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A Primeira visita aos EUA


Por Guilherme Lentz

INTRODUÇÃO

Quando o vôo 101 da PanAm tocou o solo do aeroporto John F. Kennedy, em Nova York, à 1:20 da tarde do dia 7 de fevereiro de 1964, os mais de três mil fãs presentes foram ao delírio, e a energia daquele momento era só um prenúncio da febre que tomaria os Estados Unidos nas duas semanas seguintes e por muito tempo mais: os Beatles haviam chegado.

A primeira visita dos Beatles aos Estados Unidos é um desses momentos fundamentais da história não só da banda, mas de todo o rock. Por ter acontecido em um momento explosivo como o início dos anos 60, em um país tão importante e em um momento tão mítico, pouco depois do assassinato de John Kennedy, essa visita tem mesmo um papel que extrapola o de fenômeno musical e adquire contornos realmente históricos em um sentido mais amplo.

Felizmente, Albert e David Maysles acompanharam o grupo nessa viagem e registraram tudo com suas câmeras. Na época, esse material foi a base para alguns especiais de TV na Inglaterra, mas nos anos 90, reeditado, restaurado e extendido, foi usado na confecção do sensacional documentário "The first US visit", que chegou a ser lançado em VHS, inclusive no Brasil, laser disc e DVD. Como é comum acontecer, entretanto, esse item ficou pouco tempo em catálogo e logo se tornou uma raridade, desejada por quem não pode adquiri-lo prontamente. Algumas momentos chegaram a ser reutilizados no documentário "Anthology", mas o filme original não deixou de ser objeto de cobiça, pois, além de trazer diversas performances que não estavam disponíveis oficialmente em nenhuma outra fonte, registra com singeleza e competência esse evento crucial para entender o fenômeno Beatles. Agora, marcando os quarenta anos dessa viagem realmente mágica e misteriosa, chega ao mercado de todo mundo a nova edição em DVD do "The first US visit". O lançamento, marcado para 3 de fevereiro nos EUA, deve chegar ao Brasil alguns dias depois, isso se não se repetir a velha história de atraso que todo beatlemaníaco brasileiro conhece bem.



POR QUE ESSA VISITA FOI IMPORTANTE

Talvez o observador contemporâneo, habituado à impopularidade que os EUA ultimamente conquistaram no Brasil devido a certas posturas, estranhe o fato de os Beatles celebrarem tanto a conquista da América, como eles gostam de chamar.

É preciso lembrar, porém, que já nos anos 60 os Estados Unidos eram o maior mercado consumidor de discos do mundo, e certamente seria do interesse de qualquer artista ser bem vendido por lá. Entretanto, o público americano era muito resistente com relação a artistas vindos de outros países. Lá, os Beatles, já sendo unanimidade em todo o mundo, eram praticamente ignorados por ouvintes e gravadoras, e os poucos lançamentos americanos eram feitos por subsidiárias pequenas da Capitol, a poderosa representante local da EMI. Tão logo conquistaram a atenção dos executivos da Capitol, porém, os Beatles foram os primeiros artistas estrangeiros a romper esse bloqueio, emplacando diversos hits nos primeiros lugares das paradas. Não é exagero dizer que o sucesso de diversas bandas inglesas e européias, como U2, Oasis e Cranberries, e mesmo de contemporâneos como os Rolling Stones, em grande parte se deve aos Beatles.

Negócios à parte, eles queriam realmente queriam chegar aos EUA. De lá saíra toda a música que lhes servira de inspiração, de modo que aquela terra adquirira um caráter quase sagrado. Além disso, em algum nível John, Paul, George e Ringo certamente tinham introjetado em si o velho sonho europeu de conquistar "o novo continente", a terra prometida, imagem recorrente em toda a obra do grupo e nas carreiras individuais.

Em 1964, a beatlemania já era realidade em todo mundo, mas a conquista dos Estados Unidos, por esse caráter quase rebelde, transformou-a em um evento histórico, sendo um dos fatores que contribuíram para que os Beatles adquirissem a aura lendária que os cerca. Talvez nada disso tivesse acontecido, não fosse alguns golpes de sorte e a persistência de um ingênuo porém genial Brian Epstein, que não economizou esforços para que os EUA abrissem suas portas aos Beatles. Para isso, o empresário estabeleceu contatos com executivos de gravadoras, produtores de TV, empresas de publicidade e, talvez mais importante, com o próprio Ed Sullivan, o influente apresentador de TV que alavancara Elvis Presley quase dez anos antes e agora estava prestes a se render a uma inimaginável novidade. É uma pena que o DVD não registre esses preparativos, pois eles contam uma história quase tão interessante quanto a visita em si, mas com certeza essa aventura empresarial poderá ser lembrada em outra oportunidade.



POR QUE O DVD É IMPORTANTE

Em primeiro lugar, "The fist US visit", descrito na capa da edição original como "o verdadeiro A hard day's night", é o mais fiel retrato da beatlemania em seu auge, capturando a histeria dos fãs em um momento em que isso ainda trazia prazer aos Beatles, que aparecem sempre divertidos e graciosos, com um carisma ainda sem superação na história do rock.

Também por outros motivos, o lançamento é imperdível, pois tem o melhor material sonoro e visual de várias performances históricas, como as três primeiras aparições no Ed Sullivan Show e o primeiro show em solo americano, no coliseu de Washington. Das duas apresentações no Carnegie Hall, em Nova York, pelo que sabe infelizmente não há registro. Essa é a chance de se ver e ouvir, com ótima imagem e som, clássicos como "I wanna hold your hand", "She loves you", "All my loving" e uma sensacional "This boy", com John, Paul e George dividindo o microfone. Essas apresentações, descontado seu valor documental, servem ainda para pôr por terra o inacreditável mito - espalhado não se sabe por quem, mas provavelmente por alguma banda cover invejosa - de que os Beatles não eram bons ao vivo. Outros momentos de destaque: John, no quarto de hotel, toca na escaleta o que parece ser um início da composição de "Strawberry fields forever"; mais tarde, antes da partida, George improvisa uma divertida canção no violão.

Outras cenas memoráveis estão presentes, como a famosa e hilariante entrevista dada pelos Beatles ainda no aeroporto e a impagável participação deles como co-dj's de Murray the K em seu programa de rádio. É também curioso o espanto dos americanos com as gírias inglesas, que hoje já são totalmente ultrapassadas, o que garante uma diversão extra para o espectador. Temos ainda a oportunidade de ver Brian Epstein em ação, a estréia da nova guitarra Rickebacker de John Lennon durante a apresentação de Miami e inesquecíveis seqüências da banda viajando de trem, o que evoca a seqüência de "I should have known better", uma das melhores do filme "A hard day's night".



LIMITAÇÕES E VIRTUDES

Quem já tinha o VHS ou LD certamente vai querer atualizar sua coleção. Os felizes proprietários do DVD original, porém, não encontrarão tantas novidades, já que não há cenas adicionais. Isso é compreensível em certos pontos, já que seria preciso incluir material de outros DVDs, diminuindo sua força comercial, e inaceitável em outros: a inclusão do ensaio de Miami, por exemplo, que circula em vídeo, era tida como certa e infelizmente não aconteceu. Está prometida, porém, a inclusão de um documentário intitulado "Making Of The Beatles First US Visit", que certamente será muito elucidativo.

Som e imagem, é claro, são restaurados. Porém, esse aspecto não chega a ser positivo. Afinal, uma vez que todas as gravações originais são em mono, é impossível fazer mixagens reais em 5.1 para o DVD. Com certeza os engenheiros responsáveis repetirão velhos e novos truques que têm sido usados em outros lançamentos, como a separação de freqüências e a colocação de eco, especialmente nos canais posteriores do 5.1. Esse tipo de recurso é polêmico, pois tenta mascarar, por questões puramente mercadológicas, as características originais da gravação, que poderia ser restaurada em sua forma primitiva. Certamente esse será um ponto de debate entre os beatlemaníacos de todo o mundo.

Tudo isso, porém, desaparece quando se assiste ao programa, que é não só um petisco beatlemaníaco irresistível como também um excelente documentário, cinematograficamente falando. Sabiamente, os produtores optaram por não incluir narração, de modo que o que se tem é a simples exposição das imagens, em ordem cronológica, com a única exceção da aparição final no Ed Sullivan Show, que foi na verdade realizada antes da primeira apresentação mas só transmitida semanas mais tarde.



PARA ESPERAR A FESTA

Quem ainda não conhece o "First US visit" certamente não está suportando o passar dos dias. Felizmente, para quem quer matar a vontade, há uma grande variedade de produtos no mercado, todos com excelente qualidade e preços dentro do razoável.

O DVD de dois lados "Fun with the fab Four"/"Beatle unauthorized", também disponível como dois discos independentes, traz quase todo o show de Washington, sendo considerado superior ao recente lançamento da mesma apresentação. Traz ainda trechos do "Around the Beatles", shows no Hollywood Bowl e mais.

O DVD duplo "Four historic shows" traz todos os programas de Ed Sullivan de que os Beatles participaram, exceto as aparições de 66, em que simplesmente se transmitiram alguns clipes. Esse é o único lançamento oficial da íntegra dessas apresentações e por isso é mais do que imperdível.

O famoso filme "I wanna hold your hand", conhecido no Brasil como "Febre de juventude" não tem performances dos Beatles verdadeiros, mas é um registro ficcional divertidíssimo da invasão dos EUA.

Finalmente, dentre as muitas publicações sobre o assunto, merece menção a obra "Beatles '64: a hard day's night in America". Nas cinqüenta páginas iniciais, o autor faz um minucioso relato de todo o processo que levou os Beatles até o ponto em que os encontramos na primeira cena de "The first US visit".









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