Married"... uma ou duas pessoas que já a ouviram ficaram com uma lágrima ao canto do olho, não por ser triste, mas por ser um bocadinho tocante, especialmente para quem for casado...
LPA - É uma canção para Linda?
Paul - É uma canção para a Linda e para o Paul. É para nós dois, mas não é sobre o nosso casamento. A primeira quadra conta como algumas pessoas se casam depressa. Diz "going fast, coming soon, we made love in the afternoon, found a flat, after that we got married". Muita gente faz isso quando é nova...
LPA - Faz lembrar John Lennon e Cynthia em Liverpool...
Paul - É um pouco isso. É sobre essa época que eu estava a escrever, mas não é autobiográfico. A quadra seguinte é "working hard for the dream, scoring goals for the other team"... sou eu com a Apple. "Times were bad, we were glad, we got married"... aí começa a ser sobre mim. "Waiting up till the children came, place your bets, no regrets" e depois "life come and past very fast" é tudo sobre mim, excepto a primeira quadra. Mas a ideia era escrever uma canção que festejasse o casamento, porque, normalmente, não se fala do casamento. As pessoas preferem falar de divórcio. Mas eu pensei - há milhares de pessoas no mundo como eu que são felizes no casamento, têm um bom casamento, bons maridos, boas mulheres...
LPA - Bom marido, portanto?
Paul - O que eu quero dizer é que a mulher tem um bom marido... Maldito português! Voltando ao assunto... porque não uma canção sobre o casamento? Resisti este tempo tempo... é só para algumas pessoas. O nosso baterista que é muito novo e não é casado, não gostava especialmente desta canção a princípio. As preferências dele iam para canções que não tivessem tanto a ver com o casamento, porque não se conseguia identificar com elas. Se ele se casar, acho que vai gostar mais da canção. Nós sabemos que o casamento não são só facilidades, o casamento é muito difícil e eu e a Linda temos sorte em ter um bom casamento, embora nos sintamos, às vezes, também em dificuldades. Eu acho que isso é o que o casamento tem de interessante, é ser amargo-doce. É muito bonito, mas há alturas em que damos connosco a pensar "o que estou a fazer?", "o que estamos aqui a fazer?". Para conseguir que duas pessoas opostas - um homem e uma mulher - vivam juntas em harmonia é muito difícil.
LPA - "Put It There". Talvez seja a melhor faixa do álbum...
Paul - Gosta dessa? Ah! Ah! Que óptimo! É também uma das minhas favoritas. "Put it there" era uma frase que o meu pai costumava dizer quando éramos miúdos. Ele costumava dizer: "put it there, if it weights a ton", que significa "aperta aí a mão, mesmo que isso te custe". "Eu quero apertar a tua mão". É o mesmo que "he ain't my brother, he's my brother". São velhas expressões. Às vezes lembramo-nos destas coisas àcerca dos nossos pais, depois crescemos, esquecemo-las, entramos para uma banda, temos filhos, os nossos pais morrem... E então lembrei-me disto. Foi uma boa ideia para uma canção, bem como a ideia de apertar a mão, de fazer amigos. É bom que as pessoas digam destas umas às outras. Por isso, escrevi esta canção, em parte para que os meus filhos, os nossos filhos, passem a tradição.
LPA - "Figure Of Eight". Parece que vai ser o próximo single...
Paul - Não sei ainda. Gosto muito dela, porque é um rock. Às vezes, as pessoas dizem que eu tenho jeito para compôr baladas e cançõezinhas como "Put It There", mas porque é que eu não escrevo temas de rock? A essas pessoas, eu respondo: mas eu escrevo temas de rock! Não conhecem a minha obra? Onde é que têm estado nos últimos 20 anos? Escrevo mais rock do que a maior parte dos músicos. E o álbum russo? É um álbum inteiro só com clássicos do rock...
LPA - Pois é! Eu tenho um exemplar...
Paul - Tem? Óptimo! É um álbum divertido, como que uma festa, é só rock and roll...
LPA - A minha faixa preferida é "Crackin' Up"...
Paul - Ai é? Eu também gosto muito de "Crackin' Up". Acho que temos gostos parecidos! Voltando a "Flowers In The Dirt", "Figure Of Eight" é outra música produzida por Trevor Horn e Steve Lipson. É uma gravação um pouco mais moderna. É uma boa faixa para dançar. Esta e "Rough Ride", de que você não gosta, são óptimas para dançar. Se se gosta apenas da música para dançar, estas duas são excelentes.
LPA - "This One" é outra canção "muito McCartney"...
Paul - Oh! Obrigado! "This One" é também sobre uma ideia madura sobre coisas a que não ligamos quando somos novos. O que a canção diz, essencialmente, é "did I ever tell you that I like you and if I didn't I was waiting for a good moment to tell you... but ir never came". Aqui eu quis falar do presente, porque, geralmente, só sabemos falar do passado ou do futuro, nunca do presente. O presente é tudo o que temos. Ao escrever esta canção, aconteceu-me uma coisa engraçada. Comecei a brincar com as palavras e "this one" tornou-se "this swan" e isso lembrou-me a imagem de um cisne de Hare Krishna, o deus azul dos hindús, o arco-íris.
LPA - "Don't Be Careless Love" é uma canção complicada...
Paul - Escrevi-a com o Elvis Costello. Sim, é uma melodia complicada. Deve dar-se um bocado de tempo para se gostar dela. A princípio, é um pouco estranha...
LPA - Gostou de trabalhar com Elvis Costello?
Paul - Sim, é fácil trabalhar com ele. Para duas pessoas que começaram agora a escrever, acho que nos saimos muito bem.
LPA - Vão continuar?
Paul - Talvez. Veremos isso no próximo disco. Se nos apetecer... Gostei de escrever com ele. É um relacionamento que se pode desenvolver.
LPA - Voltando a "Don't Be Careless Love"...
Paul - Acho que há canções que levam um bocadinho a fazer-se compreender. Não as fazemos todas simples. "Don't Be Careless Love" não é simples. É uma cançãozinha estranha, mas eu gosto da vocalização. Sei que esta é uma daquelas que leva um bocadinho de tempo a compreender. Mas isso também acontecia com canções dos Beatles, como por exemplo "Hello Goodbye". As pessoas diziam que não gostavam e uma semana depois já diziam que a adoravam. Diziam que "Sgt. Pepper" era um álbum estranho, mas uma semana depois adoravam-no e diziam que era uma loucura. Em todo o caso, acho que é bom que as canções às vezes levem um bocadinho de tempo a entrar no ouvido... é porque são mais profundas. É preciso ir mais fundo para as compreender e esta é uma delas.
LPA - "That Day Is Done" é muito Elvis Costello...
Paul - A canção foi escrita porque a avó de Elvis estava a morrer e ele sentia-se um bocado esquisito. Acho que ele se sentia um bocadinho culpado por estar aqui a trabalhar comigo, a compor canções, enquanto a avó estava a morrer. É muito complicado quando as pessoas morrem. Nunca sabemos se devemos estar lá ou se nos é permitido continuar a nossa vida normalmente. Aqui, a resposta dele foi escrever uma canção. Foi esta a nossa maneira de falar com ela. A canção é inspirada nos sentimentos de Elvis.
LPA - "How Many People" é dedicada a Chico Mendes.
Paul - É uma espécie de "reggae" que escrevi na Jamaica. Tinha um verso que dizia "quantas pessoas já morreram, gente a mais na minha opinião". Por isso, a canção é sobre as pessoas que morrem injustamente. Eu, como muita gente, tenho-me preocupado com as coisas que se passam no Amazonas. Vi um programa de televisão sobre Chico Mendes e a sua obra. Ele impedia o corte de árvores e plantava árvores de borracha, fazia outras plantações, o que era óptimo para a floresta e para o Mundo. Pouco depois mataram-no. Achei que tudo isto tinha a ver com a minha canção. "Quantas pessoas morrem... pessoas de mais...". Achei que era uma boa oportunidade. A morte dele impressionou-me muito. Não precisavam de o ter morto, mas é típico agirem assim...
LPA - Então a canção, que é um "reggae", foi feita antes do assassínio de Chico Mendes...
Paul - Sim, já tinha a canção feita. Não a escrevi de propósito para ele. Escrevi a canção e, depois, ela acabou por vir a propósito. Como estava a escolher canções para o álbum, ela ficou. Nestas coisas, temos de escolher entre fazer as coisas e não fazer. Como o nosso Mundo está numa encruzilhada tão grande com os problemas do ozono, da chuva ácida, do Amazonas, da poluição no mar, do lixo nuclear... é como se estivéssemos a destruir o nosso "ninho".
LPA - Vejo que se preocupa com esses problemas...
Paul - Acho que muita gente também se preocupa. Seria muito estúpido se rebentássemos com o nosso planeta. É o único sítio que temos para viver. Você já viu os pássaros a estragar os seus próprios ninhos? E é suposto eles serem estúpidos... Nós, que é suposto sermos os inteligentes, é que passamos o tempo a estragar os nossos "ninhos". Temos instintos rão estranahos! Aqui tenho oportunidade para dizer às pessoas que existiu um Chico Mendes. Isso talvez faça com que as pessoas continuem a lembrar-se dele e do seu exemplo.
LPA - "Motor Of Love" fecha o álbum com "chave de ouro"...
Paul - É. Gosto muito da canção e como já lhe disse antes, a primeira gravação que fizémos não era lá muito boa. Íamos deixá-la fora do álbum. Mas como eu gostava tanto dela, chamei o Chris Hughes e o Ross Cullum para me ajudarem a produzi-la. É uma canção muito bonita, cheia de ternura. É um elogio ao Amor. Às vezes, as pessoas dizem-me que isso é "piroso", é "delicodoce". Mas quando se amadurece o amor torna-se um sentimento muito, muito forte. É o que salva o Mundo. "All You Need Is Love", já nós dizíamos, nos Beatles. Acredito muito nisso. Acredito que podemos ajudar os nossos filhos se os amarmos, eles depois podem-nos ajudar a nós. O amor é uma força enorme. Por isso eu imaginei um Motor Gigante no céu. Pode ser Deus, se quiser, ou um Espírito Universal de Bondade. Escrevi a canção como se estivesse a falar com esse deus, com esse Gigante Motor de Amor, com esse Poderoso Motor de Amor, que faz com que todos nos amemos.
LPA - Em resumo, penso que todo o álbum, mais o video, mais as fotografias de produção, mais as pessoas envolvidas na gravação, tudo isto é "muito beatle"...
Paul - Sim, é tudo "muito beatle". E acho que isso é bom. Já se passou tanto tempo desde a separação dos Beatles! A princípio, não me parecia bem fazer coisas relacionadas com os Beatles ou parecidas. Mas agora a história dos Beatles já não me parece tão mal. Além do mais, as pessoas ainda se interessam pelos Beatles. O fenómeno não morreu. Há muitas pessoas novas ainda a descobrir e a interessar-se pelos Beatles que dizem "oh! Isto é boa música"...
LPA - Os meus filhos, por exemplo....
Paul - Os meus támbém. Isso é óptimo, não é? Faz-me sentir bem. Afinal, eu fiz parte dos Beatles. Os bocadinhos de filme dos Beatles no video de "My Brave Face" são filmes caseiros, é a minha câmara de 8 milímetros, são as minhas "fotografias de fimes". Quando recordo os tempos dos Beatles, faço-o com afecto e acho que isso acontece com muitas outras pessoas.
LPA - A propósito de Beatles, que acha das versões que os U2 fizeram de "Helter Skelter", as Bananarama de "Help!", os Fairground Attraction de "Do You Want To Know A Secret?" ou os Waterboys de "Blackbird"?
Paul - Não as ouvi ainda todas. Ouvi algumas e, obviamente, umas são melhores do que as outras. Algumas mantêm o espírito das canções gravadas pelo Beatles, são diferentes, mas conseguem manter o espírito. Outras apenas são comerciais. Eu não me importo, porque a canção é minha. Eu sou um compositor e agrada-me que qualquer pessoa, nem que seja um miúdo de 4 anos a tocar violino, interprete a minha canção. Gosto, porque é uma canção minha... Bom, alguns amigos meus vieram-me dizer que não gostavam, que era só "dinga-donga-dinga-donga", como música de computador...
LPA - É produzida por Stock Aitken e Waterman...
Paul - Pois, por isso algumas pessoas dizem que eles não mantiveram o espírito da canção. A maior crítica que ouvi é que esta versão destrói o original. Cada vez que ouvem os Beatles a cantar "Help!" lembram-se desta versão das Bananarama. Eu, por mim, tenho sorte, porque não me lembro. Acho que muitos amigos meus sentem que nunca mais vão poder gostar tanto do "Help!". Mas, por mim, não me importo. É uma honra para mim elas estarem a cantar uma música que eu ajudei a compôr. Prefiro que continuem a cantar-me do que a esquecerem-me.
LPA - Você está outra vez em primeiro lugar com "Ferry Cross The Mersey"...
Paul - Isso é óptimo. Aqui havia duas questões principais a tratar. Amigos meus diziam-me: "não vais gravar com Stock, Aitken e Waterman, pois não?". É que eles são conhecidos por serem muito comerciais, por fazerem músicas muitos simples, muito directas e comerciais. Eu sei que eles disseram que gostavam de produzir discos meus, que achavam que me podiam fazer discos de sucessos. Talvez isso seja verdade, mas talvez não seja esse o tipo de sucesso de que eu gosto. Fariam o tipo de música de que você diz não gostar em "Flowers In The Dirt". Por isso eu estava um pouco dividido. Por outro lado, "Ferry Cross The Mersey" também não foi das minhas canções favoritas. Mas a tragédia que aconteceu foi tão horrível. Foram as pessoas em Liverpool que acabaram por me fazer decidir. Elas ligavam para a rádio e pediam a canção durante todo o fim de semana em que se deu a tragédia. Fazia-as sentir melhor. E, numa tragédia como esta, tudo o que possa fazer para ajudar é pouco. Por isso decidi gravar com Stock, Aitken e Waterman, sabia que eles fariam, de certeza, um bom trabalho. Acho que é um bom disco, eles fizeram um bom trabalho. As vocalizações de todos nós ficaram muito boas. Estávamos todos empenhados e havia emoção.
LPA - São todos de Liverpool...
Paul - Sim, eu, o Holly Johnson, o Gerry Marsden, os Christians. Fiquei contente por ter gravado este disco. Ele vai auxiliar um pouco as famílias das pessoas que morreram. Parte do dinheiro vai também para a construção de estádios de futebol mais seguros, porque os estádios aqui, em Inglaterra, estão todos muito velhos. Acho que foi essa a causa da tragédia. Não foi "hooliganismo" como da outra vez. O pior de tudo é que as pessoas que morreram foram as mais inocentes. Foram as pessoas que chegaram mais cedo ao estádio e tinham bilhete. C'est la vie!
LPA - Ainda sobre as suas canções. Como se sentiu por ter de pedir autorização para regravar "Yesterday" para o álbum "Give My Regards To Broadstreet"?
Paul - Ah! Ah! Ah! Bem, senti-me um pouco pateta, na verdade, por ter de pedir autorização. Mas é o que acontece quando os direitos das canções pertencem a outras pessoas. Eles também só me pediram uma libra. Mas devo confessar que isso é muito mais do que eu devia pagar. É mais do que eu necessitava de pagar. Mas o que quer? Quando éramos muito novos, nos Beatles, e assinámos o contrato, pensávamos que as canções só existiam no ar. Muita gente pensa ainda assim. Há muita gente que ainda não compreende que uma canção é como que uma casa...
LPA - ... é um investimento...
Paul - Pois. Os direitos de uma canção... é como ter uma casa, mas nós não pensávamos assim, nem nunca nos apercebemos disso. Aquilo que recebíamos eram apenas os "royalties". Achei sempre que era uma espécie de gorjeta. Éramos os porteiros de hotel. Toda a gente nos dava gorjetas. Foi um disparate da nossa parte, mas é daquelas coisas...
LPA - Falemos um pouco do seu álbum russo...
Paul - Foi emocionante gravar o álbum em dois dias. Hoje, leva-se tanto tempo a gravar um disco com os computadores mas, aquele, numa semana, estava completamente feito. Foi tudo muito espantoso. É um álbum cheio de energia, parece uma festa! E é isso que o rock devia ser: uma festa espontânea.
LPA - O que vai fazer com as faixas que ficaram de fora?
Paul - Não sei bem! Guardá-las na gaveta. Mas para mim, o principal foi poder fazer um gesto de amizade em direcção ao bloco russo...
LPA - Eu ouvi a sua entrevista na BBC a responder a ouvintes soviéticos...
Paul - Isso foi o melhor. Foi óptimo gravar o disco e escrever a mensagem na contracapa do álbum. Mas foi muito bom poder enviar a minha mensagem pela BBC. Foi uma mensagem em directo de alguém do ocidente para as pessoas na União Soviética. Eu sempre quis dizer "nós aqui queremos a paz" e tenho a certeza de que eles lá também querem.
LPA - O que pensa de Margaret Thatcher?
Paul - Fez coisas boas e fez coisas menos boas...
LPA - Isso é uma resposta diplomática...
Paul - Não, é mesmo isso que eu penso. Acho que ela fez coisas óptimas! A Inglaterra atravessava um período de grande confusão quando ela chegou ao poder e ela fez o trabalho difícil de endireitar o país. "Apertar o cinto" como se costuma dizer. A economia, agora, está mais forte. Os americanos também têm uma economia forte, mas devem muito dinheiro aos japoneses, têm um défice enorme. Pelo menos, ela não fez aqui as coisas assim. Não pediu só dinheiro emprestado. Mas ela também é muitas vezes acusada de não se ralar com nada, de ser só a "dama de ferro" e eu acho que isso é mau, porque há muita gente desempregada.
LPA - Ela não gosta da Europa...
Paul - Não é ela que não gosta da Europa. São os ingleses que não gostam da ideia de se juntarem à Europa. Quando os americanos começaram a cá vir, diziam que estavam a visitar a Europa e os ingleses ripostavam: "Isto não é a Europa, a Europa só começa depois do mar". Nós somos muito insulares. Eu, pessoalmente, não sou um grande partidário destas ideias, mas...
LPA - Voltando à música. Tem uma banda nova. Como se chama?
Paul - Por enquanto não tem nome. Temos várias sugestões, porque somos um grupo muito pateta, o que é muito divertido. Querem chamar-se uma série de nomes parvos, mas nenhum deles ainda suficientemente bom. Por enquanto, só piada.
LPA - Além de Hamish Stuart (guitarra) e de Chris Whitten (bateria) teve de chamar Wix para ajudar Linda nas teclas.
Paul - Eu precisava de um teclista que fosse bom também em computadores. Hoje em dia, as teclas resumem-se, praticamente, a isso. É preciso ser-se quase um técnico para compreender melhor os instrumentos. É por isso que não é a Linda que toca as teclas todas. Ela é uma teclista muito incente, não sabe muito, não teve treinos técnicos. Mas eu gosto assim. Não acho que uma pessoa que tenha tido treinos enormes seja automaticamente um bom músico.
LPA - Já tem ideias para a digressão?
Paul - Algumas. Estamos a começar a escolher as canções. A selecção é baseada no álbum novo e em material dos Beatles, Wings e do meu próprio a solo. O problema é que temos canções a mais por onde escolher.
LPA - Que vai cantar dos Beatles?
Paul - Sobretudo as que escrevi.
LPA - "Yesterday"?
Paul - Sim. Talvez façamos uma versão parecida com o disco original, com cordas.
LPA - "I Saw Her Standing There?"
Paul - Sim, vamos tocar essa.
LPA - "Can't Buy Me Love"?
Paul - Essa também.
LPA - "Jet?"
Paul - Essa também. Temos muitas canções. Fiz o seguinte: tentei imaginar-me na pele de um fã de Paul McCartney que tivesse comprado bilhete para um concerto. O que é que gostaria de ouvir? Aí escrevi uma lista de 35 canções, só dos Beatles e isso já eram canções a mais. Depois comecei a juntar as coisas dos Wings como "Maybe I'm Amazed", "Jet", "Listen To What The Man Said" e nunca mais acabava. Por isso, temos muitas canções por onde escolher. Temos muito trabalho pela frente.
LPA - Qual foi a maior mentira que alguma fez foi dita ou escrita sobre si?
Paul - Quem geralmente mente a meu respeito são os jornalistas ou os escritores de biografias. São pessoas que querem ganhar dinheiro fácil. É a coisa mais fácil de fazer. Apanham recortes de imprensa, só lêem mentiras sobre mim e inventam as suas próprias. Conheço um escritor que fez uma peça de sucesso chamada "John, Paul, George, Ringo e Best". Quando lhe perguntei onde é que se tinha informado para escrever a peça, respondeu-me que fora nos recortes de jornais. É onde toda a gente se informa. Mas não há nada que eu especialmente odeie sobre o que escrevem a meu respeito. Só pequeninas coisas que eu acho que são estúpidas.
LPA - Por exemplo?
Paul - Agora que John está morto, aos olhos das pessoas, isso torna-o "o mais importante dos Beatles", "o único dos Beatles", e os outros, nós os três, só éramos "três gajos". Isso não é verdade. Eu compus e trabalhei com John e por isso sei exactamente quem fez o quê e tínhamos uma relação muito de igual para igual. Isso é uma dessas pequenas coisas. Não me importo, compreendo, mas às vezes aborrece-me. Às vezes dizem que eu sou "forreta" com o dinheiro...
LPA - E isso não é verdade?
Paul - Não, não é verdade. É só o que eu posso dizer, mas uma vez que o boato se espalha, é muito difícil acabar com ele. Metem-se comigo por causa da semanada que dou aos meus filhos. Eu venho de uma família normal da classe trabalhadora, que é a melhor classe do mundo, são as melhores pessoas do mundo. Já conheci todos os tipos de pessoas e aquelas de quem mais gosto são os trabalhadores, são o povo. São as pessoas mais brilhantes, mais divertidas, são as melhores companhias. Quando surgiu o problema da semanada, pensei que se lhes desse muito dinheiro eles iam para a escola dizer "o meu pai é mais rico do que o teu, eu tenho mais dinheiro do que tu, olha o que eu tenho". E isso eu não queria. Pedi-lhes pois que descobrissem quanto é que os amigos deles tinham e eles responderam-me: "uma libra, uma libra e meia". E eu disse: "está bem, então levam duas libras. Podem ter mais do que os vossos amigos, porque provavelmente eu tenho mais dinheiro do que os pais dos vossos amigos, mas não vos quero mimar com dinheiro". Eu sei quão fácil é estragar as crianças com mimos de dinheiro. Mesmo em Liverpool, conheci crianças mimadas que tinham bicicletas antes de toda a gente e faziam gala disso. Apanhavam cada uma! Eu não gosto que os meus filhos tenham problemas na escola por causa disso. Dei-lhes uma semanada razoável, mas foi logo dito na imprensa que eu era um forreta. Disseram também que eu não tinha pago o sufiente a Denny Lane que foi dos Wings. À pessoa que escreveu isso convidei-a a ir aos meus escritórios ver as facturas que provam ter eu pago um milhão de libras, não dólares, um milhão de libras ao Denny. Trata-se de uma questão de acreditar ou não em mim. Isto não é ser forreta... Quantos músicos é que conhece que já tenham recebido um milhão de libras?
LPA - Não muitos...
Paul - Estes boatos aparecem e eu não gosto particularmente deste. Às vezes, dizem o contrário. Passei a maior parte da minha vida a tentar não ser extravagante. Não quero milhões de carros, sapatos de salto alto, fatos de lamé. Eu não sou assim, não me dá gozo nenhum, não me interessa. Gosto de prazeres bem mais simples. Acredito mesmo que as melhores coisas não se compram. Eu sou assim. Acredito genuinamente na Natureza. O que há de mais maravilhoso é estar lá fora (aponta pela janela, onde se vêm pavões pelos jardins) e é de graça. Então ouvi uma história na rádio inglesa - são 20 milhões de ouvintes - em que eu tinha ido a uma loja comprar um sobretudo de caxemira. Uma loja que eu nem conheço, nem sei onde fica. Tinha ido comprar o sobretudo e, como hesitasse na cor, comprei todos os que havia. Isto não é nada o meu géneto. Telefonei para a rádio, escrevi ao director, queixando-me. Eu não preciso de publicidade, vocês também não. O director respondeu-me que não tinha sido com má intenção. E eu não tive outro remédio senão rir-me. Mas eu não gosto da maneira como me constróem uma imagem que não existe. Há um livro que foi escrito agora sobre mim em que o último capítulo se chama "McCartney alone". E então inventam em que eu sou uma pessoa megalómana, homem de negócios... só por causa de eu me ter saído bem nos negócios. É verdade que tive sorte nos negócios, mas também trabalhei muito. Dizem que estou sozinho, que não tenho amigos. Que quer que eu faça? Trago cá esses jornalistas e digo-lhes "por favor acreditem em mim, eu tenho amigos, os meus filhos têm amigos"?. Sabe como é. Quando se atinge um certo grau de fama, inventam tudo. Você viu como aquele tipo Goldman inventou tudo sobre John Lennon? Só para ganhar dinheiro...
LPA - Ainda existe algum segredo sobre a sua vida?
Paul - Acho que não, a maior parte já veio cá para fora. Já não há esqueletos escondidos no armário.
LPA - Como se chama a canção que deu a Linda em 1987?
Paul - Chama-se "Linda".
LPA - Você comprou a edição toda...
Paul - A minha empresa, a MPL, comprou uma grande companhia de "publishing" nos Estados Unidos e entre as canções estava uma chamada "Linda" que foi êxito em 1963 quando Jan and Dean fizeram uma versão surf. O original era mais calmo, do tipo Bing Crosby. Na verdade, esta canção, foi feita para a Linda, porque o pai dela era o advogado do homem que a compôs (Jack Lawrence). Era o pagamento de um trabalho. O pai de Linda disse-lhe que não era preciso dinheiro, que preferia que escrevesse uma canção para a filha. Foi o que ele fez. Dezenas de anos depois, Linda fez 45 anos e eu pensei... O que se dá a uma pessoa que faz 45 anos? Lembrei-me de um disco de 45 rotações. O próximo é de 78... Resolvi fazer uma dúzia de 45 rotações numa caixinha. Então fiz uma gravação especial com uma grande orquestra de swing, tipo Frank Sinatra. No lado B, é a mesma canção numa espécia de versão latina. Gravei a orquestra de manhã, à tarde pus a voz, à noite o disco foi para a fábrica. Fiz uma capa especial com uma fotografia de Linda em que ela parece uma estrela de cinema dos anos 40, tipo Laureen Bacall ou uma qualquer dos filmes de Humphrey Bogart. Escrevi na contracapa uma pequena nota. "o seu marido deseja-lhe um Feliz Aniversário" e dei-lha. "O que é isto, uma caixa de discos?", perguntou com uma cara de... À primeira vista parecia um presente insignificante. E eu disse-lhe: "Não, vê lá dentro". E ela adorou. E o pai dela também, que estava cá para a festa de anos. Adoraram, ficaram loucos! E ouvimos o disco toda a noite. Nunca o editámos. Talvez um dia... mas ela é que tem de o editar, porque é dela. Dei-lho. Por isso, tem de falar com ela se alguma vez o quiser ouvir....
LPA - E sobre as gravações dos Beatles na BBC. Ouvi dizer que a EMI quer editar uma série de discos.
Paul - Sim, é verdade! Há uma série de gravações que são bastante interessantes. Não têm muita qualidade, mas são interessantes. Há também um álbum bom que é "The Sessions Album" que a EMI tentou editar...
LPA - É este? (mostro-lhe um exemplar).
Paul - Mas isto são discos-piratas! Este é mesmo o "Sessions"! E este é o meu "Cold Cuts"! Meu Deus! Conseguem tudo! O meu álbum e com os meus desenhos impressos! Isto é incrível! Que golpe! Nunca tinha visto isto! Nem tenho coragem para olhar! Isto é um crime!
LPA - Mas é bom para os coleccionadores...
Paul - É bom para os coleccionadores, mas não é bom para mim! Não posso ver estas coisas... Isto é difícil para mim! É como se algum jornal publicasse os seus artigos como se fossem dele. Está a perceber? Você também não gostaria que lhe fizessem isso. Compreendo que os fãs gostem destes discos como os que você tem, mas... Olhe, faço vista grossa. Finjo que não reparo. Nunca os tinha visto antes de você mos mostrar. Temos de terminar. Qual é a sua última pergunta?
LPA - A última pergunta é outra vez sobre Portugal. Há algumas semanas pediu nomes de poetas portugueses para traduzir canções suas...
Paul - Ah eram portugueses? Pensei que fossem espanhóis. Não admira que os poemas fossem tão loucos...
LPA - Espere lá! Não sei se os portugueses chegaram a fazer alguma coisa.
Paul - São poemas em espanhol. Sei um bocadinho de espanhol. De português nada sei. É para o "Distractions", porque soa bem em espanhol...
LPA - É para a digressão?
Paul - Não, é só porque o meu "manager" me pediu para o fazer. A mim não me agrada especialmente cantar em línguas estrangeiras, mas ele pediu-me...
LPA - Nada de versões em português, então...
Paul - Não. Nem sei se chegarei a fazer a espanhola.
LPA - OK. Estou satisfeito.
Paul - É melhor estar!
FIM
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