Discografia Brasileira
Por Gustavo Montenegro

Apresentação
Matéria Especial Dividida em 3 partes:
[Apresentação]     [1963-1966]     [1967-1970]



Imagine que você vive no Brasil em 1966. Neste início de ano, você aguarda ansiosamente o lançamento do novo álbum dos Beatles, Rubber Soul. Sua estante já tem um lugar reservado ao lado de Help!, Beatlemania, The Beatles, Beatles Again e Os Reis do Ié Ié Ié.

Se você é um leitor da geração 90 ou, mais precisamente, um fã que surgiu após o sucesso de projetos como Anthology ou "1", certamente está se perguntando: "Que discos são esses? Rubber Soul em 1966? Onde estão Please Please Me, With The Beatles, A Hard Day’s Night e Beatles For Sale?"

O que só os fãs mais antigos lembram, pois tiveram o privilégio de viver, é que nos anos 60 a discografia que circulava no país era bem diferente da originalmente lançada na Inglaterra. Eles sabem também que essa não era uma exclusividade nossa. Cada país tinha a liberdade de elaborar seus próprios discos dos Beatles, com capas, títulos e repertórios que julgassem mais convenientes. Países como os Estados Unidos e Japão, por exemplo, criavam edições maravilhosas, que despertam a cobiça de qualquer fã. Neste quesito, o caso do Brasil é um pouco diferente. A gravadora Odeon não primava exatamente pelo bom gosto na hora criar seus exemplares. Entretanto, os discos brasileiros têm suas peculiaridades, pequenos detalhes que os fazem únicos.



DEFEITOS

A discografia nacional já rendeu histórias pra lá de curiosas, algumas delas conhecidas por colecionadores do mundo inteiro. O fato mais intrigante sobre as edições da Odeon, e também o que causou mais polêmica ao longo dos anos, é que alguns discos vinham com imperfeições e defeitos sonoros curiosos. Alterações de velocidade, níveis diferentes de volume entre as faixas e, no caso mais conhecido, até a exclusão de um trecho de uma canção.

Estas falhas ocorriam devido ao fato de que a gravadora brasileira nem sempre tinha os master tapes da Parlophone à sua disposição. Assim, para atender a crescente demanda pelos Beatles, a Odeon se via obrigada a produzir LPs a partir de cópias dos discos originais importados. O problema é que, durante a gravação, se algo alterasse a reprodução do disco matriz, a falha seria diretamente transferida para todas as cópias, da mesma forma como acontecia quando gravávamos nossas fitas cassetes nos anos 80.

Esta prática é o primeiro exemplo do descaso com que os discos dos Beatles sempre foram tratados no Brasil. Casos semelhantes ocorreram quando a discografia inglesa foi introduzida mundialmente nos anos 70, e até as edições em CD receberam um péssimo tratamento da gravadora. Estes lançamentos posteriores guardam suas curiosidades que podem ser, eventualmente, assunto para outro artigo.



NOSTALGIA

O som dos Beatles demorou 1 ano para chegar às lojas do Brasil. Mesmo após a consolidação do sucesso da banda, seus discos ainda saiam com até quatro meses de atraso em relação aos exemplares ingleses. Isso causou uma enorme defasagem na discografia nacional, obrigando a Odeon, em determinado momento, a correr para conseguir acompanhar a discografia inglesa.

Outro fato curioso, e que desperta grande interesse nos colecionadores estrangeiros, é que alguns discos ganharam edições em mono no Brasil, mesmo tendo sido lançados apenas em stereo na Inglaterra. Como o stereo era ainda uma cara novidade no Brasil, acessível somente a poucos, não fazia sentido a Odeon deixar de trabalhar com o som monofônico. Assim, para continuar atendendo a grande fatia do mercado, a Odeon criava edições em mono, transferindo os dois canais do stereo para apenas um.

Mesmo assim, com todas as suas imperfeições, a discografia brasileira dos Beatles tem espaço garantido no coração dos colecionadores. Os mais velhos guardam as deliciosas lembranças do dia em compraram cada LP, cada compacto. Eles têm na memória a imagem das capas-sanduíche que marcaram sua juventude. Para eles é impossível pensar em "Help!" sem aquela introdução James Bond, ou sem a bela tarja vermelha destacando o nome da banda.

Para os mais novos, como eu, a experiência de possuir um artefato original dos anos 60 tem um valor inestimável. Botar um desses para tocar é fazer uma viagem sonora, como se realmente estivéssemos em 64, 65 ou 66, coisa que CD nenhum pode nos proporcionar. Quem se importa com os chiados? Aí é que está o charme! Rock and Roll soa melhor em vinil.



OS DISCOS

Com o passar dos anos, as capas, o repertório e até os defeitos trazidos por estes discos se tornaram curiosidades, artigos de colecionador valorizados no exterior. O que veremos a seguir é uma cronologia completa, comentada, de todos os lançamentos dos Beatles pela Odeon no Brasil.

Matéria Especial Dividida em 3 partes:
[Apresentação]     [1963-1966]     [1967-1970]


Todos os discos lançados originalmente pela Odeon continuaram sendo editados ao longo dos anos, com pequenas diferenças. Alguns discos, principalmente os mais antigos, ganharam supostas edições "estereofônicas". No início da década de 70 eles perderam as famosas "capas-sanduíche" (proteção de plástico), sendo substituídas pelo papel convencional. Hoje, já que estão fora de catálogo, os discos da Odeon só podem ser encontrados em sebos, muitas vezes por preços bem salgados.

Em 1975, com a decisão, desta vez séria, de unificar a discografia dos Beatles pelo mundo, a EMI lançou a "The Beatles Collection" em LP e K7, seguindo todos os lançamentos ingleses e adicionando o álbum americano "Magical Mystery Tour". O único disco brasileiro que sobreviveu foi "Os Reis do Ié Ié Ié", por conter o mesmo repertório. Até a capa vermelha foi mantida.

Em 1988 os discos foram remasterizados para lançamento em CD, K7 e vinil de melhor qualidade. Somente neste ano o LP "A Hard Day's Night" ganhou sua capa original no Brasil, ainda que sem o logotipo da Parlophone. A fabricação dos LPs foi interrompida em 1993, e a pirataria dominou o mercado de fitas K7. Os CDs remasterizados permanecem até hoje, e são eles que encontramos facilmente em qualquer loja.








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